Café: Fundos compram 2.000 lotes para cada US$ 1,00 centavo de ganho, por Rodrigo Costa
As principais bolsas de ações encerraram a semana com leve alta devolvendo uma parte dos ganhos impulsionados nos Estados Unidos por resultados melhores do que esperados para alguns papéis que tem sido destaque, como o da Netflix.
Na Europa o corte da nota de risco aos títulos italianos, estando no limite do grau de investimento, e um prolongamento do plano de saída do Reino Unido da Comunidade Europeia não impediu que os índices acompanhassem os americanos.
O CRB escorregou nos últimos dias da semana tendo a maior parte dos seus componentes cedido, com exceção praticamente do açúcar, do café e do gás-natural.
O contrato do arábica acumula em um mês ganhos de 26.22%, muito similares aos 28.72% da puxada do açúcar demerara, e ambas commodities estão andando de mãos dadas durante as sessões, aparentemente tendo o açúcar como líder.
Fora a influência do Real, que alguns não creem haver motivo para uma correlação com o açúcar, outro argumento que pode ser usado para explicar o comportamento é que estes dois produtos eram os grandes perdedores do ano, com apostas baixistas dos fundos e que estão sendo cobertas recentemente. A apreciação das últimas quatro semanas praticamente apagou as perdas dos últimos doze meses, ou para ser mais preciso acumula “apenas” uma depreciação ao redor de 4%.
O arábica na sexta-feira deu um pulo desencadeando recompras de quem tem tentando antecipar a queda de Nova Iorque, mas encerrando a sessão de lado – nos últimos minutos assim como o açúcar – enquanto o robusta fechou nas mínimas, alargando a arbitragem entre os contratos da ICE dos dois lados do Atlântico para US$ 46 centavos por libra – ou 15 centavos mais aberta do que há exatos trinta dias.
A alta do terminal é um alívio para todas as origens e a recuperação do preço traz o alento de devolver a remuneração aos países produtores permitindo inclusive um fluxo de negócios elevado no Brasil – onde jocosamente se comenta que finalmente “a safra entrou”.
Se o movimento conseguir se manter e se fortalecer por outros trinta dias ajudará a atrair os cafés que começarão a fluir com mais volume da safra 18/19 da América Central, Colômbia, África e na Ásia.
Os diferenciais baratearam um pouco mais nas ofertas aos consumidores finais, em alguns casos mais do que podem ser justificados, mas em linha geral refletindo uma reposição menos cara.
Os estoques de café nos Estados Unidos cederam 226,241 sacas em setembro, para 6,438,220 sacas, o mais baixo em vinte meses – espelhando a procura por grãos mais baratos frente aos diferenciais que estavam salgados.
Na Europa a European Coffee Federation apontou para um acréscimo de 247,475 sacas em maio, totalizando 11,375,251 sacas - o dado tem sempre um atraso grande.
No relatório dos comitentes, divulgados pelos CFTC, os fundos mostraram uma redução de 21,742 lotes de suas posições vendidas e 3,586 lotes da comprada, um volume líquido de 18,156 contratos que gerou uma alta de US$ 4.50 centavos no período reportado.
Em 18 de setembro os mesmos fundos tinham 113,412 lotes vendidos (líquido) e o mercado na data fechou a US$ 95.85 centavos por libra. Em suma foram 45 mil lotes comprados para uma alta acumulada de US$ 21.80 centavos por libra.
Entre a última quarta e sexta-feira provavelmente outros 10 mil lotes foram recomprados para uma puxada de US$ 4.45 centavos adicionais – em linha com a necessidade de compra de 2,000 lotes para o ganho de cada US$ 1.00 centavo das cotações.
Os baixistas dizem não haver mudança no quadro de oferta global para justificar a firmeza, ainda ais frente às safras volumosas chegando tanto no arábica e ainda mais do robusta, explicando a própria arbitragem mencionada acima.
O clima ideal para as lavouras brasileiras com um Real mais vantajoso que no começo de 2018 deve ser considerado na estratégia de vendas futuras de quem tem capacidade de se organizar.
A volatilidade implícita e a histórica das recentes sessões desenham a incerteza sobre a manutenção das cotações nos níveis atuais, com apostas de que podemos ver NY cair para próximo de US$ 110 centavos, ou tomar outro susto de alta para surpreender e torcer o braço dos comerciais que não tem acreditado na continuação do rally.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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