Café: Comerciais comprados um Brasil e fundos vendidos, por Rodrigo Costa
Há dez anos a queda do Lehman Brothers desencadeou uma crise sistêmica forçando os bancos centrais das maiores economias do planeta a começar planos de estímulos monetários que inundaram os mercados com dinheiro barato para conter prolongadas recessões.
Vários analistas criticam, entretanto, a demora dos bancos centrais em enxugar a liquidez, mantendo seus balanços ainda grandes demais e, no caso dos Estados Unidos, juros relativamente baixos frente ao crescimento econômico e principalmente ao mercado de trabalho onde há mais vagas oferecidas do que pessoas desempregadas.
Talvez o efeito mais perigoso tem sido o permanente estado-anestésico dos investidores com notícias potencialmente negativas, desde a saída da Grã-Bretanha da União Europeia à recente guerra comercial de Donald Trump. Outro é a falta de opções em investir, dado o volume de dinheiro disponível, concentrando apostas em alguns mercados e/ou papéis com muitos investidores usando estratégias passivas de alocação de recursos.
Provando estarem errados os que acreditavam em blefe, Trump anunciou uma tarifa adicional de 10% sobre US$ 200 bilhões equivalentes em importações da China, a serem incididas já a partir de segunda-feira, dia 24 de setembro, e prevendo aumentar para 25% a partir de janeiro de 2019. Donald disse que dependendo da retaliação pode considerar outros 250 bilhões de produtos a serem inclusos, o que praticamente cobriria todo o volume importado do país asiático.
Curiosamente foram excluídos dos produtos alguns itens da Apple, levantando uma suspeita sobre a capacidade do líder do executivo dos Estados Unidos em implementar a alíquota para todo o volume prometido, pois então afetará não apenas Wall Street, mas Main Street (os consumidores). Vale registrar que próximo de 15% do que a América importa da China são telefones celulares, sendo o IPhone o principal, seguido por computadores (9% da pauta) e equipamento de telecomunicações (7%).
Os mercados deram de ombros para a notícia e o S&P500 fez uma nova máxima histórica, o Dow Jones fechou no mais alto patamar já registrado, e os índices Europeus, Asiáticos e até o IBOVESPA tiveram uma semana de ganhos significativos.
A queda do índice do Dólar (DXY) ajudou quatorze dos dezenove componentes do CRB em fechar no verde, e o café depois de fazer uma nova mínima recuperou quase US$ 5 centavos por libra – mesmo assim encerrou abaixo de US$ 1.00 nas últimas seis sessões.
O Real brasileiro firmando para próximo de R$ 4.00, faltando duas semanas das eleições, deu uma contribuição para o arábica, mas a necessidade de venda dos países produtores dos suaves com o começo da colheita e o sentimento negativo que impera desde novembro de 2016 não anima os surrados altistas.
No relatório dos comitentes divulgado pelo CFTC na sexta-feira os fundos bateram o recorde de suas posições vendidas, tendo o equivalente a 43 milhões de sacas short e os especuladores que tem posição comprada não desfizeram das apostas mesmo com as novas quedas. As casas comerciais, como torradores e trades, também registraram um novo recorde de posição, no caso comprada, em 45 milhões de sacas – basicamente toda a produção brasileira da variedade, segundo a CONAB.
Quem estará certo? Como tudo é timing no curto-prazo parece que os vendidos ainda têm argumento para não mudarem seu posicionamento, já olhando para o médio/longo os comprados fazem certo em manter/estender o máximo que puderem suas coberturas.
Com as cotações internacionais machucando a maior parte dos produtores, não seria surpresa os parques cafeeiros começarem a perder um pouco do vigor, seja por menor uso de fertilizantes ou menores cuidados que podem provocar eventuais pragas. Já há alguns comentários sobre ferrugem em Honduras, muito embora por ora controlada, mas se a remuneração for comprometida, o quadro pode deteriorar em algum momento.
No Brasil o clima favorável aponta para a abertura de uma nova florada, a principal, e o mercado ficará de olho para ajustar suas expectativas. Hoje o consenso é de que o ano-safra de 2019/2020 ainda terá um superávit mundial, não as atuais 8.6 milhões de sacas de 18/19, mas talvez metade disto.
Eu, particularmente, acredito que o volume de sobra pode ser ao redor de apenas 2 milhões de sacas apenas (em 19/20) e olhando para 2020/2021 o déficit pode ser de quase 10 milhões de sacas, mesmo se a colheita brasileira for de 58 milhões de sacas – um pouco cedo para extrapolar tanto, mas gosto do exercício.
O fechamento da semana, a melhora do real e a enorme posição dos fundos devem provocar uma reação positiva do terminal, podendo elevar as cotações em uns US$ 10 centavos/libra, se a moeda brasileira não voltar a afundar.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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