Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) - As preocupações com o cenário eleitoral doméstico fizeram com que o dólar superasse 1 por cento de valorização nesta quinta-feira e batesse a máxima recorde do Plano Real, ao terminar próximo dos 4,20 reais.
Assim, o câmbio terminou na contramão do exterior, onde uma busca pelo risco favoreceu o avanço de divisas de países emergentes.
O dólar avançou 1,21 por cento, a 4,1957 reais na venda, maior nível da moeda desde sua criação. Até então, o recorde era de 21 de janeiro de 2016, quando terminou em 4,1655 reais.
Neste mês até agora, o dólar já subiu 3,03 por cento ante o real. Nesta quinta-feira, marcou a máxima de 4,2069 reais e a 4,1245 reais na mínima do dia, logo depois da abertura dos negócios. O dólar futuro tinha alta de cerca de 0,79 por cento.
"Dúvidas sobre a saúde de Bolsonaro e a expectativa com o Datafolha de amanhã redobraram a cautela dos agentes", comentou um operador de câmbio de uma gestora local.
Na noite passada, o líder das pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro (PSL), passou por nova cirurgia e voltou para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Assim, o candidato deve ficar de fora de "agendas de rua" ao menos no primeiro turno da campanha.
Os investidores temem que um candidato menos comprometido com o ajuste fiscal ganhe a disputa pela Presidência em outubro.
O mercado aguardava ainda novas pesquisas de intenção de votos, com destaque para o Datafolha na sexta-feira depois do fechamento dos mercados no Brasil. Os dados para esse levantamento estão sendo colhidos já nesta quinta-feira.
Com o nervosismo eleitoral, o mercado doméstico acabou se descolando no exterior, que teve dia de busca pelo risco, após a Turquia elevar os juros e os dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos não reforçarem apostas de subida mais intensa dos juros no país.
"Se o núcleo da inflação não melhorar significativamente no próximo ano, isso resultaria em ritmo ainda mais gradual de elevação das taxas", comentou o analista da gestora CIBC Andrew Grantham, em nota.
Juros elevados nos Estados Unidos têm potencial de atrair recursos aplicados em outras praças financeiras, como a brasileira.
Na véspera, os Estados Unidos convidarem os chineses para retomar as conversas comerciais, no momento em que Washington se preparava para intensificar a guerra comercial entre os dois países com tarifas sobre 200 bilhões de dólares em bens chineses.
O dólar caía ante divisas de países emergentes, com destaque para a lira turca, após o banco central do país subir os juros para 24 por cento. Também perdia força ante outras divisas fortes.
O Banco Central brasileiro ofertou e vendeu integralmente 10,9 mil swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, rolando 4,360 bilhões de dólares do total de 9,801 bilhões de dólares que vencem em outubro.
Se mantiver essa oferta diária e vendê-la até o final do mês, terá feito a rolagem integral.
(Edição de Patrícia Duarte e Iuri Dantas)
Mercado vê folga de R$18 bi para meta de déficit primário em 2018, aponta Prisma
BRASÍLIA (Reuters) - O mercado melhorou novamente a projeção para o rombo primário do governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência) em 2018, com folga de quase 18 bilhões de reais em relação à meta estabelecida para o ano, apontou relatório Prisma Fiscal divulgado nesta quinta-feira pelo Ministério da Fazenda.
Segundo mediana dos dados coletados até o quinto dia útil deste mês, a estimativa agora é de déficit primário de 141,039 bilhões de reais em 2018, melhor que o saldo negativo de 148,172 bilhões de reais calculado antes.
A projeção, com isso, passa a embutir sobra ainda maior em relação à meta fixada pelo governo, de rombo de 159 bilhões de reais. Membros da própria equipe econômica vêm ressaltando que o dado deve fechar 2018 melhor que o esperado, ajudado por bilionários recursos empoçados em ministérios.
O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, justificou que embora o dinheiro tenha sido liberado para pagamento, não está sendo executado pelas pastas por uma série de amarras e vinculações. Em agosto, ele estimou economia de 14,5 bilhões de reais nessa frente.
Para 2019, a projeção dos economistas passou a ser de déficit primário de 123,808 bilhões de reais, com pouca alteração em relação ao patamar de 123,288 bilhões de reais visto no mês anterior, informou o Prisma. O resultado também segue dentro da meta de saldo negativo em 139 bilhões de reais para o ano, no que será o sexto consecutivo que o país não consegue economizar para pagar juros da dívida pública.
Em relação à dívida bruta, as contas ficaram praticamente estáveis. Para 2018, os economistas calcularam em 76,10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), sobre 76 por cento anteriormente. Para o ano que vem, estimaram que subirá a 78,12 por cento do PIB, sobre 78,09 por cento visto antes.
Peso argentino fecha em queda com liquidez após leilão de títulos
BUENOS AIRES (Reuters) - O peso argentino registrou uma forte queda nesta quinta-feira por compras privadas de dólares, resultado de coberturas ante a liquidez do último leilão de Letras del Tesoro (Letes) e sem que a intervenção do banco central da Argentina ajudasse a acalmar a persistente demanda por moeda estrangeira, disseram operadores.
"Por enquanto, o dólar vai continuar subindo, já que a pouca oferta de exportadores não consegue suprir a demanda de bancos, empresas e investidores, que vazem uma cobertura antecipada para a semana que vem, quando vencem os 'Lebac' na terça-feira 18, e não se sabe com exatidão ainda quem continua ou cancela seu investimento e passa para a moeda norte-americana", disse o ABC Mercado de Cambios.
O peso argentino cedeu 3,51 por cento, para 39,55/39,90 por dólar, logo depois de ter perdido 1,4 por cento na quarta-feira. A moeda acumula uma queda de 7,27 por cento em setembro e arrasta 53,26 por cento de perda em 2018.
Para acalmar a demanda, o banco central vendeu no fim do pregão quase 50 milhões de dólares entre 39,75 e 39,85 pesos por unidade, disseram operadores.
"A licitação de 'Letes' foi fraca (...) por causa da taxa e porque não renovaram o total”, disse um analista da Delphos Investment. A Argentina ofertou 'Letes' no dia anterior por um total equivalente a 1.868,6 milhões de dólares, cerca de 70 por cento do vencimento.