Fundamento pesando sobre o terminal, por Rodrigo Costa
As bolsas de ações tiveram uma performance bem positiva na semana que se encerrou, com os índices americanos sendo ajudados pelos resultados do segundo trimestre das empresas que até agora vieram acima da expectativa em 70% dos papéis que compõe o S&P500.
O índice de volatilidade, VIX, caiu consistentemente voltando ao nível do começo de fevereiro, demonstrando maior conforto dos investidores e devolvendo “segurança” para os algoritmos voltarem a empurrar para cima os ativos de risco.
As commodities também apreciaram com as matérias-primas energéticas liderando os ganhos influenciadas pelo fim do acordo dos Estados Unidos com o Irã e levando o CRB para o mais alto patamar desde 31 de julho de 2015.
O café não conseguiu segurar os ganhos da semana retrasada e Nova Iorque voltou a negociar abaixo de US$ 120.00 centavos por libra-peso, empurrado pela proximidade da chegada da safra brasileira e também pela disponibilidade relativamente confortável de outras origens.
Londres acompanhou o movimento escorregando para o meio do intervalo que vem operando desde novembro de 2016.
Os participantes do Seminário de Café em Santos seguiram com bastante atenção as palestras apresentadas, principalmente as que tinham foco na influência dos fundos no mercado futuro e as que deixaram transpirar a oferta e consumo mundial.
Juntando ao tema do evento as conversas dos corredores e das reuniões que antecederam o encontro, eu diria que os superávits do atual ciclo e do de 18/19, assim como um ligeiro potencial de uma nova sobra em 19/20, deixam pouca expectativa para uma melhora acentuada das cotações.
Ou seja: entre a narrativa de que os fundos são os responsáveis pelas baixas e aqueles que acreditam que o mercado futuro apenas reflete o fundamento, o último parece ter prevalecido, o que é um bom sinal já que o contrário tornaria o instrumento de hedge sujeito ao abandono dos agentes.
Ao mesmo tempo eu diria que uma baixa muito acentuada que, por exemplo, leve o contrato “C” abaixo de US$ 100.00 centavos por libra parece bem improvável, salvo uma depreciação ainda maior do Real Brasileiro para, digamos, R$ 4.20 ou mais.
O volume de vendas que aguarda uma puxada do terminal, como o demonstrado no Commitments of Traders de 1º de maio, segue como um peso e um bom termômetro de que a safra brasileira de 18/19 ainda precisa ser vendida em maior volume para, então, dar folego ao terminal.
Por falar do tamanho da safra, o sentimento compartilhado no Guarujá foi de que o conilon pode surpreender e a colheita finalizar com mais de 17 milhões de sacas, o que adicionadas as 45 milhões de sacas do arábica elevam o número geral para 62 milhões de sacas no Brasil.
Embora os números acima não sejam consensuais, percebi um aumento na média da safra entre os que antes estavam anteriormente mais cautelosos – entretanto temos de esperar o grosso da colheita começar para apreciarmos com mais cuidado.
Teremos um segundo semestre bem interessante com um novo ano-safra bem menos difícil (dedos cruzados) de se trabalhar do que o anterior e com o cenário político gradativamente dando sinais mais claros no Brasil, eventualmente atraindo novamente o capital estrangeiro em um momento onde os baixistas no café podem também começar a rever suas apostas.
Até lá também tem o inverno no Brasil, aparentemente o último argumento dos altistas, e para o curto-prazo precisamos ver o contrato de julho em Nova Iorque segurar acima de US$ 116.90 centavos por libra para evitar o rompimento de US$ 115.30.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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