Mesmo com chuvas nas próximas semanas, déficit hídrico não deve ser revertido na Argentina; situação pode piorar em 18/19
O panorama crítico em matéria de chuvas que vem sendo registrado na Argentina desde o início da primavera, gerando complicações para o plantio, deve continuar até o restante do verão, o que pode implicar em uma diminuição nas previsões de safra.
A curto prazo, as chuvas ocorridas no último final de semana não ajudaram a repor o estado de estresse hídrico que várias áreas de milho já estão sofrendo.
Na Zona Núcleo, "em vez de chuvas generalizadas, o que era aguardado para os dias 8 e 9 de dezembro, foi registrado um calor intenso que superou os 35°C", disse o Guia Estratégico Para o Agronegócio (GEA) da Bolsa de Comércio de Rosario (BCR).
Da mesma forma, o Escritório de Risco Agropecuário (ORA) indicou que, na maior parte da região dos Pampas, os registros de chuva foram menores do que 10mm.
Mais áreas em seca
Como consequência, "na região do milho da zona núcleo, as armazenagens atuais de água no solo se classificam como escassas, aparecendo recentemente áreas ocupadas por reservas deficitárias", informou o ORA.
O escritório também acrescentou que se observa uma diminuição generalizada de água no solo devido às escassas chuvas na semana, a alta demanda atmosférica por altas temperaturas e do cultivo por seu estado de desenvolvimento.
O ORA detectou um aumento da área com armazenagem de água classificada como escassa (menos de 20% da água útil) na zona núcleo e algumas áreas que aparecem com déficit e seca, como o centro-sul de Córdoba.
Médio prazo
A maior parte das localidades, segundo o ORA, devem seguir com risco de déficit alto ou muito alto nos próximos 15 dias. Isso significa que, mesmo com chuvas normais nas próximas duas semanas, os níveis deficitários atuais de umidade no solo não devem sem revertidos.
O climatologista do GEA, José Luis Aiello, previu que as chuvas devem ser escassas: "nos próximos 15 dias as chuvas estarão abaixo do normal na área central".
Longo prazo
Pensando nos próximos meses, o ORA destacou que se espera a manutenção do resfriamento do Oceano Pacífico Equatorial, com 73% de chances do desenvolvimento de uma fase de La Niña, que traria chuvas normais ou inferiores ao normal no centro-leste do país; e temperaturas superiores ao normal sobre Cuyo, sul de Córdoba e oeste de Buenos Aires; e normais ou superiores ao normal no Noroeste Argentino, norte e leste de Córdoba, Sul de Santa Fe, centro-leste de Buenos Aires e região patagônica.
A probabilidade para o verão é de que as chuvas inferiores ao normal representem 40% do total, enquanto a temperatura média ficaria acima do normal também com uma probabilidade de 40%. O ORA acredita que o conjunto desses dois fatores pode gerar uma safra condicionada por uma oferta de umidade escassa e um nível de consumo hídrico superior ao normal.
Segundo O GEA, a Zona Núcleo ainda precisa plantar 700 mil hectares: 50% do milho tardio, 40% da soja de segunda etapa e 2% da soja de primeira etapa.
Seca por vários anos?
Paralelamente, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA) divulgou seu boletim climático no qual o climatologista Eduardo Sierra confirma sua previsão de que o efeito mais duro do La Niña não seria na atual safra, mas sim a partir da safra 2018/19.
Sierra sinaliza que a existência de reservas hídricas altas, deixadas pelas últimas safras, compensará a redução das chuvas em 2017/18, mitigando os possíveis danos nos cultivos. Contudo, este quadro não será possível na próxima safra.
Para o climatologista, a América do Sul está diante de uma mudança de fase positiva em matéria de chuvas para uma fase negativa, que pode se estender durante várias safras, o que fará com que os produtores repensem estratégias produtivas. Para a Argentina, o plantio de cultivos tardios seria uma alternativa para aproveitar os meses mais úmidos do verão.
Tradução: Izadora Pimenta
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