O Sudeste Asiático como rota alternativa à China, por Marcos Sawaya Jank

Publicado em 18/09/2017 15:30

Aproveitando a missão do presidente Temer à China, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, realizou uma missão a Malásia, Cingapura e Vietnã, no Sudeste Asiático. Há um ano o ministro Blairo Maggi visitou quatro países da região.

Quando se fala em Ásia no Brasil, todo o mundo pensa em China, tamanha a influência que esse gigante exerce hoje na geopolítica, no comércio e nos investimentos globais. Quando não é a China, as nações asiáticas mais presentes no imaginário brasileiro são a Índia e o Japão.

Mas no campo do comércio quem, de fato, rivaliza com a China é a desconhecida Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), um bloco formado por países que somam 640 milhões de habitantes e um PIB de US$ 2,6 trilhões que cresce 6% ao ano: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia, Brunei, Camboja, Laos, Vietnã e Mianmar.

Basta dizer que hoje exportamos US$ 35 bilhões para a China, mas 75% da pauta é composta por só duas commodities: soja e minério de ferro.

Já a Asean compra US$ 11 bilhões do Brasil, mas a pauta é bem mais diversificada, ainda que fortemente concentrada no agronegócio: soja e derivados, milho, açúcar, algodão, carnes, celulose e outros.

O potencial dos países da Asean para comércio e investimentos do Brasil é evidentemente inferior ao da China, mas é mais fácil fazer negócios naquela região.

As oportunidades são imensas. Por exemplo, as importações totais de produtos agropecuários e alimentos da Asean passaram de US$ 30 bilhões para US$ 90 bilhões ao ano nos últimos dez anos, superando o Japão e perdendo apenas para a China, que importou US$ 120 bilhões.

O Brasil responde por apenas US$ 6 bilhões anuais, valor muito pequeno que nos posiciona atrás de EUA, China e Austrália como supridor.

Trata-se de região com alto potencial para diversificar produtos e mercados-destino, adicionar valor e marcas aos produtos exportadores e realizar ou receber grandes investimentos. Cingapura, por exemplo, tem dois fundos soberanos com imenso interesse de investimento no Brasil.

Vejo o Sudeste Asiático como ótima alternativa para reduzir nossa crescente dependência da China em comércio e investimentos.

Talvez não consigamos construir acordos comerciais mais ambiciosos na região, mas claramente esses países buscam alternativas de parceria após a retração dos EUA de Trump e da União Europeia do "brexit".

Basta dizer que a Asean já é o segundo bloco econômico do planeta e que os 11 países da TPP (Parceria Transpacífica) querem seguir com o bloco sem os EUA.

Mesmo que não consigamos fechar acordos comerciais ambiciosos, deveríamos ao menos tentar construir parcerias estratégias com todo país asiático que conta com população superior a 50 milhões. Só no Sudeste Asiático são cinco países.

Os portugueses foram visionários quando se lançaram ao mar nas grandes navegações, por volta de 1500. Vasco da Gama descobriu a rota marítima para a Índia, chegando a Calicute em 1498.

Em 1510, Afonso de Albuquerque conquista Goa e logo depois a cidade de Malaca (na atual Malásia), situada no centro de um dos estreitos de mar mais estratégicos do planeta, rota obrigatória dos navios que vão do Índico para o Pacífico e a China

De Malaca eles foram para reino do Sião (Tailândia), Java (Indonésia) e Angkor (Camboja), sempre em busca das famosas especiarias asiáticas.

A China é importante, mas pensar além dela na Ásia é absolutamente crucial. Há mais de cinco séculos os portugueses foram pioneiros nas suas incursões pelo Sudeste Asiático.

É hora de o Brasil fazer o mesmo, mas desta vez não para buscar, mas sim para levar nossas especiarias tropicais.

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Marcos Sawaya Jank

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