Ocorrência de buva e capim-amargoso resistentes ao herbicida glifosato na região de atuação do Grupo ABC
O tema “resistência” já faz parte do dia-a-dia dos produtores há certo tempo, quando a soja era convencional e plantas de leiteiro (Euphorbia heterophylla), picão-preto (Bidens pilosa) não eram mais controladas pelos herbicidas inibidores da ALS. Logo após, a soja RR tolerante a aplicação do herbicida glifosato na pós-emergência da cultura foi adotada amplamente e esse herbicida foi utilizado em grande escala, auxiliando no controle das plantas resistentes de leiteiro e picão-preto. Porém, com o uso intensivo desse herbicida novamente houve a seleção de outras espécies resistentes e hoje na região Sul do Brasil são encontrados problemas com azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza spp.) e capim-amargoso (Digitaria insularis) resistentes ao glifosato.
Novas tecnologias serão disponibilizadas em breve, mas quando não utilizadas da forma adequada, podem apresentar uma vida útil curta e resultar em aumentos no custo de produção. Então, o manejo de plantas daninhas quando realizado de forma sustentável garante uma maior sobrevida dos produtos hoje disponíveis e a longo prazo pode resultar em menores custos na produção de grãos.
Um exemplo são as estratégias adotadas pela assistência técnica das cooperativas atuantes na Região do Grupo ABC, que compreende a região dos Campos Gerais, sul de São Paulo, Londrina e Goiás. Em 2006 uma pequena porcentagem das áreas assistidas (28%) começou a utilizar herbicidas residuais na pré-emergência da soja, mesmo sem a presença das espécies resistentes a glifosato; em 2008 houve aumento expressivo com adoção de 84% da área de soja e até hoje mais de 70% da área continua adotando essa estratégia.
A utilização de herbicidas residuais, associada a rotação de culturas, cobertura do solo no inverno e controle de plantas daninhas na entressafra refletiu no atraso dos casos de resistência ao herbicida glifosato dentro da área de atuação do Grupo ABC. Os primeiros casos de buva resistente ao glifosato foram relatados no país em 2005, enquanto nas áreas que adotaram essas estratégias foram observados somente a partir de 2012, ou seja, 7 anos mais tarde. O mesmo foi observado para o capim-amargoso, onde os primeiros casos ocorreram 5 anos depois.
Tanto no manejo de buva como de capim-amargoso a entressafra, principalmente em áreas de pousio, é um período propício para sua multiplicação e no caso da buva o problema se agrava, visto que quanto maior for o intervalo entre a colheita da cultura de verão e a semeadura do inverno a buva tem mais tempo para se desenvolver e no controle dessa espécie o estágio de aplicação é determinante para o sucesso do controle.
Nas áreas de milho safrinha o manejo outonal é realizado logo após a colheita, quando as plantas de buva ainda estão pequenas, garantindo um bom controle com os herbicidas disponíveis. É importante lembrar que a buva emerge no campo no período de abril a setembro e logo após sua emergência o controle químico é mais fácil. Na safra de inverno 2017 as condições climáticas com ausência de precipitação no mês de julho a emergência da buva ocorreu mais tarde somente após as primeiras chuvas em agosto, como consequência poderemos observar plantas de buva dentro da cultura de verão na safra 17/18 que, se não manejadas no momento adequado, podem resultar em maiores perdas de produção.
Além do controle químico, a formação de palha no sistema durante o período de inverno é uma ferramenta utilizada no manejo de buva. Em áreas que o solo permanece coberto durante o inverno a palha forma uma barreira física que diminui a emergência das plantas de buva.
Diferente da buva, o capim-amargoso é uma planta perene e seu fluxo de emergência ocorre durante todo o ano, mas em fevereiro e março podem ocorrer os maiores fluxos. O crescimento inicial dessa planta é lento, em torno de 40 dias, após esse período o crescimento é muito rápido e a planta pereniza e forma rizomas. Então, as estratégias de manejo devem ser adotadas logo no início de seu desenvolvimento, garantindo a sua eficácia.
Portanto, se desejamos um manejo sustentável de plantas daninhas com menores custos e preservando as tecnologias hoje disponíveis, devemos tomar medidas preventivas durante todo o ano agrícola e não somente dentro das culturas de inverno ou de verão.
Por, Luis Henrique Penckowski, Eng. Agr. e Coordenador do Setor de Herbologia da Fundação ABC
e Eliana Fernandes Borsato, Eng. Agr. e Pesquisadora do Setor de Herbologia da Fundação ABC
Integrantes do WOLF TEAM
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