De Santa Maria a Passo Fundo na Semana do Agricultor, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Direto depois de 50 dias de trabalho e férias nos EUA, onde sempre se escancaram as dificuldades colocadas para se viver e empreender no Brasil, desembarco em Santa Maria (R.S.) para, em cinco dias, subir os quase 300 km até Passo Fundo (R.S.) realizando palestras e eventos de planejamento em quatro cooperativas.
Em Nova Palma, conheci o trabalho de décadas da Camnpal, em Júlio de Castilhos, o da Cotrijuc, em Tupanciretã o trabalho da Agropan e em Espumoso, o da Cotriel, que juntas passam de R$ 2 bilhões em faturamento anual, empregam mais de 1.500 pessoas, com boa geração de sobras aos milhares de cooperados que conseguem ser mais competitivos graças a este ato cooperativista, desde extensão, crédito, compras conjuntas, assistência e outros benefícios amplamente conhecidos.
Em todas, as mesmas preocupações com a escalada dos custos de produção devido às condições amplamente discutidas do eterno custo Brasil, fora a incidência de doenças e outros aspectos das lavouras. Muita preocupação com os rumos da economia e da política e alguma preocupação também com a falta de fidelidade e de compreensão de parte dos produtores rurais da importância do sistema e dos valores que são agregados pelas diversas atividades cooperativistas.
Do lado dos cooperados, os preços atuais de R$ 60/saca de soja e milho a R$ 21 por saca não deixam muita alegria, mesmo sendo informados que esta é a melhor condição encontrada entre os grandes países produtores de grãos e que isto terá reflexos futuros de aumentos de participações de mercado do agro brasileiro. Tentei passar que podemos ter boas notícias vindas de problemas climáticos nos EUA, afinal as condições das lavouras são as piores quando comparadas aos 4 últimos anos. Porém, vi agricultores felizes da vida com a produção e produtividades recordes da safra de verão que concluíram mas preocupados com a seca que atinge a safra de inverno, prejudicando trigo, cevada e outros.
Em todas Cooperativas as conversas mostraram muita vontade de continuar investindo, com planos que são de encher os olhos, tanto de expansão horizontal rumo a novas áreas e aumentos de participação nas áreas atuais, como verticalmente, tentando capturar valor no processamento e construção de marcas, que em algumas Cooperativas já é realidade e sucesso, como os casos da ampla linha de produtos Bela Dica, Caldo de Ouro e Rio do Sol, entre outros, que experimentarei nos próximos dias.
É um choque conviver, debater, ensinar e aprender ao longo do dia com esta gente que produz incansavelmente com espírito coletivista, ao final da tarde conversar saboreareando a carne gaúcha cozida com perfeição, mas durante a noite ver os telejornais que escancaram o submundo onde vivem parte das pessoas que nos administram desde Brasília, desconectados das necessidades da produção e sintonizados apenas na sua perpetuidade, promovendo gastos, aumentos salariais sem qualquer sensibilidade com o seu peso e com a situação de descalabro das contas públicas, além das notícias que relatam a “subtração em tenebrosas transações da pátria mãe tão distraída”, parodiando nosso míope cantor.
Nas 4 apresentações feitas para mais de 500 produtores nesta semana fiz questão de chamar a atenção que em outubro de 2018 é a última chance da produção tomar o país de volta, e que para isto além de trabalharem incansavelmente, terão que se mobilizar politicamente como nunca.
Finalmente, esta deliciosa semana no Rio Grande teve muitas brincadeiras com o futebol, afinal foi interessante ver a grande nação Colorada torcendo agora pelo meu Corinthians, fato raríssimo...
Subir de Santa Maria a Passo Fundo vendo a produção é um colírio de um lindo país que luta e gera valor, uma injeção de ânimo. Bom final de semana a todos e parabéns aos agricultores por seu dia.
Agradeço ao apoio da Dupont para uma das visitas e do programa Caminhos da Syngenta para três visitas, e também a todos os colaboradores destas empresas pelos excelentes momentos em conjunto. Dedico este texto ao recém-formado Engenheiro Agrônomo da Universidade Federal de Santa Maria (RS), Leonardo Tissot, parte do time de AT’s que atendem à Syngenta, que perdeu a vida em acidente automobilístico nesta terça-feira. O Brasil perdeu um jovem talento.
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