Outra Pancada na Cadeia da Carne Bovina

Publicado em 28/06/2017 11:15
(Minha Leitura dos Fatos e Impactos do Agro em Junho de 2017) - Prof. Dr. Marcos Fava Neves

A principal notícia negativa do mês de junho foi o embargo americano às exportações de carne bovina in natura. Outra pancada no setor, que ainda estava no chão pelo forte golpe da delação. Vamos aguardar para ver os impactos desta medida, mas coisa boa não será e torcer para o Ministério da Agricultura ter habilidade de retomar as exportações. Mas tivemos boas notícias no mês, a seguir.

A estimativa da CONAB de junho para a safra de grãos 2016/2017 agora está em 234,3 milhões de toneladas, sendo 25,6% a mais que as 186,6 milhões de 2015/16. A área cultivada é de 60,5 milhões de hectares. Na soja, a nova estimativa um mês após aumenta em quase 1 milhão de toneladas, passando para 113,93 milhões. A safra que termina é quase 20% maior que a anterior, de 95,4 milhões. Vejam que interessante, em apenas um ano agricultores expandiram a produção em 18,5 milhões de toneladas usando 1,9% a mais de área. Medalha de ouro ao sojicultor e a São Pedro.

Também no milho a nova estimativa trás 1 milhão de toneladas a mais que a anterior, passando para 93,83 milhões (30,3 na primeira safra e 63,5 na segunda). Isto representa absurdos 41% a mais que a safra anterior. Agora vem os desafios para escoar tudo, desde capacidades portuárias, fretes, frangos e suínos para consumirem. Exportações podem bater recorde de mais de 32 milhões de toneladas na safra 2016/17 de acordo com a Agroconsult. No arroz subimos 14,4%, indo para 12,1 milhões de toneladas. Vem por aí 15,4% de algodão a mais tendo agora 1,488 milhão de toneladas de pluma. As estimativas servem como um choque mensal de motivação. Em relação aos preços destas commodities, em dólar praticamente andamos de lado, mas em reais a desvalorização cambial deu algum fôlego. Devem ficar como estão a menos que à partir de agora o “Saint Peter” atue nos EUA atrapalhando o desenvolvimento.

O Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), feito pela FIESP/OCB está em 100,5 pontos no primeiro trimestre de 2017, um pouco abaixo do quarto trimestre de 2016, mas quase 18 pontos acima do primeiro trimestre de 2016. Já o Índice de Confiança do Produtor Pecuário ficou em 89,5 pontos no período considerado, menos confiança a vista. E não pegou o embargo americano na análise, que saiu antes. Outra boa notícia veio da Anfavea, no primeiro trimestre deste ano as vendas de tratores, cultivadores e colhedeiras 45% maior que o mesmo período de 2016.

O valor bruto da produção agropecuária (CONAB e IBGE) em 2017 é de R$ 546,3 bilhões. No caso dos grãos, é um crescimento de 11,3% em valor e de 21% em produtividade. A safra ajuda no controle da inflação e nas exportações, impulsionando a balança comercial.

Nossas exportações de maio foram um show, chegando a US$ 9,68 bilhões, 12,8% mais que maio de 2016, deixando um superávit de US$ 8,38 bilhões. Os cinco primeiros meses do ano já trouxeram US$ 38,86 bilhões, quase 6% acima de 2016. O superávit deixado foi de US$ 32,7 bilhões. Somente o complexo soja trouxe ao Brasil incríveis US$ 4,7 bilhões em maio com mais de 11 milhões de toneladas exportadas. A China comprou 33,3% das exportações do agronegócio brasileiro. O total exportado pelo Brasil (todos os produtos) até este mês foi de quase US$ 88 bilhões, deixando um saldo de praticamente US$ 30 bilhões. Nosso saldo este ano pode chegar a US$ 60 bilhões, dando grande fôlego, ajudado por preços quase 30% maiores das commodities, puxadas pelo minério de ferro.

Foi lançado o plano safra 2017/18 que trará 190,25 bilhões de reais para o agronegócio. São 150,25% para custeio e comercialização (116,25 bilhões com juros controlados e o restante com juros livre. Poderia ser alocado mais para gerar valor e renda no Brasil, mas temos que entender que o cobertor está curto devido à má gestão que tivemos nas últimas décadas por estas terras.

Na arena internacional, vale destacar que continuam diálogos entre o Brasil e o México para ampliar o comércio de grãos, principalmente importações de milho e soja do Brasil, visando reduzir sua dependência dos EUA e suas novas turbulências. O México importa quase 15 milhões de toneladas de milho por ano, e cerca de 4,3 milhões de toneladas de soja. Seria muito bom termos o México como um grande cliente do Brasil ainda mais exportando pelo eixo norte do país.

Dr. Evaristo Miranda da EMBRAPA trouxe importantes números sobre a preservação ambiental. O Brasil tem 66% de seu território recoberto por vegetação nativa. A produção de grãos ocupa 9% do território nacional, sendo que 20,5% das áreas das fazendas são de vegetação nativa. Somando-se pastagens nativas, a área conservada do Brasil chega a 75% do território. O Brasil é um país comparativamente aos demais, extremamente ambiental, faltando um pouco mais de reconhecimento dos ambientalistas.

Enfim, as notícias de junho no geral foram boas ao agro, exceto pelo embargo das exportações de carne in natura para os EUA. Aposto em aumento de preços das principais commodities em reais, ainda temos boas incertezas nos EUA, de onde escrevi este texto, visitando a Universidade de Purdue (Indiana).

 

* Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires. Este material é um resumo mensal feito sobre assuntos nacionais e internacionais de relevância ao agro. ([email protected]

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Marcos Fava Neves

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