Lula: ‘Eu não tenho nenhuma influência no PT’ (??!!), por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Publicado em 11/05/2017 22:41

Em depoimento a Sergio Moro, Lula disse que ninguém mais do que ele está interessado em “esclarecer a verdade”. O réu soou vago e contraditório em vários momentos. Noutras passagens, a conselho dos advogados, silenciou. Mas em nenhum trecho do interrogatório o compromisso de Lula com a verdade revelou-se tão maleável quanto no instante em que ele disse ao juiz da Lava Jato: “Eu não tenho nenhuma influência no PT.” Ficou entendido que Lula depondo também é uma pose.

A frase escorregou dos lábios de Lula num instante em que Moro o espremia sobre a inusitada versão de que ele jamais soube da bandalheira que ocorria sob suas barbas presidenciais na Petrobras. Seguiu-se o seguinte diálogo:

— O senhor, tendo indicado ou, pelo menos, dado a palavra final para a indicação ao Conselho de Administração da Petrobras de Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró e Jorge Zelada, não tinha conhecimento de nenhum dos crimes por ele praticados?

Lula respondeu atacando:

— Não. Nem eu, nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal. Todos nós só ficamos sabendo quando foi pego no grampo a conversa do Yousseff com o Paulo Roberto.

Moro insistiu:

— Eu indago ao senhor porque foi o senhor que indicou o nome deles ao Conselho de Adminitração da Petrobras. É uma situação diferente da minha, eu não tenho nada a ver com isso. Nunca participei dessas negociações.

— O senhor soltou o Yousseff. E mandou grampear. O senhor podia saber mais do que eu.

— Não, eu decretei a prisão do Alberto Yousseff, é um pouco diferente. Mas, enfim, o senhor, tendo indicado essas pessoas, não teve conhecimento de nada disso?

Lula, como de hábito, esquivou-se:

— Nada. Eu indiquei tanta gente!

— O senhor, tendo nomeado toda essa gente, entende que não tem nenhuma responsabilidade pelos fatos que eles praticaram na Petrobras?

— Nenhuma responsabilidade.

Moro ampliou o quadro, tornando o interrogatório ainda mais constrangedor:

— Alguns dirigentes de algumas empreiteiras do Brasil —Ricardo Pessoa, da UTC; Marcelo Odebrecht, da Odebrecht; Léo Pinheiro, da OAS; Rogério de sá, Andrade Gutierrez— admitiram que havia um esquema criminoso na Petrobras de pagamento de percentual de propina nos grandes contratos. Parte dela sendo destinada a executivos da Petrobras, outra parte destinada a agentes políticos e partidos polítcos, inclusive ao PT. O senhor não tinha qualquer conhecimento disso?

— Não, porque quem monta cartel para roubar não conta para ninguém. O presidente da República não participa do processo de licitação da Petrobras, de tomada de preços da Petrobras. É um problema interno da Petrobras.

[…]

— Alguns desses dirigentes citaram como responsável no partido dos trabalhadores pela arrecadação desses valores o senhor João Vaccari Neto. O senhor não tinha conhecimento disso?

— Não. Veja que o Vaccari é tesoureiro do PT há pouco tempo. Nós tivemos vários tesoureiros na história do PT.

— Alguns afirmam que ele fazia isso desde 2007. O senhor não tem conhecimento?

— Ele não era tesoureiro do PT em 2007.

— Depois que vieram à tona as informações acerca desse esquema criminoso na Petrobras, inclusive de valores sendo direcionados a agentes políticos e a partidos políticos, inclusive ao Partido dos Trabalhadores, o senhor, ex-presidente, tomou alguma providência a esse respeito?

Lula pede ao juiz para repetir a pergunta. Moro, pacientemente, repete cada palavras. E o pajé do PT:

— Eu já estava fora da Presidência há quatro anos. E o senhor sabe que um ex-presidente vale tanto quanto um vaso chinês. Um vaso chinês é um vaso bonito que você ganha quando é presidente. Quando você deixa a Presidência, você não tem onde colocar ele. Você não sabe como cuidar de um ex-presidente. Você não sabe como cuidar do tal vaso chinês. Eu era ex-presidente em 2014, quando saíram as denúncias da Lava Jato.

Moro foi ao ponto

— Senhor ex-presidente, com sua influência no Partido dos Trabalhadores, solicitou eventualmente para que fosse realizada uma apuração interna para verificar se os fatos afirmados pelos executivos ou pelos agentes da Petrobras eram verdadeiros?

Lula saiu-se, então, com uma verdade vista com os olhos da pose:

— Sabe que essa influência dentro do Partido dos Trabalhadores é porque o Ministério Público não conhece o PT.

Moro espantou-se:

— O senhor não tem influênciua dentro do partido?

— Não. Se eles conhecessem o PT não falariam isso. Eu não participo de nenhuma reunião do PT desde que fui eleito Presidente da República, em 2002. Em 2014, quando eu deixei a Presidência (Lula deixou o Planalto em 2010) é que eu voltei a participar. Então, eu não tenho nenhuma influência no PT. Eu tenho influência na sociedade. Quando eu falo, as pesosas me ouvem. Alguns ouvem, nem todos.

Moro insistiu:

— O senhor não solicitou nenhuma providência para que o PT fizesse algum exame…

— Não, porque eu não era dirigente do PT.

O ex-tesoureiro Vaccari está preso. Já sondou a força-tarefa da Lava Jato sobre a hipótese de tornar-se um delator. Mas ainda não abriu o bico. Nos encontros partidários, ainda é aclamado como “herói do povo brasileiro.” Outro petista preso, Renato Duque, já moveu os lábios mesmo sem ter assinado um acordo de colaboração. Contou a Moro que Lula o chamou para conversar, em 2014. Foi levado à presença do “nine”, como o “chefe” era chamado, por Vaccari. Falaram sobre corrupção e contas secretas na Suíça. Lula orientou-o a apagar os rastros.

Indagado por Moro, Lula viu-se compelido a admitir o encontro. ''Tive uma vez no aeroporto de Congonhas, se não me falha a memória, porque tinha vários boatos no jornal de corrupção e de contas no exterior. Eu pedi para o Vaccari, que eu não tinha amizade com o Duque, trazer o Duque para converconversar.''

O mesmo Lula que dissera ter lavado as mãos diante da Lava Jato por estar fora da Presidência revelou-se um zeloso ex-presidente: ''A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: tem matéria nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, está pegando da Petrobras. Eu falei: 'você tem conta no exterior?' Ele falou: 'Não tenho'. Eu falei: 'Acabou'. Se não tem, não mentiu para mim. Mentiu para ele mesmo.''

Moro emendou uma pergunta óbvia: por que não chamou para conversar os outros ex-diretores da Petrobras que frequentavam o noticiário como salteadores dos cofres da estatal? E Lula, agora um petista bastante preocupado com a imagem do PT: ''O Duque tinha sido indicado pela bancada do PT. O PT indicou o Duque com outros partidos… Eu fiquei muito puto. E ele disse que não [tinha contas no exterior].''

Considerando-se que os réus têm o direito de mentir para não se auto-incriminar, a versão de Lula para a lama que engolfa sua biografia não deveria despertar tanto interesse. Mas o líder máximo do PT soou tão surreal diante de Moro que seu depoimento bale quase como uma autodelação. Para dar crédito a tudo o que disse Lula, é preciso acreditar em tantas coisas improváveis que o desafio passa a ser ao bom senso.

É difícil para Dilma manter a pose de flor do lodo, JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Entre todas as revelações contidas na delação premiada de João Santana e Monica Moura, uma das mais assustadoras envolve o vazamento de informações sigilosas da Polícia Federal. Acomodada na poltrona de presidente da República, Dilma Rousseff abastecia o casal do marketing petista de informações sobre o andamento da Lava Jato, contou Monica aos investigadores.

Nesta versão, a presidente repassava aos investigados dados recebidos do então ministro da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo. Dilma chegou mesmo a antecipar aos amigos a notícia de que ambos teriam a prisão decretada. Esse tipo de procedimento tem nome: é crime.

Diante de tudo o que já foi descoberto pela Lava Jato, não está fácil para Dilma ostentar a pose de flor do lodo. A essa altura, arma-se sobre o penteado da sucessora de Lula uma tempestade semelhante à que dispara trovões e raios que o partam sobre a cabeça do seu mentor e padrinho político. Sem mandato, Dilma será triturada na primeira instância do Judiciário.

Os delatores Santana e Moura informaram também que Lula e Dilma tinham plena ciência do dinheiro sujo que escorria pelos porões das respectivas campanhas presidenciais. Dinheiro vindo das negociatas trançadas na Petrobras. Liberada pelo Supremo Tribunal Federal, a investigação segue o seu curso. Por ora, apenas a sociedade brasileira sente o amargor de uma pena. É como se o Brasil estivesse condenado a uma Lava Jato perpétua. Impossível saber até onde vai escorrer o melado.

A fala absurda de Lula: petista quer que eleitor seja o seu juiz (REINALDO AZEVEDO)

A afirmação é um despropósito sem tamanho. As eleições não existem para absolver as pessoas por seus crimes (EM VEJA.COM)

Luiz Inácio Lula da Silva, o “sr. ex-presidente”, nunca foi um bobo. E é um erro estúpido, como tem sido, partir dessa premissa. A direita xucra estrila. Se entendesse o que escrevo e estudasse um pouco, não estrilaria — mas aí deixaria de ser xucra.

Vamos ver. Logo depois do depoimento, Lula fez um pronunciamento público que foi, de verdade, um comício. Tratou de sua candidatura à Presidência da República — aliás, ele a anunciou durante o depoimento. E aí disse algumas maravilhas.

Afirmou que está “vivo e preparado para ser candidato”. Falando a uma plateia de aproximadamente 5 mil pessoas, de acordo com estimativa da PM, o ex-presidente disse que, “se, um dia, tiver cometido um erro, quero ser julgado apenas pela Justiça, mas antes pelo povo brasileiro”.

Ah, essa é melhor de todas. Santo Deus! O meu artigo de estreia na VEJA imprensa, no dia 6 de setembro de… DOIS MIL E SEIS tinha o seguinte título: “Urna não é tribunal. Não absolve ninguém”. Reproduzo em outro post.

Como deve supor o leitor, eu me referia ao fato de que era certo que ele seria reeleito no mês seguinte e que tal sufrágio não representava a absolvição dos crimes seus e do PT.

Aliás, uma das coisas que lamento é o fato de isso tudo concorrer para criar um clima de conspiração contra o ex-presidente.

Convenham: um juiz se ver na contingência de explicar que nada tem de pessoal contra o presidente já é um despropósito. Obrigar-se a lembrar que as acusações não são suas, mas do Ministério Público, é uma aberração. E alcança as raias do surrealismo se ver compelido a desmentir que Lula seria preso durante a audiência.

Ocorre que isso era afirmado, com a convicção dos néscios, pelos fanáticos da Lava Jato. Muitas das páginas trazem a imagem de Moro como ilustração. Ele deveria pedir, então, que retirassem.

A propósito: a turma do “Lula vai ser preso amanhã” não vai bater em Sérgio Moro? Por essa razão, seria injusto. Ele está apenas aplicando o Artigo 312 do Código de Processo Penal.

Estratégia
O problema é que as forças que depuseram Dilma, mesmerizadas pela Lava Jato, começaram a cometer erros em penca — oriundos, justamente, da falta de preparo intelectual. Lula, que errou feio durante muito tempo, voltou a se entender com o jogo.

Por que digo isso? Quando o presidente afirma que gostaria de ser julgado também pelo povo, não só pela Justiça, não deixa de haver aí a admissão de que, no segundo foro, a coisa seria mais difícil para o seu lado.

Eu acho que o apartamento é de Lula, sim. Mas a Lava Jato ainda não provou. O ex-presidente sabe que não há a menor chance de Moro absolvê-lo. E por que é assim? O juiz deixou claro, em desacordo com o que prescreve o devido processo legal, que ele está menos preocupado em saber se o tal imóvel pertence ou não ao petista do que fazê-lo chefe de uma organização criminosa — e isso é apurado no inquérito-mãe do Supremo.

A chance de Lula não poder se candidatar é gigantesca. Condenado por Moro, haverá o apelo ao TRF4, que tem endossado quase todas as decisões do juiz. Dada essa eventual condenação, nada de candidatura.

Que se reforce, então, as características do Lula como um perseguido. Isso rende dividendos políticos a ele e a quem quer que o petista venha a apoiar se candidato não for.

Nunca vi o país numa situação tão delicada.

Nem Moro esmagou Lula nem o inverso. Mas só um feriu a lei ontem (REINALDO AZEVEDO)

Infelizmente, a maioria das perguntas do juiz nada tinha a ver com processo no qual depunha o petista. Isso é ruim para a democracia e bom para as esquerdas (VEJA.COM)

Os dias andam agitados demais. Coisas em excesso, demandas as mais variadas. Mas vamos lá. É claro que eu iria, como faço agora, escrever um texto com a minha avaliação sobre o depoimento prestado pelo ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro, em Curitiba.

A minha síntese? Pois não! Sem poder apresentar as provas, que deveriam ter sido fornecidas pelo Ministério Público Federal, de que o tríplex pertence a Lula, Moro optou por uma condução da audiência que fez picadinho do devido processo legal.

Acho que o apartamento é de Lula? Acho. Mas não sou juiz. E o meu achar é irrelevante. No estado de direito, condena-se com provas. E Moro não as tinha. Ao contrário, as evidências materiais apontam que o imóvel pertence à OAS.

Sem ter como dar o xeque-mate ou deixar o depoente numa sinuca, Moro optou por um comportamento lamentável, que agride o devido processo legal. Resolveu fazer perguntas a Lula que diziam respeito aos quatro outros inquéritos a que o petista responde.

Entre as perguntas impróprias, a maioria buscava demonstrar que o petista, afinal, era o verdadeiro chefe da estrutura criminosa que operava na Petrobras.

Observem: no inquérito em questão, há três contratos da OAS com a estatal sob suspeita; eles teriam gerado a propina que o MPF diz ter sido paga a Lula na forma do apartamento de Guarujá e do transporte e armazenamento de seu acervo. Não! Moro não se referiu a nenhum deles em particular.

Na verdade, ele tratava Lula como o chefe da organização criminosa. Ora, posso até concordar com isso. Mas esse é o inquérito que tramita no Supremo.

Mais: o juiz insistiu em fazer indagações sobre o sítio — afinal, as obras nesse imóvel e no apartamento estariam ligadas. Tudo indica que estão mesmo. Mas por que há, então, um inquérito para cuidar de cada caso? Por que não estão juntos?

Mais: o juiz demonstrou incômodo com a liderança política de Lula, o que é um despropósito. Quis saber por que o ex-mandatário emitiu juízos contraditórios sobre o… mensalão!!! O que a dita Ação Penal 470 tinha a ver com o apartamento de Guarujá? Nada!

Teve o desplante de dizer, ainda que o tenha feito de forma interrogativa, que o depoente, ao processar um delegado, um procurador e um juiz (sim, ele próprio: Moro!), estava tentando intimidar as pessoas encarregadas da investigação.

Trata-se de uma afirmação absurda. Apresentar petições ao poder público — e isso inclui recorrer à Justiça — é um direito fundamental das democracias. Vejam a Primeira Emenda da Constituição Americana, por exemplo.

Na era da pós-verdade e das verdades alternativas, versões se espalham na cloaca do capeta: as redes sociais. Petistas dizem que seu líder esmagou Moro. Os fanáticos do juiz sustentam o contrário.

Vamos botar os pingos nos is. Lula não esmagou ninguém. Deu-se mal, por exemplo, ao explicar suas relações com Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, e deste com João Vaccari, tesoureiro do PT. E digo que se deu mal porque se atrapalhou.

Sergio Moro esmagou, sim, o devido processo legal, mas não o petista, que não foi confrontado com nenhuma prova inequívoca.  Mais: nós o vimos obrigando-se a dizer que nada tem de pessoal contra o presidente e de que nunca foi verdadeira a máxima “Lula vai ser preso amanhã”.

Ao tentar explicar por que fazia perguntas que nada tinha a ver com o processo, o juiz apelou, mais de uma vez, ao “contexto”. Não pode ser. A ser assim, a gente precisa ensinar o teorema de Pitágoras a partir do Big Bang. Já recomendava o poeta latino Horácio: não conte em seu poema a origem das musas…

Moro vai condenar Lula? A sua condução da audiência indica que sim. Se nada de novo aparecer, vai fazê-lo com base na convicção formada a partir do depoimento de delatores, sem as provas. É claro que isso é um mau exemplo.

Reação posterior de um procurador que é estrela da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos, evidencia que a própria Lava Jato avalia que Lula venceu o embate também no tribunal. Na ocupação das ruas, já havia vencido.

A Lava Jato, com o apoio entusiasmado da direita xucra, está, acreditem, cometendo erros em penca. E isso tem seu preço: fortalecimento da esquerda.

Sim, eu considero que Lula era o chefe máximo de um monstrengo criado para assaltar os cofres e a institucionalidade. Acho que tem de ser investigado, processado, julgado e condenado por isso.

Mas que as coisas se façam segundo o devido processo legal. Não darei nem a Moro nem a ninguém a prerrogativa de se comportar e de decidir ao arrepio da lei.

OS PINGOS NOS IS: “O segredo de aborrecer é dizer tudo”- Voltaire

Pois é... Às vezes, um analista é como um médico: ele não precisa alarmar o paciente, mas este tem de saber a extensão do mal

O fogo amigo do marqueteiro (BERNARDO MELLO FRANCO, na FOLHA)

  Xando Pereira-24.abr.2017/Ag. A Tarde/Folhapress  
O marqueteiro João Santana e a esposa Mônica Moura chegam ao TRE da Bahia, nesta segunda-feira (24) em Salvador, para depor em julgamento da chapa Dilma-Temer.
João Santana e Mônica Moura chegam ao TRE da Bahia para depor sobre a chapa Dilma-Temer
 
 

 

BRASÍLIA - João Santana é um personagem central na história do PT no poder. Quando a crise do mensalão ameaçou varrer o partido do mapa, Lula recorreu a ele para reconstruir sua imagem. O marqueteiro bolou um slogan sob medida para calar os críticos. Com o mote "Deixa o homem trabalhar", o petista superou o desgaste e se reelegeu.

No segundo mandato, Santana recebeu uma missão impossível. Precisava transformar uma ministra de nome difícil, com fama de turrona, em herdeira da popularidade do chefe. Sem ter disputado uma eleição na vida, Dilma Rousseff chegou lá.

O mago das campanhas ganhou prestígio e virou eminência parda do governo. Passou a opinar sobre tudo e foi apelidado de "40º ministro". Quando Dilma recebeu a notícia de que podia comemorar a reeleição, voltou a pedir o seu socorro: "Vou com roupa de que cor?"

Santana caiu em desgraça junto com o petismo. Virou alvo colateral da Lava Jato, que rastreou pagamentos secretos à sua empresa. Em fevereiro de 2016, ele foi preso com a mulher, Mônica Moura. Depois de uma temporada na cadeia, o casal de marqueteiros assinou acordo de delação. Nesta quinta (11), o Supremo liberou os depoimentos.

Santana disse que Lula dava a "palavra final" no esquema de caixa dois. Mônica contou que Dilma usou um e-mail secreto para vazar investigações. As delações não são atestado de culpa, mas agravam muito a situação dos ex-presidentes.

Em 2014, Aécio Neves e Marina Silva atribuíram suas derrotas ao bombardeio do publicitário. O que eles sofreram não se compara ao dano que o fogo amigo de Santana promete causar a Lula e Dilma. O mago que recuperou a imagem do petismo agora ajuda a desconstruí-la.

*

Michel Temer festeja um ano no cargo com uma proeza: aprovado por 9%, é mais impopular que a antecessora às vésperas do impeachment.

O embate, por HELIO SCHWARTSMANN (na FOLHA)

  Reprodução  
Depoimento Lula
Ex-presidente Lula em depoimento ao juiz Sergio Moro

SÃO PAULO - O tão antecipado confronto entre Lula e o juiz Sergio Moro foi como um debate eleitoral: cada cidadão acha que saiu vitorioso o candidato para o qual está torcendo. Assim, para petistas, Lula devorou Moro, enquanto, para os entusiastas da Lava Jato, o magistrado arrasou o ex-presidente.

Se eliminarmos o fator torcida, ficamos com um quadro mais monótono, em que nem o magistrado conseguiu forçar o petista a cair numa contradição escandalosa, que revelasse todas as suas culpas, nem o ex-operário foi capaz de reduzir a pó as acusações que pesam contra si, desvelando para todos o caráter persecutório deste processo judicial.

No geral, Lula deu respostas que procuravam corroborar a linha de defesa que já conhecíamos, empurrando a responsabilidade por algumas decisões sobre o tríplex para a mulher Marisa Letícia, já morta.

O roteiro básico, porém, segue inalterado. Como a rota da delação premiada está vedada ao ex-presidente (quem ele acusaria? Deus?), só lhe resta politizar ao máximo o discurso, pintando-se como herói do povo vitimado pelas elites. As pesquisas eleitorais que o colocam à frente em 2018 o animam a seguir nesse curso, mas há duas dificuldades.

A primeira é que Moro deverá condená-lo nas próximas semanas e, se a sentença for confirmada na segunda instância (o que pode ocorrer dentro de mais um ano), Lula, se escapar da cadeia, cai na Lei da Ficha Limpa, que o impediria de concorrer.

A segunda é que o discurso da perseguição, embora seduza uma parcela da população, amplia as restrições que as demais lhe fazem. Como a eleição é em dois turnos e Lula já ostenta uma rejeição em torno dos 45%, ele se torna um bom candidato a ser derrotado em segundo escrutínio. Sua melhor chance seria concorrer contra alguém ainda mais controverso, como Jair Bolsonaro —cenário que muitos descreveriam como a materialização de um pesadelo.

Sem xeque-mate, EDITORIAL DA FOLHA

depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz Sergio Moro pouco acrescentou, ao longo de suas quase cinco horas, à linha de raciocínio adotada pelos advogados de defesa do ex-presidente.

Concentrando-se na suspeita de dois favores concedidos pela construtora OAS —um apartamento em Guarujá e as despesas para a guarda de objetos presenteados oficialmente a Lula como chefe de governo—, o interrogatório se deu de forma objetiva e protocolar.

Houve ocasionais momentos de tensão, outros tantos de expansividade; nada capaz de reforçar as teses persecutórias do petista.

Este, por vezes, soube aproveitar sua habilidade retórica para sobressair-se com respostas espirituosas ou menções ao cotidiano familiar, que têm o potencial de humanizá-lo aos olhos do público.

Também valeu-se da oportunidade para apresentar as recorrentes queixas contra a imprensa, amparadas em levantamentos de notícias tidas como negativas para si.

Entretanto as expectativas de um confronto aberto, que animavam as facções mais extremadas a favor de Lula ou Moro reunidas em Curitiba, dissiparam-se no que, afinal, consiste num passo importante, mas em nada decisivo, de um processo a prolongar-se ainda por bom tempo (e há outros dois apenas no âmbito da Lava Jato).

De concreto, o ex-presidente negou ter solicitado benefício ao empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que o convidou a visitar um apartamento de três andares em Guarujá.

Ficará a critério de Moro avaliar a plausibilidade dessa narrativa, bem como a solidez da acusação. No relato de Lula, o presidente de uma empreiteira apenas tentava vender um apartamento; a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, é que decidia sobre os rumos do negócio.

O depoimento trouxe, de todo modo, uma novidade suplementar. O ex-presidente admitiu ter agendado encontro com Renato Duque, então diretor da Petrobras, e posteriormente condenado por recebimento de propina.

Lula teria desejado saber se eram verdadeiras as notícias que circulavam a respeito do envolvimento de Duque em casos de corrupção. A conversa foi agendada por João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, em 2014, quando Lula não ocupava o Planalto. Na ocasião, Duque teria negado a veracidade das acusações, e o chefe petista, ficado satisfeito com a resposta.

Há razões para desconfiar de tão sumária narrativa, ainda mais quando se leva em conta que Lula contradiz, agora, afirmação anterior de que desconhecia qualquer ligação entre Vaccari e Duque.

A credibilidade do ex-presidente da República não se fortalece, por suposto, com essa linha de defesa; bem pesados os fatos, é entretanto a única que lhe resta antes de a Justiça pronunciar seu veredito.

 
 

 

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