Retenciones: "Com muita sorte serão retiradas da soja no ano que vem", diz consultor argentino
Em um mercado que precisava de novas notícias, a faísca veio da Argentina, no último final de semana, quando o presidente Javier Milei visitou a 'Exposición Rural de Palermo', a maior feira agropecuária do país, e reforçou seu compromisso com a retirada das retenciones da soja exportada argentina e também com a unificação do câmbio. As especulações sobre a possiblidade de que a medida se dê ainda nos próximos meses trouxe uma pressão adicional às cotações da soja, do farelo e do óleo - ambos os produtos tendo a Argentina como maior exportadora mundial - na Bolsa de Chicago.
"O presidente trouxe este anúncio, porém, sem detalhar em que momento esta retirada será feita, dizendo apenas que quando as condições macroeconômicas da Argentina permitiram que seja feito", afirma Sebastian Gavalda, consultor de mercado e diretor da Globaltecnos, direto da Argentina, ao Notícias Agrícolas.
Ainda segundo Gavalda, as chances de que o movimento se concretize ainda neste ano é pequena e que "com muita, muita sorte, pode acontecer no ano que vem. Talvez no segundo semestre do ano que vem". Além disso, lembrou também que Milei deverá baixar o chamado "Imposto País", que taxa as importações em 17,5%, em 10 pontos percentuais, passando a 7,5%, e sendo zerado em dezembro. A mudança pode impactar diretamente as compras de fertilizantes, também contribuindo para melhores custos de produção para os produtores argentinos.
Durante sua passagem pelo evento, Milei trouxe um discurso bastante enfático, se dirigindo diretamente aos líderes rurais, os quais celebraram os anúncios - incluindo a retirada das retenciones para a carne bovinam pecuária de corte e leite - porém, fizeram cobranças ao chefe de estado para que a queda da tarifa sobre as vendas externas da oleaginos aconteça "o quanto antes seja possível".
Afinal, a cobrança da taxa pelo governo faz com que os sojicultores argentinos recebam de 104% a 114% menos do que seus concorrentes, como Brasil, Estados Unidos, Paraguai e Uruguai, de acordo com cálculos feitos pelo consultor e produtor Néstor Roulet, divulgados pelo jornal La Nacion. De outra perspectiva, o produtor argentino recebe algo como apenas US$ 201,00 por tonelada, contra os US$ 430,00 que deveria receber em um cenário sem as tão temidas retenciones.
"Sobre isso não há dúvida de que entra em jogo uma questão de confiança para com um Governo onde na sua plataforma eleitoral prometeu eliminar as retenciones, mas no primeiro projeto que enviou ao Congresso da Lei Omnibus propôs aumentá-las", diz Roulet.
Desde a corrida presidencial, Javier Milei tem firmado uma forte relação com o campo e durante sua passagem pela Rural, no último domingo (28), destacou a importância dos produtores rurais não só nas fases mais difíceis da Argentina, em especial nos últimos governos kirchneristas, como nas melhores eras do país. "Quando a Argentina, no final do século XIX, adotou um sistema político e econômico guiado por ideias de liberdade, deixou de ser um país de bárbaros para ser um dos mais ricos do mundo. E o grande protagonista deste momento foi o campo, com um modelo agroexportador", disse.
E complementou dizendo que o declínio do setor se deu quando os políticos que lideraram a Argentina impuseram uma série de impostos sobre o agronegócio, bem como destacou o "processo de difamação" que o campo argentino também tem sofrido nas últimas décadas.
"Viemos para libertar o setor privado e tirar a mão sufocante do Estado sobre os produtores. Queremos renovar os votos da sociedade com o campo argentino, para que o campo esteja no centro do novo contrato social, tal como estava no final do século XIX, quando a Argentina era uma potência mundial", afirmou o presidente argentino.
Veja a passagem de Javier Milei pela Exposición Rural de Palermo:
Discurso del Presidente Javier Milei en la edición 136° de la Exposición de Ganadería, Agricultura e Industria Internacional en La Rural. pic.twitter.com/6zBx4SWAL6
— Oficina del Presidente (@OPRArgentina) July 28, 2024
O presidente da SRA (Sociedade Rural Argetina), Nicolás Pino, também foi taxativo em seu discurso. "Senhor Presidente, precisamos da certeza de que o senhor irá eliminar as retenciones. Cremos ser útil garantir ao governo um voto de confiança, como foi dado aos cidadãos durante as eleições de 2023", disse. Pino classificou o imposto sobre as exportações do país como "distorcivo, descriminatório e confiscatório, além de arcaico. "Este imposto saqueia os produtores desde o século XIX".
Ainda em seu discurso, o presidente da instituição usou exemplos de produtores de soja que tiveram de pagar, em um intervalo de 2003 a 2016, cerca de US$ 2 milhões em retenciones e que, nos últimos 22 anos, o setor pagou US$ 200 bilhões com a taxação. "Ao final do século XX, éramos 300 mil produtores rurais. Não só nos multiplicamos, como fomos reduzidos a 230 mil atualmente", disse.
Tanto a medida de retirada das retenciones, quanto a redução e na sequência a extinção do Imposto País podem mudar a competitividade do produtor, da soja, do farelo e da soja argentinos. E são este movimento e esta possibildiade que o mercado internacional agora tem especulado, uma vez que já vem em uma construção importante de oferta para a próxima temporada.
Assim, somente nestes dois primeiros pregões da semana, os três produtos apresentam baixas consideráveis em relação fechamento da última sexta-feira na Bolsa de Chicago. A soja em grão, no vencimento agosto, caiu 4,6%, saindo de US$ 10,77 para US$ 10,27 por bushel, e o novembro, 2,30%, passando de US$ 10,45 para US$ 10,21. No farelo, baixas de 0,4% no agosto e 2,23% no outubro, para US$ 353,30 e US$ 323,30, respectivamente. Já para o óleo, baixas de 2,08% no agosto, para 43,66 cents de dólar por libra-peso, e de 0,24% para o outubro, que foi a 42,20 centavos/lb.
Para a conclusão do atual ano comercial, os impactos ainda não são diretos, uma vez que os produtores argentinos continuam segurando suas vendas - embora a comercialização tenha tido momentos melhores nas últimas semanas - diante de tantas incertezas, em especial sobre o dólar, bem como pelos efeitos da inflação. "Esta prática terá de ser revista no futuro", afirma Néstor Roulet.
Números recentes apresentados pela Bolsa de Comércio de Rosario mostram que o país ainda teria algo como 26,7 milhões de toneladas de soja para vender e cerca de 9 milhões a fixar, o que totaliza 36,4 milhões de toneladas de soja sem ser precificada até este momento.
Com informações do Infocampo e do La Nacion.
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Alex Lopes Sorocaba - SP
Espero que Javier Milei consiga reconstruir a economia Argentina destruída pela esquerda e que faça da Argentina um exemplo a ser seguido na América Latina.