Ciro Gomes, e não Jair Bolsonaro, é o verdadeiro Trump do Brasil (por REINALDO AZEVEDO)
Felipe, um amigo médico, não um cientista político, mandou-me um áudio: “Quem tem mais pinta de Trump brasileiro é o Ciro Gomes, não o Bolsonaro!”.
E Felipe tem toda razão. Até porque o deputado do Rio é grosseiro e ignorante demais para ir além do nicho da extrema direita, à qual costuma se agregar a extrema burrice. Trump falou barbaridades em penca nos EUA — e o fenômeno de opinião pública já começou a murchar —, mas, obviamente, não é um Bolsonaro.
Já o Ciro Gomes… Bem, ele é, escrevi aqui, como o peixe, morre pela boca. Já foi assim duas vezes. Haverá uma terceira? Em entrevista à Folha, ele deixa claro que sim, mas só se Lula não disputar. E vice do petista, ele assegura, nunca seria. O advérbio “nunca” costuma ter sentidos variados em política. Sempre quer dizer “até que aconteça”.
Voltarei à sua entrevista à Folha em outro post. Acho que há coisas ali que o mundo político pode não ter percebido.
O Ciro que ameaça receber os homens de Moro “na bala” caso venham prendê-lo tem mais método do que loucura.
E não só nesse caso.
Ciro é o Trump brasileiro até na repulsa à economia globalizada, que o brasileiro chama “neoliberalismo”…
Retomarei o assunto mais tarde.
Ciro Gomes mira em Moro e acerta a própria testa (por AUGUSTO NUNES)
Ciro Gomes nem precisa de adversários em campanhas eleitorais: ele sabe como ninguém perder sozinho. Na primeira disputa presidencial em que se meteu, a candidatura começou a derreter quando chamou de “burro” um eleitor com quem falava por telefone durante um programa radiofônico. O segundo naufrágio do gabola que primeiro fala e só depois pensa (se é que pensa) tornou-se inevitável com a definição do papel que a atriz Patrícia Pillar, com quem estava casado na época, desempenharia na campanha do marido: dormir com o candidato, resumiu.
O vídeo acima confirma que, quando se trata de gente, graves defeitos de fabricação não têm conserto. “Hoje esse… esse Moro resolveu prendê um… um bloguero?”, desandou no meio da entrevista o pistoleiro que faz mira só depois do disparo. “Ele que mande me prendê, que eu recebo a turma dele na bala”. Endereçado ao juiz que simboliza a Operação Lava Jato, o tiro ricocheteou na língua portuguesa antes de atingir, de novo, a testa do eterno candidato sem chances à Presidência da República.
Se fosse mais gentil com o idioma, Ciro receberia à bala, nunca “na bala”, os agentes da Polícia Federal que formam o que chama de turma do Moro. Se respeitasse a inteligência alheia, não diria que Sérgio Moro “resolveu prendê um bloguero”; apenas determinou que um blogueiro objeto de investigações prestasse depoimento. Se passasse menos tempo na cidade onde foi criado, governada pela família que se confunde com um bando de coronéis, teria descoberto que o país mudou. O Brasil não é uma imensa Sobral. E jamais será.
Já não existem figurões condenados à perpétua impunidade. A lei passou a valer para todos, aí incluídas todas as ramificações da tribo dos cirosgomes. O ex-governador do Ceará não acordou com batidas na porta às seis da manhã por uma razão singela: não existem (ainda) motivos para isso. Caso esteja enredado em alguma das patifarias atravessadas no caminho da operação, a usina ambulante de bravatas não tardará a receber a visita dos policiais.
Se restar algum juízo ao clã, Ciro será aconselhado pela família a receber os visitantes empunhando não um tresoitão, mas uma bandeja com o bule e xícaras de café.
Convém não ver Ciro Gomes só como louco; pode ser, mas tem método
Escrevi um pequeno post endossando uma consideração de um amigo médico, Felipe Nogueira, segundo quem é Ciro Gomes, não Jair Bolsonaro, o candidato a ser o Donald Trump brasileiro. A observação é arguta e absolutamente compatível com a reveladora entrevista publicada ontem pela Folha. Aliás, convém que aqueles que consideram que o homem é apenas louco comecem a desconfiar de que ele também tem método.
Começo por essa questão momentosa porque vejo, no Brasil, alguns tontinhos de direita à procura do “nosso Trump”. Pois é… Mas o que fez o já decadente Trump presidente dos EUA? Eu resumiria assim: fastio de amplas camadas com a prevalência da agenda politicamente correta que Obama abraçou, sobretudo no segundo mandato, e, atenção!, a mobilização daqueles que não se julgam beneficiados pelo mundo moderno. Supor que Bolsonaro é o Trump só porque é o mais reacionário que a política brasileira pode oferecer é evidência de análise rasa.
Até porque, resta provado, e Ciro acerta ao fazer esta consideração à Folha, Trump é um populista, sim, mas será mesmo “de direita”, da “direita liberal”? Acho que não. Tanto é assim que esquerdistas brasileiros viram com bons olhos quando o Malucão anunciou que pretendem proteger as empresas americanas da concorrência para preservar empregos. Ciro tem aquele jeito de doidão, reitero, mas tem método. Afirmou sobre o presidente americano: “Por que o Trump é de direita? Populista, sim, ok. Mas a vitória dele foi importante. Ele representa a negação da perversão neoliberal. E, no Brasil, o problema não é de direita e esquerda. A política econômica do Lula é igual à do FHC”.
E, claro, ele elogiou também o que considera a franqueza do americano, similar, então, à sua: “Em tempos bicudos, as pessoas procuram franqueza”. Antes ainda: “[Uma especialista] sempre me estimulou a manter minha linguagem, meu sotaque, meu jeito de ser. Só tenho como ferramenta minha língua”. Quando o pré-candidato diz que receberia os homens de Moro a bala caso tentassem prendê-lo de modo injusto, não está falando sem querer. Ele sabe que os fanáticos do morismo não votarão num candidato de esquerda.
E é esse o espaço que está buscando consolidar, junto com Lula, com quem ele anuncia uma aliança. É claro que não pode se descolar também do eleitorado de centro e de centro-direita. Notem: ele receberia os homens de Moro a bala, mas, sozinho, o sujeito se comporta como polícia, Ministério Público e juiz. Atira contra tudo e todos. Fica-se com a impressão de que resta um honesto na República. Adivinhem quem.
Ele está se posicionando para a guerra. Tanto é que a maior saraivada para o prefeito João Doria, de São Paulo (PSDB), em quem vê um potencial candidato. Então pespega: é farsante; deixou um rastro de irregularidades na Embratur; fez propaganda que estimulou o turismo sexual e ficou milionário com a ajuda de governos tucanos. Levou um troco: tem de cuidar de sua saúde mental; não tem moral para falar em defesa das mulheres porque disse, em 2002, que a função da sua ex-mulher era dormir com ele; exibe “habitual destempero” e “tradicional desequilíbrio”.
Que fique claro: Ciro conta também comos contra-ataques, como contava Trump.
Aliança tácita
A aliança tácita com Lula está dada. Quando ele diz que não se lança candidato se o outro o fizer, deixa claro que estão juntos. Com acerto, supõe que o petista tenderia a polarizar o debate, e ele, Ciro, seria condenado à irrelevância como alternativa de esquerda. Faz sentido? Faz. Lula vai ser candidato? Depende da Justiça. A suposição de que estarão juntos em 2018, em qualquer cenário, é muito razoável. Ainda que o PT viesse a lançar um qualquer (se não for Lula), coisa de que duvido um pouco, a aliança tácita seria mantida.
Para encerrar: na entrevista à Folha, Ciro deixa claro que considera neoliberais tanto a as opções econômicas do PSDB como as do PT. É, colegas, em economia, o homem pretende ser a verdadeira esquerda.
Viva a Terra Arrasada de Rodrigo Janot, em que ninguém presta; em que todos são culpados. Ele nos expõe a perigos como esse.
Um Ciro com tal discurso é, arremate-se, mais uma obra da direita xucra.
Fiel à Igreja dos Santos dos Últimos Dias do Nióbio e do Grafeno
Perguntem aos religiosos do bolsonarismo o que eles pensam sobre reforma da Previdência, privatização e terceirização. São iguaizinhos ao PCO!
A propósito: perguntem aos crentes da Igreja Bolsonarista dos Santos dos Últimos Dias do Nióbio e do Grafeno o que pensam a respeito a reforma da Previdência, da terceirização e das privatizações.
Ora, a exemplo de seu líder, Jair Bolsonaro (PSC-RJ), os iluminados devem ser contra, né?
Da pra entender. Marine Le Pen e Donald Trump são contra a globalização.
Os crentes da Igreja do Nióbio e do Grafeno são o PCO da extrema direita. Bolsonaro só não é o Rui Pimenta porque é muito menos lido, embora tenha mais votos…
Câmara-SP faz seminário sobre ETs. Pelo Socialismo Intergaláctico
Muita gente que ocupa assentos naquela Casa parece mesmo vinda de outro planeta; se você for empirista raso, concluirá que são humanos
Até que enfim!
Vamos dar graças às Outras Esferas — não “aos Céus” porque não somos desses que ignoram evidências…
“Aleluia!”. Ops! “Aleluia?” Que não humano teria soprado tal coisa a nossos ouvidos ancestrais?
Eu sempre soube que chegaria o dia em que a Câmara de Vereadores de São Paulo faria algo de útil. Em que ao menos uma ideia original brotaria naquela terra salgada… E aconteceu.
A Casa abriga, por iniciativa do vereador Toninho Paiva (PR) — mas, que se saiba, sem nem uma ironia dos outros 54 —, um, atenção para o nome!, “Seminário Científico Sobre Extraterrestres do Nosso Passado”. Gosto de palavras. Palavras devem ser degustadas. O seminário restringe a coisa ao “nosso passado”. Uma das hipóteses, consta, é que Moisés, Cristo e Maomé já eram, a seu tempo, como posso dizer?, “contatos” de seres que a tudo viam de fora da Terra.
Agora as coisas ficam mais claras. A cada vez que Moisés achou que Deus estava lhe dando uma instrução, não era Deus, não! Isso explica os efeitos especiais dos Dez Mandamentos cravados na pedra. Eu sabia que a performance, como direi, “fotolítica” (radicais gregos: foto = fogo ou luz; lito = pedra) trazia um avanço tecnológico que não poderia ter brotado naquele solo ressequido…
Com Jesus, foi a mesma coisa. Aí os ETs já eram mais discretos. Falavam diretamente à consciência. E está explicado o fenômeno da concepção assexuada de Maria. Não era milagre de Deus, mas obra da tecnologia. Durante parte da idade Média, acreditava-se que os urubus fossem inseminados pelo vento. Houve até correntes heréticas que tentaram explicar assim o Milagre da Concepção. Foram duramente combatidos porque não ficava bem associar a mãe de Cristo a um urubu.
Com Maomé, as coisas se complicaram um pouco. Não é que o chip do ET não fosse bom. Era… Mas o chipado era um pouco rebelde. Consta, por exemplo, que a palavra “Jihad” queria dizer mesmo só um “esforço especial”, uma “dedicação”, uma “obstinação branda”. Mas o Profeta gostava de ação.
E foi assim que chegamos aos dias atuais.
Bem, eu não me oponho a seminários sobre ETs na Câmara de Vereadores. A rigor, vamos convir, a quase totalidade dos que estão lá não pertence mesmo a este planeta, certo? E não descarto que possa haver outros abduzidos.
Mas sou um sujeito progressista e pluralista e reivindico agora um seminário sobre ETs, mas com sotaque de esquerda.
Novo seminário
Espero que os esquerdistas da Câmara (sobraram alguns por lá?) organizem agora um colóquio sobre o “Posadismo”, uma corrente revolucionária iniciada por J. Posadas (1912-1981) — pseudônimo do argentino Homero Rómulo Cristalli Frasnelli —, que preconizou o socialismo intergaláctico. Não vou achar agora, mas prometo procurar. Tinha aqui na minha biblioteca um livro sobre os fundamentos do posadismo.
Sabem como é… O homem foi jogador de futebol e depois acabou sapateiro e líder sindical da categoria. Aí um daqueles que falaram com Moisés, Cristo e Maomé resolveu chamar, só não sei se com a voz grave de Deus ou metalizada dos ETs: “Homero, Homero…”. E teve início, então, a seção posadista da IV Internacional comunista. Uma verdadeira Odisseia dos outros mundos.
O ET que falava com Posadas era muito doido… Como dizia uma vizinha da minha mãe, devia consumir “tóchico” — lê-se… “tóchico”). O homem estava convicto de que a hecatombe nuclear, que devastaria a humanidade, era inevitável, mas que nem isso destruiria os valores do socialismo.
Segundo Posadas, seríamos socorridos pelos… ETs, aqueles que abriram o Mar Vermelho para Moisés, que curaram Lázaro e que definiram para “O Profeta” o Sol como “Siraj” (“o que ilumina a si mesmo”) e “Uahaj” (“línguas de fogo”) — e o Astro-Rei não é exatamente isso, como concluíram os cientistas?
Finalmente, um pouco de verdade na Câmara dos Vereadores de São Paulo!
Nota: há seres por lá que, com efeito, parecem de outro planeta. Mas, se você condescender em ser um empirista raso, acabará concluindo que são humanos…
Governo estuda alternativa a mais imposto. Aritmética e caravelas
Quando o STF capou R$ 20 bilhões por ano da receita da União, houve silêncio sepulcral; na hora de tapar o buraco, eis a gritaria...
Num post publicado há pouco, afirmo que, se Schopenhauer baixasse aqui entre nós em carne e osso, não morreria de febre amarela, dengue ou bala perdida, mas de tédio. Por alguma razão, a aritmética, que chegou a estas vastas solidões junto com as caravelas, parece causar uma repulsa congênita mesmo entre os pensantes. Por que digo isso?
No dia 15 deste mês, eis que seis digníssimos e nobilíssimos ministros do Supremo decidiram meter um espeto nas receitas da União de R$ 20 bilhões por ano. Como? Ora, os doutores decidiram que a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins é inconstitucional. Mandaram ver os ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Cármen Lúcia. Foram votos vencidos Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.
Nem vou entrar em minudências porque o objetivo desde post não é debater a justeza intrínseca da decisão. O placar sugere que há bons motivos para considerar uma coisa e outra. E, pois, que há uma zona cinzenta no caso.
Muito bem! É evidente que um juiz tem de julgar de acordo com a lei, e os 10 que o fizeram se ancoraram na legislação. Mas é certo que um magistrado, e já tratei disto aqui tantas vezes, tem de pensar na razoabilidade de sua decisão. A quem se pune quando se cortam, da noite para o dia, num caso controverso, R$ 20 bilhões por ano de receita da União?
A situação é tão grave que a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional) decidiu recorrer de novo ao STF, aí pedindo que a decisão seja modulada. O que isso quer dizer? Que se estabeleça a partir de quando o ICMS tem de ser retirado do cálculo, ou, além dos R$ 20 bilhões anuais que vão para o ralo, haverá um retroativo a pagar cujos cálculos preliminares chegam a R$ 250 bilhões.
Sei que não foi assim, mas é como se tivesse sido. Os togados se reuniram e pensaram: “Vamos quebrar o país? Vamos abrir um rombo nas contas da União?”. E aí votaram. Não se ouviram nem protesto nem muxoxo. Nessa hora, vale pensar com os calcanhares rachados da ideologia: se é menos imposto, é bom. Que se danem as contas públicas.
A primeira reação do Planalto foi passar a estudar uma forma de restabelecer a Receita, e uma das alternativas era — e, em certa medida, ainda é — aumentar as respectivas alíquotas do PIS e da Cofins. A suposição vazou na semana passada, e chegou a se noticiar como coisa certa algum aumento de imposto. Ainda não está.
O governo estuda ir por outro caminho. Em vez de elevar esse ou aquele impostos, pensa em reduzir as desonerações ainda em curso, herança da desastrada gestão da senhora Dilma Rousseff. Assim, não haveria aumento de imposto. Na verdade, passar-se-ia a cobrar o que está previsto na lei, beneficiado temporariamente por desoneração.
Tomara que seja esse o caminho adotado. O risco de aumento de impostos chegou a ser lembrado nos protestos desse domingo. Mas não consta que alguém tenha se manifestado contra a decisão do STF.
Meus caros, há circunstâncias em que é preciso pensar. Os gastos obrigatórios, que não podem ser contingenciados — pessoal, benefícios da Previdência e desonerações de tributos —, representam de 85% a 90% do Orçamento. Isso dá conta da margem estreita.
De todo modo, o governo já percebeu que “aumento de impostos” é um botão quente da política que pode dar um trabalho danado. Por isso, faz-se um esforço para rever as desonerações, o que levaria mais dinheiro ao caixa. Para tanto, é preciso negociar com o Congresso.
Em todo caso, deixo aqui um convite: e se os grupos que fazem política começassem também a fazer contas? Poderia ser uma revolução maior do que a chegada das caravelas…
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