Café robusta importado do Vietnã sairia até R$ 250 mais caro do que o brasileiro para as indústrias, aponta estudo
Enquanto as indústrias brasileiras e o setor produtivo travavam uma queda de braço para decidir sobre a importação de café robusta (conilon) junto ao governo, a OCB/ES (Organização das Cooperativas Brasileiras) encomendou um estudo com uma importadora particular que mostrou que, em qualquer uma das situações propostas para autorizar a medida no país, a importação do café do Vietnã, maior produtor mundial do grão, sairia bem mais cara para as indústrias do que comprar o grão internamente. A diferença chega a ser de até R$ 250,00 a saca de 60 kg.
"Solicitamos para uma empresa calcular o valor de importação de um contêiner com 320 sacas de 60 kg de café do Vietnã, fizemos todas as contas e para nossa surpresa o valor saiu bem mais alto do que o que estava sendo cotado o café no dia 26 de janeiro no Brasil, quando recebemos os dados. O preço pode variar entre R$ 525,59 a saca com ICMS de 9%, e chegar a até R$ 725,26 com ICMS de 35% e com alíquota zero sairia cerca de R$ 480,00. O valor interno do robusta no dia era de R$ 467,00 a saca, em média", explica o analista de mercado da OCB/ES, Alexandre Costa Ferreira. Na Bolsa de Londres, a saca do grão estava em R$ 387,85 sem custos adicionais e impostos.
Estimativa de valores do café robusta importado - Fonte OCB/ES
Ele ressalta que após o levantamento da OCB, as indústrias se movimentaram para conseguir importar o café sem ICMS, o que compensaria um pouco mais ante os valores verificados no mercado interno. Desde o fim do ano passado, representantes da indústria de café solúvel e a de torrado e moído pleiteiam a importação de 200 mil sacas mensais, no período compreendido entre janeiro e maio, volume que seria isento da tarifa de importação. Acima disso, seria aplicada a Tarifa Externa Comum (TEC) de 35%. Os cafés poderiam ser importados de países como o Vietnã e Indonésia.
"Importação não é uma tarefa simples. Além de terem de pagar mais pelo café, eles teriam que fazer todas as transações à vista com o Vietnã. Também tem que se levar em conta a logística, o café importado deve chegar ao Brasil apenas depois de 60 dias e levaria mais 10 dias para a liberação do produto na alfandega", explica Ferreira.
Nos últimos dias, os preços do café baixaram um pouco no Brasil acompanhando essas incertezas com a importação. Segundo Ferreira, o grão estava sendo vendido nesta quinta-feira (2) a R$ 450,37 e, ainda assim, não havia procura da indústria. "Mesmo com a queda recente, o café importado não sairia mais barato do que o brasileiro. Está muito claro que essa é uma medida da indústria para baixar os preços. Sabemos que há mais de 4 milhões de sacas de café robusta em estoques. Nos últimos anos, eles compraram café abaixo do preço de custo", ressalta Ferreira.
Além dos prejuízos financeiros ao setor, que podem ser de cerca de R$ 1,5 milhão somente no Espírito Santo, o setor produtivo teme também a entrada de pragas de outros países, fato que poderia minar com a cafeicultura nacional. "Em caso de autorização, o estado do Espírito Santo, que enfrenta anos consecutivos de seca, teria mais um impacto tremendo na balança", afirma Ferreira.
O ministro da agricultura Blairo Maggi voltou aos trabalhos no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) na quarta-feira (1º) após participar de missão internacional na Europa e Estados Unidos. Agora, todos os levantamentos realizados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) dos estoques de café robusta e as recomendações dos técnicos serão encaminhados para o chefe da pasta tomar uma decisão. Tudo indica que Maggi deverá autorizar pela primeira vez na história a importação, atendendo assim um pedido da indústria.
"Tecnicamente estamos bem embasados e eu estou convencido que isso (importação) deverá ser feito. Mas é um tema muito delicado para o Brasil. Raríssimas vezes o Brasil importou café e tem uma resistência muito forte por parte dos produtores, especialmente os do Espírito Santo, e os políticos do Espírito Santo estão mobilizados", disse Blairo à agência de notícias Reuters. "É uma briga grande!". O ministro foi chamado, inclusive, para falar com o presidente Michel Temer, que pediu "muita calma". "É uma decisão que, no momento que se tomar, ela vai criar arestas políticas", afirmou Blairo.
» Blairo Maggi volta de viagem internacional e dará aval sobre importação de café robusta
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