Mundo enfrenta terceiro déficit seguido na produção de café, afirma OIC
O mundo enfrenta um terceiro déficit consecutivo na produção de café, apesar da estimativa de consumo apresentar um declínio incomum, afirmou a OIC (Organização Internacional do Café), em um relatório que reforçou perspectivas no mercado.
A OIC, em suas primeiras previsões para a oferta e demanda globais de café em 2016/17, de outubro a setembro, fixou a produção global em 151,6 milhões de sacas, com um aumento de menos de 200 mil sacas de um ano para o outro.
Embora a produção de arábica registre um recorde de 93,5 milhões de sacas, impulsionada pelos fortes resultados no Brasil e na Colômbia, os dois principais países produtores, os volumes de robusta, caíram 6% para uma baixa de quatro anos, totalizando 58,2 milhões de sacas.
No Vietnã, principal país produtor de robusta, a OIC disse que "as perspectivas para 2016/17 são menos positivas, com a seca no início do ano calendário de 2016 provavelmente afetando a produção", que caiu 11,3% para 25,5 milhões de sacas.
A seca nas áreas de cultivo de robusta no Brasil também deixou o país com "disponibilidade de exportação insignificante" da variedade, enquanto a produção da Indonésia, outro importante produtor de robusta, caiu 18,8%, totalizando 10 milhões de sacas.
"Além disso, o vibrante mercado interno reduzirá a disponibilidade de exportação", disse a OIC.
Em estoques ou embalagens?
A Organização revelou também uma queda em seus dados de consumo na temporada 2016/17, em 600 mil sacas – um cenário raro em um mercado em que a demanda mundial, normalmente, sobe entre 2% e 2,5% ao ano.
No entanto, a OIC pediu cautela ao traduzir essa tendência para o consumo real de café, dizendo que o vigor em sua estimativa para 2015/16, que foi elevada em 4,4 milhões de sacas, para 155,7 milhões de sacas, pode refletir o aumento dos estoques.
"É possível que parte dessa mudança possa ser atribuída ao aumento nos estoques que não são registrados oficialmente, ao invés de um consumo real", disse a OIC.
"O consumo em 2016/17 pode ter uma diminuição estatística, uma vez que essas ações são absorvidas, apesar do crescimento global no mercado".
"Estoques suficientes com consumidor"
Os comentários concordam com uma observação feita no início desta semana pela veterana analista Judith Ganes Chase de "estoques suficientes [de café] nas mãos do consumidor" uma ideia apoiada pelos fortes dados de exportação de café.
"Para um mercado que havia subido anteriormente com oferta apertada, eu ainda não vejo isso", disse Ganes Chase.
"Os dados de exportação da OIC apontam para grandes carregamentos e provável retração por parte dos produtores para aproveitar melhores preços".
A OIC disse que os dados dos primeiros dois meses da temporada 2016/17 mostraram que as exportações "já estão 1,5 milhão de sacas mais altas do que no ano passado, em 19,5 milhões de sacas, com exportações totais nos últimos 12 meses atingindo 117,6 milhões de sacas".
Três anos de baixa
A OIC também destacou o apoio dado aos preços do café robusta, em comparação com os valores do arábica, e a produção relativa das duas variedades, dizendo que "os preços nos mercados de futuros refletiram essa evolução.
"A possibilidade de uma safra recorde no Brasil em 2016/17 colocou uma pressão descendente sobre os preços do arábica. Os preços robusta, por outro lado, fortaleceram-se à medida que as chuvas no Vietnã interrompiam a oferta".
O prêmio para os futuros do arábica sobre robusta – o chamado spread arabusta – "estreitou consideravelmente, atingindo mínimas de 35 meses, com 42,58 centavos a libra-peso, em 28 de dezembro".
"Oscilações nos preços do café em longo prazo"
O spread cresceu depois que os preços do arábica tiveram um forte início em 2017, subindo 9% até agora, em meio a compras atribuídas por parte dos fundos de índices, realizando seu processo anual de reponderação de portfólio, mas também de torrefadores, que trocaram alguma demanda por grãos arábica.
Torrefadores "consideraram os cafés robusta como um componente de desconto oportunista, dentro de suas misturas de café arábica principalmente", disse a I&M Smith.
As tradings também sinalizaram essa questão relatada pela OIC, ao mostrar um terceiro déficit de produção sucessivo em 2016/17, o que poderia oferecer algum suporte aos preços.
"Não há dúvidas de que os números da OIC – juntamente com algumas preocupações sobre as perspectivas de déficit inquestionável no fornecimento de café robusta para o presente ano cafeeiro com as preocupações acrescidas a longo prazo sobre as perspectivas para a nova safra Brasil 2017 – apontam um potencial negativo para os terminais de mercado de café".
O anúncio de quarta-feira feito por JM Smucker de aumento de 6% nos preços de marcas de café como Folgers e Dunkin 'Donuts também "indica que essa respeitada indústria cresça potencialmente no longo prazo, o que ajudaria a inspirar algum grau de confiança positivo do mercado".
Tradução: Jhonatas Simião
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