Café: Cotações do arábica na Bolsa de Nova York caem mais de 4% na semana e voltam a US$ 1,40/lb
Em uma semana marcada por baixo volume de negócios, os contratos futuros do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tiveram queda acumulada de mais de 4%, saíram de 142,45 cents/lb na semana passada, no contrato referência março/17, para 136,15 cents/lb nesta sexta-feira (23). O mercado foi pressionado pelas indicações cada vez mais fortes dos operadores de que o ano de 2017 não deve ter problemas com a oferta do grão. Os operadores também repercutiram as informações sobre o Brasil e realizaram ajustes técnicos.
"Nesta semana que antecede o Natal, especuladores e fundos aproveitaram o impasse no mercado brasileiro de café (com a ameaça do Ministério da Agricultura de importar café robusta verde) para derrubar as cotações na ICE Futures US. Para atender interesses de curto prazo, manipulam as cotações e jogam por terra o trabalho de milhares de cafeicultores e trabalhadores rurais", afirmou em seu relatório semanal o Escritório Carvalhaes, com sede em Santos (SP).
As cotações do arábica fecharam a sessão desta sexta-feira com queda próxima de 300 pontos, o que só contribuiu para o recuo acumulado na semana. O contrato março/17 registrou 136,15 cents/lb com 295 pontos de recuo, o maio/17 anotou 138,40 cents/lb com 295 pontos de desvalorização. Já o vencimento julho/17 encerrou o dia negociado a 140,70 cents/lb também com 295 pontos de queda e o setembro/17, mais distante, caiu 290 pontos, cotado a 142,65 cents/lb.
"Os produtores brasileiros estão oferecendo menos, e os produtores na América Central não estão no mercado devido à fraqueza dos preços. A única exceção agora parece ser Honduras. As ideias do mercado são de que a produção de arábica será forte na América Latina", explicou ontem em relatório o analista e vice-presidente da Price Futures Group, Jack Scoville.
Após subirem em alguns dias da semana, em ajustes técnicos, os operadores na ICE voltaram a repercutir com força durante a semana as chances cada vez menores de desabastecimento do grão no mercado em 2017. Eles apontam a melhora climática no cinturão produtivo do Brasil como um dos principais fatores de impulso para uma boa produção no país. A próxima safra é de bienalidade negativa. Mapas climáticos, no entanto, apontam que após bons volumes de chuvas, o clima deve ficar menos chuvoso e quente nos próximos dias.
Para se ter ideia do otimismo dos operadores com a oferta de café no país, a corretora Marex Spectron divulgou recentemente em relatório que prevê superávit global de 300 mil sacas de 60 kg na temporada 2016/17. "Nós incluímos a liberação de estoques pelo governo brasileiro no balanço, o que deixa um superávit mínimo", disse a Marex à agência de notícias Reuters.
Com base em informações de analistas e comerciantes, a Reuters fez um levantamento que recente em que aponta que "apesar de chuvas favoráveis no período de floração, que teve início em setembro, a safra de 2017 deve cair entre 5 e 20% ante a safra deste ano, devido ao ciclo bienal natural das árvores, que alternam entre grandes e pequenas safras".
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) elevou a produção de café do Brasil em seu quarto e último levantamento da atual safra, para 51,37 milhões de sacas de 60 kg entre arábica e robusta. De acordo com a pesquisa, o volume representa um acréscimo de 18,8%, quando comparado com a produção de 43,24 milhões de sacas obtidas no ciclo anterior e representa recorde histórico. A maior safra até hoje havia sido registrada em 2014, quando o país totalizou 50,8 milhões de sacas.
As condições climáticas favoráveis nas principais regiões produtoras de arábica, aliadas ao ciclo de bienalidade positiva, favoreceram as lavouras e justificam os ganhos de produtividade na maioria dos estados. A produção da variedade totaliza 43,38 milhões sacas. Já a de conilon, que representa 15,6% do total de café do país, está estimada em 7,98 milhões de sacas, com redução de 28,6% na comparação com a safra passada.
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), no entanto, informou que a exportação de café do Brasil, maior produtor e exportador da commodity no mundo, na safra 2016/17 deve cair, totalizando 34,23 milhões de sacas de 60 kg. Esse número é 3,7% menor que o volume registrado na temporada anterior, quando foram embarcadas 35,54 milhões de sacas pelo país. Segundo a entidade, o Brasil deve ter produção de café na safra 2016/17 mais alta que a anterior, totalizando 56,1 milhões de sacas na safra 2016/17.
Segundo o analista da Origem Corretora, Anilton Machado, ainda que os fundamentos pesem sobre os preços externos do café, o mercado também oscilou tecnicamente. "Os fundamentos estão presentes, mas os terminais estão esvaziados e os preços oscilam tecnicamente entre 140,00 cents/lb e 145,00 cents/lb em movimento típico de final de ano", afirma. "O mercado não tem forças para sair desse patamar neste momento", ponderou o especialista durante a semana.
O Rabobank, um dos maiores bancos especializados em commodity do mundo, informou em relatório que as perspectivas no mercado apontam para uma queda na produção do Brasil, com atenção especial para o conilon, variedade brasileira do robusta. Diante dessa situação, o Rabobank, um dos maiores bancos especializados em commodity do mundo, acredita que os produtores devem travar os preços futuros do grão.
"Apesar da perspectiva de recuo na produtividade em função da bienalidade do café, cotações favoráveis devem garantir margens positivas ao cafeicultor brasileiro no próximo ano. Destaca-se parcela dos produtores que já aproveitou as boas oportunidades de trava de preços oferecidas pelo mercado futuro durante 2016", destacou o banco em relatório. "Os cafeicultores brasileiros que seguem sem fixar os preços para 2017 e 2018 devem estar atentos à elevada volatilidade esperada no mercado internacional de café e de dólar".
Na próxima segunda-feira (26), a Bolsa de Nova York não funciona por conta do "Christmas Day", feriado de Natal dos Estados Unidos. As atividades mercadológicas serão retomadas apenas na terça-feira (27).
Mercado interno
Os negócios com café no mercado físico brasileiro foram isolados durante toda a semana nas principais praças de comercialização do país e, segundo analistas, o cenário não deve mudar até pelo menos o fim do ano. "A maioria das empresas já estão em recesso ou em férias coletivas. O mercado deve voltar a ganhar forças apenas em 2017", afirmou o analista de mercado da Origem Corretora, Anilton Machado.
De acordo com informação reportada pela Reuters na quarta-feira (21), com base em relatos de colaboradores do Cepea, as diferenças entre os preços ofertados e os pedidos pelos produtores de café nos últimos dias têm limitado as negociações nas praças de comercialização do país. Analistas acreditam que o mercado deve voltar a ter liquidez apenas no início do próximo ano.
O tipo cereja descascado anotou queda na semana de 4,80% em Poços de Caldas (SP), encerrando a R$ 535,00 a saca. O maior valor de negociação dentre as praças na semana foi registrado em Espírito Santo do Pinhal (SP) com queda acumulada de 1,75%.
No tipo 4/5, foi registrado queda de 5,10% em Poços de Caldas (MG), com saca finalizando a semana a R$ 502,00. Em Guaxupé (MG), foi registrado desvalorização de 1,75%, ainda assim a cidade segue com maior valor de negociação na semana com R$ 563,00.
Para o tipo 6 duro, o maior recuo registrado na semana ocorreu em Patrocínio (MG) e a saca passou a ser cotada a R$ 505,00 com baixa de 6,48%. No Oeste da Bahia (BA), a saca do tipo teve queda acumulada de 0,47%, fechando a R$ 525,00. Maior valor dentre as praças.
Na quinta-feira (22), o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 494,76 com queda de 1,59%.
* As praças de Guaxupé (MG) e Poços de Caldas (MG) não funcionaram nesta sexta-feira e apresentam fechamento da quinta-feira (22) como referência.
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