Na Câmara, ministro Blairo Maggi afirma que vai autorizar importação de café
O ministro da agricultura Blairo Maggi confirmou nesta quarta-feira (14), em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), sem dar mais detalhes, que vai autorizar a importação de café conilon (robusta) e também arábica. Desta forma, a pasta atende a uma demanda da indústria, que pede a importação de cerca de 400 mil sacas, por período determinado (janeiro até maio). O que não atrapalharia o trabalho dos cafeicultores brasileiros. Apesar da autorização, a assessoria de imprensa do Mapa informou ao Notícias Agrícolas que ainda não há um prazo para que a autorização de Maggi seja enviada à Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Maggi explicou que, apesar de permitir a autorização de compra de qualquer tipo de café, vai estabelecer aumento de alíquota para a variedade arábica. "Se nós matarmos nossa indústria nesse momento, não tivermos produto para que ela possa processar, certamente vamos perder mercado internacional", disse.
O secretario de Política Agrícola do Mapa (Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Neri Geller, recebeu nesta terça-feira (13) o setor produtivo de café, representado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), CNC (Conselho Nacional do Café) e FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), entidades contrárias à proposta da indústria brasileira de importar café conilon (robusta). No entanto, participantes da reunião e a assessoria de imprensa do Mapa informaram que ainda não há decisão sobre o assunto e que a queda de braço entre as partes está só no começo.
A proposta de importação de café do Vietnã foi feita por representantes da indústria de café solúvel e torrado e moído em novembro. O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, tem apresentado consecutivas quebras na safra de conilon no Espírito Santo, que tem a maior produção da variedade no país, e que foi afetada por seguidas seca. As entidades representativas do setor, contrárias à proposta, alegam que a decisão poderia apresentar muitos riscos para a cafeicultura nacional, como por exemplo, novas pragas e doenças.
Nos últimos meses, com a escassez do grão para a produção de seus produtos, a indústria brasileira de café torrado e moído utilizou alguns tipos de café arábica de menor qualidade como substitutivo. Porém, a de café solúvel não tem alternativa. Em algumas praças, o preço do conilon brasileiro chegou a ser negociado por valor maior do que o arábica. Em outubro, o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6 peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, superou o Indicador do arábica e chegou a mais de R$ 520,00 a saca de 60 kg. Nesta terça-feira, estava em 490,47 a saca.
Na semana passada, segundo informou o jornal Valor Econômico, Geller recebeu ligação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, reforçando o pedido das indústrias para a importação. No entanto, o secretário de Política Agrícola quer ouvir todos os lados envolvidos antes de tomar alguma decisão. "Não vamos abrir importação sem sentar com todo o setor, mas vamos fazer o que precisa ser feito", disse ao jornal. "Temos que avaliar se a indústria está sendo prejudicada, não podemos deixá-la quebrar".
O ministro da agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), segundo o Valor, se mostra favorável à importação, mas o assunto ainda não é consenso entre outros membros da pasta.
Na segunda-feira (19), às 13h, cafeicultores brasileiros e lideranças do setor se reúnem no CCCMG (Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais), em Varginha (MG), para discutir o assunto. Já na quarta-feira (21) está prevista uma reunião do setor produtivo com o ministro da agricultura. A indústria ainda não foi convocada para reuniões no Mapa. "Acreditamos que depois dessa conversa podemos ter algum posicionamento. Por enquanto, tudo está sendo discutido", afirma o presidente das comissões Nacional e Estadual do Café da CNA e FAEMG, Breno Mesquita.
Através de sua assessoria de imprensa, sem dar mais detalhes, o Mapa informou que ainda não há nenhuma decisão sobre o assunto.
OS DOIS LADOS
Breno Mesquita, presidente das comissões Nacional e Estadual do Café da CNA e FAEMG Foto: Rafael Motta |
Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) Foto: Divulgação |
Por que não importar café conilon? "Somos contrários à importação de café pela situação atual do Brasil, pelo alarmante desemprego que já atinge 12 milhões de pessoas em todo o país, entendemos que seria irresponsabilidade do governo colocar em risco um setor gerador de emprego e renda para o Brasil". Segundo ele, a cadeia produtiva do café gera 8 milhões de empregos diretos e indiretos no país. |
Por que importar café conilon? "A indústria brasileira de café está sem suprimento para continuar as atividades. Isso ocorreu por conta da seca e do déficit hídrico que prejudicou fortemente a safra de conilon, principalmente no Espírito Santo. A indústria de café torrado e moído até consegue adequar seus blends usando mais arábica, cerca de 60% delas já até abandonaram o conilon, mas na de solúvel isso não é possível, pois precisa- de pelo menos 80% da variedade na composição do produto. Nunca vi uma situação como essa em 30 anos no setor". |
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Proposta "A intenção é fazer a importação de café do Vietnã ou Indonésia momentaneamente, de cerca de 400 mil sacas, até porque os preços internacionais da variedade nem são competitivos em boa parte do ano. A importação também aconteceria até o início da safra no Brasil, portanto o temor é injustificável. Isso permite que a atividade da indústria continue e que o país não perca sua importante condição no mercado global". |
Estoques "Apesar de a indústria alegar a possibilidade de faltar o produto, a realidade é que existe café conilon em quantidade suficiente para suprir a demanda industrial de solúvel, torrado e moído até a próxima safra que, historicamente, começa em março/abril, no Espírito Santo" |
Estoques "Após anos seguidos de seca, o Brasil não tem mais estoques de café conilon. A indústrias não tem conseguido comprar o café nem com os altos preços. A redução também foi motivada pelos números de exportação. Em 2015, o país exportou 4,2 milhões de sacas de 60 kg de conilon. Neste ano, até novembro, foram 569 mil sacas e em 2017 deve ser ainda pior". |
Doenças "Este mercado foi construído pelo esforço de toda a cadeia, principalmente dos produtores, que investiram em qualidade e produtividade, mas sofrem grande ameaça da importação desta matéria-prima, correndo, inclusive, riscos fitossanitários para os cafezais brasileiros. Diante de tudo isso, seria um verdadeiro absurdo o governo liberar a importação do café do Vietnã e de outros países". |
Doenças "A importação de qualquer produto pelo Brasil exige análises. O Mapa nunca se pronunciou sobre possíveis riscos com o café internacional no país, portanto essa é uma questão já resolvida". |
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