China segue forte nas compras de soja para atender demanda interna e formar estoques antes de mudança de governo nos EUA

Publicado em 24/11/2016 17:03
Confira a entrevista de Carlos Cogo - Consultoria Agroeconômica
Futuro dos preços da soja depende de fatores como a força dos derivados, a demanda chinesa, câmbio e a produção na América do Sul

Nesta quinta-feira (24), o mercado da soja não tem a referência da Bolsa de Chicago, em função do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Amanhã, o mercado abre apenas em meio pregão, devendo indicar um dia mais calmo para os negócios.

No entanto, nos últimos dias, a evolução dos preços em Chicago combina com a evolução do dólar no Brasil e traz novas perspectivas para os preços internos. A força dos derivados, a demanda chinesa e a postura do produtor brasileiro diante da mudança de patamar de preços também trabalham como elementos importantes desse mercado.

De acordo com Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica, a demanda forte por parte da soja é grande a ponto de anular uma safra recorde americana. O mesmo caso, no entanto, não ocorre no milho. Mas as grandes mudanças para o mercado global devem vir com a posse de Donald Trump em 20 de janeiro, que ainda gera muita incerteza em relação às suas ações frente à política internacional norte-americana.

O mercado global de commodities poderá ter algum impacto - embora ainda não se saiba qual. "Mas se o Trump fizer 30% do que ele promete, será um choque", aponta o consultor. Ele lembra que, além da China, que poderá ter sua relação desestabilizada com os americanos, o México, que é um importante comprador de grãos, também poderá sair do comércio com o país após a retirada dos Estados Unidos do NAFTA. Este cenário, no entanto, é favorável para o Brasil, que pode ganhar espaço no mercado de grãos e conquistar novos parceiros comerciais.

Enquanto isso, o produtor brasileiro se encontra retraído nas vendas antecipadas, pois sai de um cenário de um dólar que tinha tudo para cair e passa para outro, onde ele poderá alçar até mesmo os patamares de R$3,80 em 2017. "Essa é uma grande explicação do porque o produtor brasileiro pode estar recolhido neste momento", diz.

Em um primeiro momento, os fatores americanos poderiam trazer problemas para a formação de preços da soja. Mas a oferta e a demanda, por outro lado, não podendo ser revogadas, logo voltariam a equilibrar os preços. A demanda focada na América do Sul também poderia gerar prêmios maiores para os brasileiros, compensando as perdas em Chicago.

O consultor acredita que, como Trump se elegeu com muitos votos do Meio Oeste americano, dificilmente tomará decisões que vão contra os produtores de soja e de milho. Este fator inclui a decisão do governo Obama de aumentar sua demanda por biocombustíveis - algo que Trump vai contra - divulgada na noite desta quarta-feira (23).

Participação dos derivados

Cogo conta que, tradicionalmente, desde a entrada dos anos 2000, o farelo passou a ser o principal driver de preços da soja, uma vez que é um grande componente proteico para fabricação de ração animal - e, a partir do momento em que a demanda por frangos e suínos aumenta, a demanda pelo farelo também aumenta.

O anúncio de ontem do governo americano sobre aumento do uso de biocombustíveis nos EUA,  poderá mover os preços dos grãos a curto prazo, embora o óleo de soja também tenha sido fator importante para formação de preços ao longo deste ano, com a queda na produção do óleo de palma. No entanto, as expectativas de mudança falam apenas em uma demanda de 250 a 300 milhões de litros de óleo, o que torna o fato apenas um fator "bem pontual"  de mudança nos preços da soja , na opinião do consultor.

Comercialização interna

Os fatores recentes geraram um preço interno em reais mais atrativo para os produtores brasileiros, mas não estão refletindo em novas vendas. Cogo crê que o movimento está ligado a uma expectativa de maior alta do dólar na posse de Trump. Ele aponta que a equipe econômica escolhida pelo presidente eleito é a favor de provocar inflação , gerar demanda interna com necessidade de elevação de juros. "A política está traçada. Se for colocada em prática, o dólar ficará valorizado nos Estados Unidos e subir em alguns países como o Brasil, que são mais vulneráveis a essa questão", avalia.

A valorização da soja para o produtor, no entanto, é um fator que deve deixar os comerciantes satisfeitos. O consultor aponta que os atuais valores praticados já são interessantes diante da conjuntura de uma safra recorde.

Muitas coisas, no entanto, ainda podem mudar do discurso de Donald Trump. Caso se conclua também a saída dos Estados Unidos do Acordo Transpacifico (TPP), pode-se abrir uma janela importante para o Mercosul entrar na parceria e buscar comércio com outros países.

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Tags:
Por:
Aleksander Horta e Izadora Pimenta
Fonte:
Notícias Agrícolas

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