"Dilma na cerimônia do adeus", por REINALDO AZEVEDO (na FOLHA)

Publicado em 25/03/2016 03:14
E + opiniões na edição desta sexta-feira

A irresponsabilidade de Dilma Rousseff e de Lula nessa reta final do governo é assombrosa. Tanto a dupla como o establishment petista sabem que nada mais pode ser feito. Acabou mesmo! Eles se dedicam agora é a criar uma narrativa da partida que possa manter reunido ao menos um pedaço da militância.

Quando a presidente, seu antecessor e a cúpula petista gritam "golpe!", já não falam mais para o conjunto dos brasileiros. É um discurso voltado para os fiéis, para a militância. Criar uma mitologia da derrota, para os tempos de deserto, é tão importante como criar uma da vitória para os tempos de bonança.

O PT está deixando o poder, mas pretende voltar. Para que possa se reorganizar, terá de encolher; de buscar as suas origens; de resgatar a mística do confronto de classes; de excitar, como nos tempos primitivos, não o desejo de consumo das massas, mas o ressentimento dos oprimidos. Lula não quer deixar o poder como um ladrão, mas como um excluído.

Será o patriarca banido da Terra Prometida depois de tê-la conquistado. Viverá de contar histórias e de excitar a imaginação dos mais moços. O PT, como o conhecemos, está morto, mas não a mística intelectualmente vigarista da redenção dos oprimidos que o embala. Esta é um dado permanente na história.

Até um novo barbudo já veio à luz para divulgar "a palavra". O Lula renascido é Guilherme Boulos. Consoante com os tempos da nova esquerda, ele não vem do chão de fábrica, mas dessas milícias supostamente benignas a que chamam "movimentos sociais".

Achando que um é pouco, o rapaz comanda dois movimentos: o MTST e a Frente Povo Sem Medo. Deveria logo abrir uma incubadora de produtos ideológicos do gênero. Se houver impeachment, o novo profeta promete "incendiar o país". Dito de outro modo: se o Congresso não vota como quer Boulos, ele não reconhece o resultado.

Lula nasceu para a política quando a esquerda foi levada a aderir à "democracia como um valor universal", para citar um texto de 1979, de Carlos Nelson Coutinho. Boulos será o líder de um período partidário em que a tolerância perderá até seu valor instrumental. Sem violência, ele está convicto, não haverá redenção. Sai Coutinho do altar, entra um delinquente intelectual como Slavoj Zizek.

Não se descarte, anotem aí, a criação de uma nova sigla que funda o que restar de PT, PSOL, PSTU e outras excrescências mais à esquerda. Como no começo.

A certeza de que o impeachment virá e a necessidade de organizar a resistência com os apaniguados expulsos do paraíso levam Dilma e Lula a anunciar país e mundo afora que um golpe está em curso no Brasil.

Fora do ministério, ele apenas exercita a retórica irresponsável de sempre, cada vez mais típica de um Lula que se mostra uma farsa de si mesmo. Ela, no entanto, se o que está na Constituição é para valer, está incorrendo em novo crime de responsabilidade ao acusar, na prática, o Supremo Tribunal Federal, que votou o rito do impeachment, de fazer parte de uma arquitetura golpista.

Não se descarte, ainda, que alguns cadáveres possam integrar essa narrativa da partida. Eles sempre estão no imaginário delirante e essencialmente criminoso das esquerdas. Ora, o que são alguns mortos quando o que está em jogo é a salvação da humanidade –e algumas contas secretas na Suíça?

 

O Paraguai é aqui (por GUILHERME BOULOS)

A discussão se há ou não um golpe em curso no Brasil deixou de ser uma controvérsia acadêmica. Invadiu ruas e praças. Está nas mesas de botequim.

Muitos fazem analogia com 1964, quando os militares derrubaram o presidente João Goulart e estabeleceram uma ditadura que durou 20 anos. Há paralelos, é verdade: o engajamento de entidades empresariais, a atuação partidária da maioria da imprensa e o uso abusivo do mote da corrupção –empunhado inclusive por corruptos notórios– para insuflar manifestações de rua.

Mas há também muitas diferenças.

Em 1964, o governo de Jango encampou o programa das reformas de base, que incluía os projetos de lei das reformas agrária e urbana, controle da remessa de lucros para o exterior, dentre outras medidas que enfrentavam a elite econômica. Por isso foi derrubado.

A situação com Dilma é outra. É verdade que setores da burguesia e da classe média urbana se incomodam com as políticas sociais dos governos petistas, com a ampliação do crédito popular e o aumento da massa salarial. Mas é igualmente verdade que, no segundo mandato, Dilma tem aplicado a regressão dessas próprias políticas.

A agenda atual do governo nada tem de popular. É a agenda da austeridade, com corte de investimentos sociais. São as reformas da previdência e fiscal, exigidas pela banca. Querem derrubar Dilma não por terem seus projetos contrariados, mas pela avaliação de que seu governo não tem força para levá-los adiante.

Essa é uma importante diferença entre 1964 e 2016. Outra é a participação dos militares. Não há tanques nas ruas e –até onde se sabe– tampouco agitação nas casernas.

Mas, mesmo assim, há golpe. É isso que precisa ser compreendido: o golpismo de ontem não é o mesmo que o de hoje. Os golpes militares clássicos saíram de moda. Não há mais espaço para a marcha do general Olímpio Mourão nem para o bombardeio do Palácio de La Moneda.

Os golpes de hoje são de novo tipo. São "forçagens" na institucionalidade, com respaldo parlamentar e –por vezes– legitimação judicial.

Em Honduras, o presidente Manoel Zelaya foi derrubado em 2009 por um golpe com legitimação da Corte do país. Um avião o exilou na Costa Rica. Determinaram sua prisão por "crime de traição". Mas o mundo inteiro acusou o golpe. O país foi suspenso pela OEA. Até vozes reacionárias tiveram que se expressar.

No Paraguai, em 2012, o presidente Fernando Lugo foi deposto por um impeachment sem razão jurídica, acusado apenas pelo "fraco desempenho de suas funções". Golpe cuspido e escarrado, reconhecido internacionalmente como tal. O Paraguai foi suspenso do Mercosul.

Na ocasião, o jurista brasileiro Pedro Serrano disse: "O que houve foi um 'julgamento' a jato e de exceção. O prazo de defesa foi exíguo, sem a oferta da devida dilação probatória, as acusações têm caráter preponderantemente ideológico e não de juízo de ilicitude na conduta. A decisão já se encontrava decidida e escrita antes da apresentação da defesa".

O modelo de golpe orquestrado pela direita brasileira –com amplo apoio no empresariado e na mídia– é o paraguaio. Querem estabelecer para nossa democracia (já limitada) o parâmetro da ainda mais frágil democracia paraguaia.

Junto com o retrocesso institucional vem o clima macarthista de intolerância, o desrespeito a garantias constitucionais e, seguramente, um aprofundamento do ataque aos direitos sociais das maiorias. O Brasil pode demorar décadas para se recuperar deste golpe e cicatrizar as feridas.

Por isso este é um momento de resistência. Não pelas políticas do governo de Dilma, mas apesar delas. Resistência pelas liberdades democráticas, pelo direito de ir às ruas com a cor que quiser para defender o que quiser. Resistência contra uma imprensa partidarizada e um Judiciário seletivo. Resistência por saber o que vem depois.

Nesta quinta-feira (24) haverá mobilizações pelo país em defesa da democracia e de uma saída popular para a crise. Em São Paulo, o largo da Batata estará repleto de povo –de todas as cores e origens– com a coragem dos resistentes. No próximo dia 31 milhares se concentrarão pelas mesmas causas em Brasília.

Resistir é preciso. Ao menos nisso, o Paraguai não será aqui.

 

Beco com saída, por PEDRO LUIZ PASSOS

O país entrou num período confuso, misturando impasses econômicos e impasses políticos, pouco importando agora a precedência de tais eventos, e só vai conseguir evadir-se da espiral depressiva em que se encontra se houver saídas para ambos os impasses.

O denominador comum à solução das crises econômica e política é a retomada da normalidade, o que implica, para começar, um mínimo de governabilidade no âmbito do Executivo e coesão política reformista no plano do Congresso. Tais condições resumem o que, se não é o fim da crise, certamente é o necessário para começar a resolvê-la.

Mudar o que está aí, começando pelo nó político, é o único caminho possível a quem quer que ocupe a cabine de comando do governo. Nessa equação, o anseio por mudanças é o elemento manifesto em alto e bom som pela sociedade. A questão é por onde começar esse processo.

O governo optou por trazer o ex-presidente Lula para a Casa Civil, cuja nomeação depende de confirmação pelo STF. Como virtual primeiro-ministro e dono da agenda política, ele foi investido de plenos poderes, recebendo até o estranhíssimo comando do PAC, sigla do programa de infraestrutura, remanejado para a Casa Civil.

Fala-se, alternativamente, de uma assessoria especial com autoridade delegada jamais praticada nesta República. Qual será a verdadeira motivação de tamanha transferência de poder?

Já a oposição acelerou a tramitação do processo de impeachment na Câmara, depois de o STF ratificar o rito processante e o movimento ganhar fôlego com o fim do sigilo pela Operação Lava Jato do inquérito contra o ex-presidente, incluindo áudios de conversas embaraçosas, além dos protestos de milhões de brasileiros contrários ao PT no domingo, dia 13.

Dessas duas posições, entendo que algumas coisas são consensuais. A primeira: o Brasil demonstra que não cai mais no discurso velho de velhas lideranças. Não se enfrentam crises com o vulto da que vivemos nem incitando divisões nem vendo anomalias na ação da Justiça com a plenitude do Estado de Direito.

O segundo é a repulsa aos arranjos espúrios entre partidos e grupos econômicos a pretexto de assegurar governabilidade a governantes sem maioria parlamentar.

Não é sonhar alto, suponho, que a saída da crise se faça em torno de um programa de ação, e não pela partilha do poder entre partidos, vários sem afinidade programática, e da reforma política, incluindo o sistema eleitoral e a organização partidária.

Partidos que não representam nada nem ninguém, suplentes ungidos ao Senado sem um mísero voto, diretores e conselheiros de agências regulatórias e de empresas e bancos estatais indicados por políticos são outras distorções inaceitáveis.

Um terceiro princípio envolve as finanças públicas –a causa maior do colapso do crescimento econômico que ameaça os avanços sociais e a retomada do desenvolvimento.

Não há como manter um padrão de gasto público que cresce à frente da arrecadação mesmo em tempos de recessão, como agora. O país não carece de mais imposto, mas de governança que impeça no nascedouro programas irrealistas e subsídios e desonerações sem contrapartida de resultados e prazo para acabar. A persistirem arroubos desenvolvimentistas, o que há pela frente é até temerário cogitar. Seria o beco sem saída.

O cenário atual é difícil, mas há soluções razoáveis em discussão. Mantido o amplo respeito à soberania do Judiciário e do Legislativo, não há por que não sermos otimistas com o Brasil. As ruas refletem o desejo de mudança e a aversão à retórica populista de líderes parados no tempo, sem propostas que enderecem a solução dos problemas. O novo é a esperança contra o atraso que está aí.

 

País conflagrado, por HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - Fui ao Oriente Médio e, na volta, encontro o Brasil conflagrado. Quando saí, o governo Dilma respirava por aparelhos; agora, estertora. O fato que mais contribuiu para lançar combustível às chamas foi a divulgação, por Sergio Moro, da gravação de um diálogo comprometedor entre Dilma e Lula.

Para os simpatizantes do Planalto, o juiz federal violou todas as regras atinentes a escutas telefônicas, ao privilégio de foro e desrespeitou a instituição da Presidência da República, a soberania nacional etc. Deveria estar atrás das grades. Para a turma pró-impeachment, Moro agiu como herói ao lançar luzes sobre as entranhas pouco iluminadas do poder.

Como tudo na vida, a questão é mais nuançada. Pelas análises de juristas que li, acho que dá para sustentar que a produção das provas, que incluem o diálogo comprometedor, foi legal; há dúvidas sobre sua validade num eventual julgamento da presidente; e é mais ou menos certo que Moro avançou o sinal ao revelar "urbi et orbi" seu conteúdo.

Isso, é claro, só vale no âmbito jurídico. Na esfera política, é preciso ser apaixonadamente petista para não perceber que o juiz recorreu a um expediente de que o PT não só se utilizou no passado como frequentemente elogiou, que é tornar público aquilo que aos poderosos interessa manter secreto –mesmo que para isso certas leis tenham de ser violadas.

Para ficar num caso recente, o governo não se mostrou tão zeloso com procedimentos quando o ex-agente americano Edward Snowden, em violação às leis dos EUA, divulgou em 2013 dados que mostravam Washington bisbilhotava a presidente brasileira. Um ministro de Dilma disse na ocasião que o ex-espião prestara um "serviço à humanidade".

No que a atitude de Moro difere da de Snowden? Mesmo que o diálogo não valha como prova num tribunal, foi bom para o país ter tomado conhecimento dessa conversa? O velho PT teria dito "sim" sem pestanejar.

 

Um golpe e nada mais, por VLADIMIR SAFLATE

A crer no andar atual da carruagem, teremos um golpe de Estado travestido de impeachment já no próximo mês. O vice-presidente conspirador já discute abertamente a nova composição de seu gabinete de "união nacional" com velhos candidatos a presidente sempre derrotados. Um ar de alfazema de República Velha paira no ar.

O presidente da Câmara, homem ilibado que o procurador-geral da República definiu singelamente como "delinquente", apressa-se em criar uma comissão de impeachment com mais da metade de deputados indiciados a fim de afastar uma presidenta acusada de "pedaladas fiscais" em um país no qual o orçamento é uma mera carta de intenções assumida por todos.

Se valesse realmente este princípio, não sobrava de pé um representante dos poderes executivos. O que se espera, na verdade, é que o impeachment permita jogar na sombra o fato de termos descoberto que a democracia brasileira é uma peça de ficção patrocinada por dinheiro de empreiteiras. Pode-se dizer que um impeachment não é um golpe, mas uma saída constitucional. No entanto, os argumentos elencados no pedido são risíveis, seus executores são réus em processos de corrupção e a lógica de expulsar um dos membros do consórcio governista para preservar os demais é de uma evidência pueril. Uma regra básica da justiça é: quem quer julgar precisa não ter participado dos mesmos atos que julga.

O atual Congresso, envolvido até o pescoço nos escândalos da Petrobras, não tem legitimidade para julgar sequer síndico de prédio e é parte interessada em sua própria sobrevivência. Por estas e outras, esse impeachment elevado à condição de farsa e ópera bufa será a pá de cal na combalida semi-democracia brasileira.

Alguns tentam vender a ideia de que um governo pós-impeachment seria momento de grande catarse de reunificação nacional e retomada das rédeas da economia.

Nada mais falso e os operadores do próximo Estado Oligárquico de Direito sabem disto muito bem. Sustentado em uma polícia militar que agora intervém até em reunião de sindicato para intimidar descontentes, por uma lei antiterrorismo nova em folha e por um poder judiciário capaz de destruir toda possibilidade dos cidadãos se defenderem do Estado quando acusados, operando escutas de advogados, vazamento seletivo e linchamento midiático, é certo que os novos operadores do poder se preparam para anos de recrudescimento de uma nova fase de antagonismos no Brasil em ritmo de bomba de gás lacrimogêneo e bala.

Uma fase na qual não teremos mais o sistema de acordos produzidos pela Nova República, mas teremos, em troca, uma sociedade cindida em dois.

O Brasil nunca foi um país. Ele sempre foi uma fenda. Sequer uma narrativa comum a respeito da ditadura militar fomos capazes de produzir. De certa forma, a Nova República forneceu uma aparência de conciliação que durou 20 anos. Hoje vemos qual foi seu preço: a criação de uma democracia fundada na corrupção generalizada, na explosão periódica de "mares de lama" (desde a CPI dos anões do orçamento) e na paralisia de transformações estruturais.

Tudo o que conseguimos produzir até agora foi uma democracia corrompida. A seguir este rumo, o que produziremos daqui para a frentes será, além disso, um país em estado permanente de guerra civil.

Os defensores do impeachment, quando confrontados à inanidade de seus argumentos, dizem que "alguma coisa precisa ser feita". Afinal, o lugar vazio do poder é evidente e insuportável, logo, melhor tirar este governo. De fato, a sequência impressionante de casos de corrupção nos governos do PT, aliado à perda de sua base orgânica, eram um convite ao fim.

Assim foi feito. Esses casos não foram inventados pela imprensa, mas foram naturalizados pelo governo como modo normal de funcionamento. Ele paga agora o preço de suas escolhas.

Neste contexto, outras saídas, no entanto, são possíveis. Por exemplo, a melhor maneira de Dilma paralisar seu impeachment é convocando um plebiscito para saber se a população quer que ela e este Congresso Nacional (pois ele é parte orgânica de todo o problema) continuem. Fazer um plebiscito apenas sobre a presidência seria jogar o país nas mãos de um Congresso gangsterizado.

Em situações de crise, o poder instituinte deve ser convocado como única condição possível para reabrir as possibilidades políticas. Seria a melhor maneira de começar uma instauração democrática no país. Mas, a olhar as pesquisas de intenção de voto para presidente, tudo o que a oposição golpista teme atualmente é uma eleição, já que seus candidatos estão simplesmente em queda livre. Daí a reinvenção do impeachment.

 

Brasil não tem tempo a perder

por DANILO PEREIRA DA SILVA (presidente da Força Sindical)

O processo de impeachment da presidente Dilma pode dar fim à agonia política ou aprofundar a falta de consenso e governabilidade no país. O fato é que a rápida deterioração da economia compromete qualquer expectativa de recuperação em curto prazo.

Não podemos nos dar ao luxo de colocar em risco os fundamentos macroeconômicos e as conquistas sociais alcançadas nos últimos 20 anos que alicerçaram o desenvolvimento do Brasil. Esse impasse pode nos afundar no atoleiro de uma nova década perdida ou nos lançar ao desafio de realizar reformas e ajustes essenciais.

O clima de beligerância e a carência de líderes capazes de formular uma saída institucional para a crise agravam a percepção de que estamos caminhando para um cenário de consequências imprevisíveis nos próximos anos. A inabilidade política do governo e a falta de clareza da oposição impedem o estabelecimento de uma agenda mínima de governabilidade.

Enquanto isso, as altas taxas de juros, inflação e desemprego, aliadas à recessão, corroem a vida de milhares de brasileiros, vítimas de um processo inoperante. Existe um consenso de que o governo Dilma perdeu a legitimidade para exercer o poder. Acabou, é o fim da linha. Mesmo que ainda lhe caiba a prerrogativa constitucional, embora as delações premiadas da Operação Lava Jato evidenciem o contrário, não há mais condições políticas (e morais) para encaminhar um desfecho razoável para a crise.

A tormenta econômica e a espiral radioativa da Lava Jato dissipam qualquer tentativa para tal esforço. O que resta é aglutinar novas forças políticas e sociais para recompor o tabuleiro e restabelecer a confiança da população e do mercado.

O mais preocupante é que todas as medidas tomadas pelo governo para reverter o quadro econômico fracassaram. Sabemos que qualquer intento se revelará inútil. Não há clima, tampouco vontade política.

A presidente está isolada, encastelada no caos administrativo de um governo que definha a cada dia, até morrer. O mercado decretou a falência do corpo político petista. A escalada do desemprego afeta quase 10 milhões de pessoas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil pode ter um em cada cinco novos desempregados do mundo em 2017. O quadro é crítico, sem horizonte em curto prazo.

O trabalho é o elo que garante a mobilidade e dignidade da sociedade. É o modo pelo qual as pessoas transformam o país e a si mesmas. Afinal, o bem-estar social é construído sobre o alicerce do labor. Os agentes políticos devem apaziguar a disputa pelo poder às custas do trabalhador brasileiro, solapado de seus direitos.

À presidente Dilma, cabe apenas reconhecer que não dá mais para continuar. O custo da inação política é muito alto. O país não pode esperar mais, sob pena de perdermos todos os avanços conquistados nas últimas duas décadas.

O Brasil precisa de governantes que tenham a nobreza de reconhecer que a obstinação pelo poder não pode se sobrepor aos interesses da nação.

DANILO PEREIRA DA SILVA é presidente da Força Sindical de São Paulo

 

Golpe contra trabalhadores

Por WAGNER FEITAS,  presidente da CUT

A base social da CUT protestará e sairá às ruas sempre que houver ameaças à democracia, ao Estado de Direito, às liberdades civis e aos direitos da classe trabalhadora.

Defenderemos a todo momento as conquistas dos governos de Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. O processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados não é um golpe contra Dilma, mas sim contra toda a classe trabalhadora brasileira.

A história já nos ensinou -os trabalhadores são os mais prejudicados sempre que um governo de base popular é derrubado por forças conservadoras. O principal exemplo ocorreu em 1964, quando as forças de direita apoiaram o golpe e os militares assumiram o comando do país. Vivemos nos anos seguintes um período de arrocho salarial, com piora na distribuição de renda e perda de direitos, como o fim do regime de estabilidade no emprego.

Os conservadores que agora tentam derrubar a presidente Dilma são os mesmos que apresentam projetos de lei para retirar direitos dos trabalhadores, como o PL 4330, da terceirização, o PLS 555, que abre o capital das estatais e limita a participação dos trabalhadores nos conselhos de administração, e o PLS 432, que flexibiliza o conceito de trabalho escravo. Como podemos ver, pouco mudou, o alvo de um golpe nunca deixa de ser o trabalhador.

Há sim, no entanto, uma diferença significativa. Hoje os golpes tentam se apropriar de um discurso democrático, apenas para camuflar seus mesquinhos interesses próprios.

Foi o que ocorreu em Honduras e no Paraguai. Por aqui, os grupos que perderam as eleições presidenciais de 2014 querem de toda forma ocupar a cadeira que não conquistaram legitimamente nas urnas.

Tentam ainda inviabilizar a candidatura de Lula em 2018, criando um ambiente de crise política que agrava a crise econômica e paralisa o país. A estratégia é a mesma de 1964, o falso combate à corrupção.

Sem compreender o momento histórico que o país vive, muitas pessoas acreditam que o fim do PT, a prisão de Lula e o impeachment de Dilma irão resolver, como num passe de mágica, todos os problemas econômicos e políticos enfrentados pelo Brasil.

Quem for além desse raciocínio precário perceberá que vivemos um momento único de combate à impunidade e correção de rumos das instituições públicas e privadas. A investigação de todas as denúncias indica que estamos construindo um país melhor, mais ético.

As perseguições contra Dilma e Lula têm caráter político. Não há base jurídica para cassar o mandato da presidente. Não há nada de concreto que justifique a prisão de Lula. O que a oposição, com forte apoio de parte da mídia, tenta fazer é dar a um golpe de Estado a aparência de operação judicial.

Nossa resposta é uma só, fortalecer a democracia. Esse é o único campo fértil para garantirmos a manutenção e a ampliação dos direitos da classe trabalhadora, da justiça social e da distribuição de renda.

Essa é a agenda da CUT para o Brasil. E foi justamente essa agenda que a CUT e dezenas de entidades dos trabalhadores e empresários entregaram para a presidente em dezembro do ano passado. Fizemos propostas de ações para a geração de emprego e o aquecimento da produção, garantindo, assim, o avanço do sistema econômico produtivo e das relações de trabalho.

Sempre que necessário, estaremos nas ruas de todo o Brasil para defender a democracia e denunciar o golpe. Atos de resistência são fundamentais na luta contra os conservadores e a retirada de direitos.

Acreditamos que os brasileiros, ricos e pobres, brancos e negros, podem e devem construir um país mais desenvolvido, mais solidário, mais justo e mais democrático, sem ódio nem intolerância.

Por isso, reforço o convite para todos nos acompanharem nos próximos atos pela democracia.

VAGNER FREITAS é presidente nacional da CUT - Central Única dos Trabalhadores

 

Infelizmente, as demissões vão continuar

por RAQUEL LANDIN

Se excluirmos os efeitos sazonais, já fazem 19 meses consecutivos que o desemprego vem crescendo no país. É mais de um ano e meio assistindo a indústria, o comércio e, recentemente, até o setor de serviços promover reduções expressivas de sua força de trabalho.

Conforme divulgou o IBGE nesta quinta-feira (24), a taxa de desemprego chegou a 9,5% nos três meses encerrados em janeiro, um aumento importante em relação aos 6,8% de janeiro de 2015 e aos 6,4% de janeiro de 2014.

São 9,6 milhões de pessoas desocupadas no país. Infelizmente, não vai parar por aí.

Projeções de consultorias indicam uma taxa de desemprego média acima de 11% este ano. Para 2017, depende da solução da crise política. Com o impeachment, a taxa poderia cair para 9%, mas com a presidente Dilma no cargo chegar a 14%.

No início da crise, os empresários relutaram a demitir, seja pelos altos custos que isso representa no Brasil ou pelo medo de perder mão de obra que demoraram para recrutar e treinar.

O tenebroso 2015 deixou evidente que a recessão estava instalada. O país começou o ano apostando num pequeno crescimento do PIB e terminou com queda de 3,8%. As empresas cortaram fundo no seu quadro de funcionários, imaginando que o problema estava resolvido.

Mas não estava. O PIB deve cair pelo menos mais 3,5% este ano e mais demissões serão inevitáveis. Pior do que isso: empresas de todos os portes renegociam suas dívidas com os bancos, entram em recuperação judicial ou simplesmente quebram. E isso significa um monte de gente sem emprego.

Por erros do governo Dilma, que gastou mais do que podia em políticas equivocadas, o país perdeu o rumo. E essa desorganização culmina agora no fim da maior conquista do partido da própria presidente, o PT, que era a redução da desigualdade e a queda do desemprego. No lugar da bonança, criou-se um clico recessivo difícil de reverter, com as pessoas ganhando menos, consumindo menos, e as empresas demitindo.

Os empresários deixaram de confiar na atual administração. Sem confiança, não há contratações, mesmo que o governo tente estimulá-las com programas específicos ou mais crédito. Os tímidos resultados do programa de proteção ao emprego são uma prova disso.

É verdade que a saída da presidente provocaria uma reversão das expectativas, com fortes altas das ações e valorização do real. Isso não significa, no entanto, uma reversão imediata do mercado de trabalho.

Para voltar a contratar, as empresas vão esperar a consolidação de um eventual novo governo, cuja principal tarefa seria obter o apoio político necessário para implementar as reformas que o país precisa. Além disso, suas lideranças políticas não deveriam estar envolvidos na Operação Lava Jato, o que parece quase impossível dado o tamanho do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Conclusão: o custo das crises econômica e política no Brasil, principalmente para os mais pobres, ainda vai aumentar muito. Infelizmente.

 

Lista explosiva, editorial da FOLHA

Nervosinho. Drácula. Caranguejo. Revelando insólita intimidade, os codinomes se referem respectivamente ao peemedebista Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, a Humberto Costa (PT-PE), líder do governo Dilma no Senado, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Constam de copiosa lista de políticos dos mais diversos partidos, encontrada mês passado na casa de um executivo da Odebrecht e tornada pública nesta semana.

Não está claro, por enquanto, se todos receberam propinas, se parte deles apenas aproveitou recursos oriundos do caixa dois da construtora ou mesmo se o rol inclui nomes simplesmente contemplados por doações eleitorais declaradas.

Trata-se, em todo caso, de mais um elemento significativo na vasta rede criminosa de relações público-privadas cuja investigação se desenvolve na Operação Lava Jato.

O impacto dessa lista –que envolve mais de 300 membros de 24 partidos– é devastador. Incluem-se ministros de Estado, os presidentes da Câmara e do Senado, governadores e prefeitos.

Oposicionistas e governistas são citados: dos tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin aos democratas ACM Neto e José Agripino, passando por peemedebistas como Luiz Fernando Pezão e José Sarney, de Fernando Haddad (PT) a Celso Russomanno (PRB), de Aldo Rebelo (PC do B) a Paulinho da Força (SDD), são muitas as lideranças que, a partir de agora, precisarão dar explicações à opinião pública e às autoridades judiciais.

Ainda que nem todos tenham se envolvido em casos comprováveis de corrupção, tudo parece confirmar a tese, explorada com indisfarçável cinismo pelas hostes governistas, de que todo o sistema político brasileiro se vê comprometido pela ilegalidade e pela drenagem do dinheiro público através de contratos de obras públicas.

O fato de que tantos estejam, em graus diversos, expostos ao mesmo tipo de suspeita não elimina, como seria o desejo dos atuais ocupantes do poder, a necessidade de pronta punição aos envolvidos no escândalo da Petrobras.

Tornam-se mais próximos, contudo, os riscos de que a própria Operação Lava Jato venha a conhecer novos obstáculos. Seja pelo excesso de ramificações, seja pela pressão, agora multilateral, de variados atores, a paralisia ou o abafamento das investigações passa a ser uma possibilidade –que cumpre repudiar com ênfase.

A identificação de verdadeiro "departamento de propinas" na sede da Odebrecht (o Setor de Operações Estruturadas), bem como a tardia e hipócrita nota da empresa, anunciando intuito de fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, dão novo fôlego às investigações em curso.

Que não se interrompam. Não importa o partido, o nome ou o cargo dos que venham a soçobrar neste processo. É a democracia brasileira que, passada a crise, precisa reemergir mais forte.

 

Que papelão, Lula (por PEDRO DEL PICCHIA)

Lula,

Esta de você buscar refúgio na Casa Civil para tentar fugir da investigação da Operação Lava Jato supera todas as espertezas que você já usou e costuma usar na ação política desde a sua aproximação irreversível com os bacanas a partir do final de 2002, logo após sua primeira e triunfal eleição para a Presidência.

Consta que então, em busca de descanso após a árdua campanha eleitoral, você foi para uma fazenda em Mato Grosso, conforme relato de alguém que o acompanhou. Não seria absurdo supor que foi aí que tudo começou em matéria de novas amizades - depois reveladas indecorosas. Hoje, olhando em retrospecto, que diferença daquele Lula do início de 1981 que percorreu alguns países da Europa em busca de apoio político e financeiro para o recém-fundado Partido dos Trabalhadores, junto a partidos políticos de esquerda e organizações sindicais.

Daquela comitiva fazia parte, além de dois sociólogos depois convertidos ao tucanato, o sindicalista Jacó Bitar, pai de Fernando, sócio de Lulinha e proprietário formal do sítio de Atibaia comprado para a família da Silva desfrutar. Na época, sinceramente, ele parecia um humilde sindicalista. A sorte, seguramente, sorriu para a família dele, porque a grana do sítio ou de meio sítio, como se divulga, foi alta, coisa de milhão, também como se diz.

No meu possante Fiat 147, vermelho confesso, carreguei a comitiva petista para um convento de freiras polonesas numa periferia perdida de Roma, onde você, Lula, ganhou as manchetes internacionais ao se encontrar com o líder do Solidariedade, Lech Walesa, que estourava na mídia mundial alavancado pela eleição do papa polonês João Paulo 2º. Walesa, mais tarde, igualmente, se tornou presidente da Polônia e, segundo consta, também igualmente, se deu bem na vida.

Tempos bons aqueles em que no seu rosto estava estampada a palavra esperança. Fomos até comemorar na noite seguinte na minha casa, em companhia do secretário-geral da poderosa Federação dos Metalúrgicos italiana. Você até pediu, em meio a quantidades memoráveis de uísque e vinho, para tomar umas doses de 51 e matar a saudade do "nosso Brasil". Daquela passagem por Roma, restou-me a carta de agradecimento que você me mandou depois.

Hoje acompanho abismado o que se passa no nosso país por conta da gestão desastrosa da triste figura - o "poste" - que, do alto do prestígio de presidente mais bem avaliado da nossa história, você empurrou para os eleitores. Acontece que o "poste", como diria o seu companheiro Jaques Wagner, se lambuzou e em manobra até agora desastrada quer passar a Presidência, de fato, para você, um cidadão sem mandato denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (com pedido de prisão) e investigado pelo Ministério Público Federal do Paraná.

Defenda-se Lula. Explique o até agora inexplicável. Assuma suas responsabilidades. Vivemos num Estado democrático de Direito conquistado a duras penas, como você bem sabe. Mas não venha com essa conversa de que você iria (ou vai?) para o governo a fim de salvar a República.

Você assumiria (ou assumirá?), isso sim, para se livrar do juiz Sergio Moro e tentar o que hoje parece cada vez mais difícil, salvar o seu "poste" do impeachment ou da cassação.

Arrivederci Roma!

PEDRO DEL PICCHIA, 68, é jornalista e escritor. Foi correspondente da Folha em Roma de 1978 a 1981.

 

 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    A diversidade é uma característica natural, inclusive a diversidade de ideias dos humanos.

    Quando vejo ideias estapafúrdias, como desses artigos mais acredito na assertiva acima.

    A história mostra-nos que os "líderes" de ideologias daltônicas, que teimam em não enxergar as cores da realidade, provocaram as grandes lutas de classes, onde milhares de inocentes úteis sucumbiram para que o objetivo fosse perseguido. Ocorre que essa dialética marxista promete a conquista do horizonte, mas quando você caminha em direção do horizonte ele se afasta na mesma proporção, ou seja, é uma utopia "conquistá-lo"!

    Daí surgem os movimentos revolucionários, no Brasil atual são chamados de movimentos sociais.

    O Estado Islâmico é um "movimento" que tem aterrorizado o mundo, cujas técnicas extremistas são usadas para que suas ideias sejam hegemônicas nos espaços conquistados, diferem das comumente usadas por toda a humanidade, mas o que leva a esse modo de agir?

    O Islamismo é uma religião que tem origem no século VI e, atualmente há três correntes de interpretação do alcorão, a sunita, a xiita e, a wahabista que é um movimento religioso ou seita do islamismo sunita. Seus seguidores são considerados extremistas e, o Estado Islâmico é um dos seus braços para aniquilar os infiéis.

    Enquanto existir os inocentes úteis, os líderes populistas vão viver as suas custas e "odiando a classe média" !!!

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    • jose carlos andrigo ibira - SP

      VENDO ÓLEO DE NIM 1600ppm AZADIRCTAINDICA CONTATO JOSE CARLOS (17) 997381127 VIVO 17 981284393 TIM

      ATUAÇÃO DO ÓLEO DE NEEM GLOBAL NEEM 100% NATURAL ATUA EM MAIS DE 400 TIPOS INSETOS E PARASITAS..

      Registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ? MAPA sob nº 014807

      Óleo de Neem é um inseticida orgânico composto de óleo puro obtido a partir da prensagem à frio das amêndoas de sementes de Neem indiano (Azadiracta indica). São encontrados mais de 150 compostos bio ativos presentes no Neem, sendo que nove deles apresentam ação inseticida cientificamente comprovada. O principal deles é um tetranortriterpenóide ou lim onóide chamado Azadiractina Apresenta quatro formas de ação sobre os insetos, sendo o efeito anti-alimentar, o efeito regular do crescimento, o efeito inibidor da reprodução e o efeito repelência de postura.

      O óleo de neem apresenta ainda ação por contato e por ingestão, sendo essa última mais pronunciada. Atua sobre todas as fases dos insetos (ovos, larvas, ninfas e adultos) é indicado no controle de mais de 500 espécies de insetos e ácaros nas mais variadas culturas comerciais e ornamentais. O oleo de neem ao ser aplicado os princípios ativos ficam aderidos à superfície das plantas e frutos, e parte é absorvido e passa a circular na seiva.

      Os insetos ao ingerirem os tecidos vegetais contendo os princípios ativos do Óleo de Neem, passam a sofrer a ação deletéria do Neem, morrendo em poucos dias. O óleo de neem é totalmente biodegradável e não é bio acumulável, sendo inofensivo ao meio ambiente e a animais de sangue quente. O Óleo de Neem apresenta baixo custo, é de fácil manuseio e aplicação, apresentando grande eficácia no controle de insetos indesejáveis. Apresenta pouca ação sobre os inimigos naturais. É mundialmente aceito e recomendado pela IFOAM (Internacional Federation Organic Agriculture Moviment) para a agricultura e pecuária orgânica.

      COMPOSIÇÃO:

      ? 93,00%...........DE ÓLEO DE NEEM.

      ? EMULSIONANTE ORGÂNICO7,00%.

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