“Ali Babá e os 40 alopradões” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

Publicado em 16/03/2016 15:31
no blog de Augusto Nunes, veja.com.br

“Ali Babá e os 40 alopradões” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Dilma pensava em salvar seu governo tirando o gênio da garrafa. Mas, fã de Alice no País das Maravilhas, não conhece as Mil e Uma Noites. Nos tempos de Ali Babá, os tesouros ficavam numa caverna, que se abria com a senha Abre-te Sésamo. Hoje, os 40 ladrões se multiplicaram. Os tesouros ficam num cofre de banco ou num sindicato e parte é alopradamente usada para comprar silêncios. Mas quem vende silêncio costuma delatar os compradores para sair da cadeia.

O problema, para o governo, é que as delações saem aos poucos. Se todas surgissem ao mesmo tempo, daria para inventar uma história boa, que arrumasse os fatos. Não está dando: inventa-se uma história bonitinha, eu não sabia, a casa era emprestada, toma que o filho é teu, e aí surge nova delação, desmentindo tudo. As denúncias de Delcídio, agora liberadas, são de arrepiar. E atingem, com gravação e tudo, o mais fiel dos fiéis, Aloizio Mercadante. Na sexta, quando Dilma disse que ia renun…, quer dizer, que não ia, ou sabe-se lá, quem era o único ministro a seu lado? Ele: Aloizio Mercadante. Que propôs a um assessor de Delcídio tudo o que fosse pedido, em troca de não haver delação premiada. Algum promotor mal-humorado pode entender isso até como obstrução à Justiça.

Delcídio cita Lula, Dilma, políticos do PP, PMDB, PT, PTB. E Delcídio pode ser fichinha: o deputado federal Pedro Corrêa, do PP, também decidiu falar. É do ramo, sabe como as coisas são feitas. Ele nunca quis aparecer: nomear e dividir, era disso que gostava. Pelo jeito, a Federal terá de importar japonês.

 

Aloprem-se

Lula deve favores a Mercadante – que, entre outras coisas, desistiu de uma eleição garantida para a Câmara Federal para ser vice de Lula, que não tinha chance. Mas, apesar disso, Lula não quer Mercadante por perto. Considera-o afoito, incapaz de um projeto que dê certo.

Foi Lula que chamou a equipe de Mercadante de “os aloprados” numa eleição estadual, em que José Serra já estava eleito. Os petistas acharam que valia a pena comprar um dossiê falso contra ele e foram apanhados.

Por pouco não atrapalharam a reeleição de Lula em 2006.

 

Recordando

Pedro Corrêa está condenado a 20 anos e sete meses de prisão (e preso desde 10 de abril do ano passado), por recebimento de propina de R$ 11,7 milhões, 72 crimes de corrupção passiva, mais 328 operações de lavagem de dinheiro.

Mercadante, antes de buscar o assessor de Delcídio, tentou contato com a família do senador. Mas a esposa Maika recusou qualquer conversa com ele. Desde o início, irritada com o comportamento dos antigos companheiros de Delcídio, que o abandonaram, defendia que o marido optasse pela delação premiada.

 

Prevendo

Não dá para jurar que o autor dessas frases seja o citado. Mas é de ambos que me lembro. De Pedro Malan, ministro da Fazenda: “No Brasil, até o passado é imprevisível”. De Joelmir Beting, um dos maiores jornalistas do país: “Prognóstico bom só depois do jogo”.

Mas arrisquemos: Lula pode ir (ou não) para o governo. Mas não irá nem para a Fazenda nem para a Casa Civil, porque as empreiteiras e os amigos ainda não terminaram de reformá-las. Se for para o governo, e der certo, teremos, como nunca dantes neste país, uma ex-presidente em exercício (todas as manhãs, alguns quilômetros de bicicleta). Se não der certo, teremos dois ex-presidentes em exercício, até que o vice Temer os convide a descansar.

 

Vale tudo

A entrada de Lula no governo é a última tentativa de sobrevivência de Dilma. Lula sem dúvida é politicamente mais competente do que ela e qualquer dos seus ministros. Pode fazer algumas indicações interessantes – uma boa aposta seria Henrique Meirelles, que foi seu presidente do Banco Central, para o Ministério da Fazenda – isso se ele estiver disposto a aceitar as teses de Meirelles, que não assumirá pasta nenhuma para perder sua reputação.

Mas os riscos são altíssimos: primeiro, a discussão jurídica, se a nomeação tem ou não o objetivo de salvá-lo do juiz Sérgio Moro; segundo, a superexposição a que ficam submetidos sua esposa e três de seus filhos, que não têm foro privilegiado; terceiro, os resultados a curto prazo. Lula assumiu em 2003 como esperança e hoje está longe de ter o apoio de que já desfrutou. E, alvo de delação premiada (Delcídio o aponta como responsável por providências que podem causar problemas), sobreviverá?

 

O PMDB como é

OK, o PMDB decidiu, mais ou menos, afastar-se de Dilma, mas deu 30 dias de prazo para efetivar o rompimento – em outras palavras, espremer o resto do leite das tetas quase secas do governo. Ninguém precisa deixar seu cargo até lá.

Em compensação, nenhum membro do partido pode aceitar um convite – menos, naturalmente, o deputado Mauro Lopes, que esperava há tempos ser nomeado ministro da Aviação Civil. Como não disse Sua Excelência, o PMDB sempre lutou por cargos; vai mudar justo quando a vez dele chegou? Então, tudo bem, nada de inflexibilidade.

E, se mais cargos houver, mais exceções haverá.

Lula quer Meirelles no BC e Jobim na Justiça

Como previsto, ex-presidente chega ao Planalto extrapolando suas funções

Por Vera Magalhães, na VEJA.com:

O ex-presidente Lula convidou Henrique Meirelles para reassumir o Banco Central.

A ida de Lula para a Casa Civil também pode abortar a nomeação de Eugenio Aragão para o Ministério da Justiça. O novo ministro sondou Nelson Jobim, ex-ministro do STF, para assumir o posto.

Questionado pela coluna sobre Aragão, um assessor palaciano respondeu da seguinte forma: “Esquece. Governo novo”.

Aliados de Lula no PMDB e no PT dizem que ele gostaria, ainda, de ter Antonio Palocci de volta à Fazenda, mas o resgate do petista, que caiu duas vezes e, assim como o próprio ex-presidente, é investigado na Lava-Jato, é considerada uma manobra ousada demais.

Tombini prepara saída do Banco Central

Planalto nega 'cavalo de pau' na economia e redução forçada de juros

Por: Geraldo Samor, de veja.com 

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, prepara sua saída do Governo.

A informação — da repórter Claudia Safatle no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do jornalValor Econômico, apenas para assinantes — explicita a velocidade da desintegração do Governo e vai aumentar a volatilidade de um mercado que negocia em função inversa ao destino do Governo: a fortuna de um é o azar do outro.Alexandre Tombini

Numa economia que está há meses à mercê da crise política, a notícia vai aumentar a dificuldade dos investidores para se posicionar neste momento face a um cenário de absoluta incerteza.

Apesar da linguagem suave usada no relato de Safatle, segundo o qual Tombini “tem dado sinais de que pedirá para sair na mexida ministerial que está sendo desenhada,” o mercado já bota o risco no preço: o dólar futuro (contrato de abril) sobe 1,5% e o Ibovespa futuro cai 1,5% esta manhã, na medida em que o relato do Valor se torna conhecido.

De acordo com Safatle, “a eventual confirmação do ex-presidente Lula no cargo de ministro forte do governo Dilma aponta para mudanças profundas na política econômica. Mudanças com repercussões na área monetária e cambial. A discussão sobre uso de reservas cambiais, liberação de compulsório e a clara intenção de reduzir a taxa de juros seriam algumas ‘guinadas’ preconizadas para esse novo momento.”

O fato de que Tombini nunca foi exatamente um querido dos mercados — e sim comandar um BC tido como subserviente ao Planalto — mostra o tamanho do problema. Depois dele, o dilúvio?

A boa notícia esta manhã é que, mesmo com este climão, alguma fonte anônima do Planalto ainda está botando panos quentes na crise.  De acordo com o repórter Ribamar Oliveira, do Valor em Brasília, uma fonte do Palácio garante que “não se vai dar um cavalo de pau na economia” e “não haverá redução forçada de juros”.

Comemorem, senhores.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes, de veja.com

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