Dilma diz que não renuncia e que não se pode pedir isso a presidente eleito legitimamente

Publicado em 11/03/2016 14:45

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BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira que não vai renunciar e argumentou que não cabe a ninguém pedir isso a um presidente eleito legitimamente.

"Acho que solicitar a minha renúncia é reconhecer que não existe base para impeachment. Ou então tentem o impeachment e nós vamos disputar isso. Nós vamos discutir com a sociedade, com o país inteiro por que querem tirar um presidente legitimamente eleito?", afirmou Dilma.

A presidente, que convocou a imprensa no Palácio do Planalto para reiterar que permanece no cargo e não está resignada com possibilidade de não chegar ao término do mandato.

"Não há nenhuma base para qualquer ato contra minha pessoa. Vocês acham que eu tenho cara de estar resignada? Que eu tenho gênio de estar resignada?", questionou a presidente, que enfrenta uma grave crise política e um pedido de abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

"Eu fui presa, eu fui torturada pelas minhas convicções. Eu tenho e devo ao povo brasileiro o respeito pelos votos que me deram."

A presidente também fez uma defesa contundente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve o pedido de prisão preventiva pedido pelo Ministério Público de São Paulo na quinta na investigação ligada a um apartamento tríplex no Guarujá.

O pedido de prisão preventiva de Lula colocou ainda mais tensão no cenário político. O ex-presidente também foi denunciado por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica no caso do tríplex do Guarujá, litoral de São Paulo.

"Acredito que o pedido de prisão do Lula passou de todos os limites", disse a presidente que também fez um apelo pela pacificação no país.

"O governo repudia em gênero, número e grau, este ato praticado contra o presidente Lula. Chama o país a mais dialogo, mais calma, menos turbulência", disse Dilma.

(Por Lisandra Paraguassu)

 

Carlos Alberto Sardenberg: Com Dilma, sem Dilma

Publicado no Globo

Dado o jeitão da economia e supondo que a política segue como está — com a Lava Jato avançando sobre o núcleo do governo e do PT, o Congresso paralisado, o Fora Dilma avançando nas ruas e no Congresso, mas sem desfechos fatais, tipo renúncia ou impeachment, o panorama fica assim:

— por falta dos investimentos, que desabaram, e por falta de renda para consumo, a recessão deste ano vai a mais de 4%, ou seja, uma queda mais forte em cima dos desastrosos 3,8% de 2015;

— o desemprego vai aumentar; medido pela PNAD contínua pode chegar a 13% (contra os 9% da última medida); uma catástrofe;

— a inflação já começou a desacelerar (no IPCA de ontem), basicamente por um mau motivo; pessoas e empresas, com menos renda e menos faturamento, estão comprando menos; e por motivos mais justos, como a queda esperada na tarifa de energia e a moderação em outros reajustes; tudo considerado, uma desaceleração que deixará a inflação abaixo do nível de 2015, mas ainda bem acima do teto da meta;

— as contas externas vão caminhar para o azul, com todo o serviço sendo feito pelo dólar a R$ 4; as pessoas viajam menos, compram menos lá fora, as empresas cortam importações, substituem o que for possível por produto nacional, mais barato em dólar. E os exportadores vendem mais. Também fica bom para o investidor estrangeiro trocar seus ricos dólares por reais desvalorizados e aqui comprar qualquer coisa, de títulos a fábricas.

Resultado: aumenta a entrada de dólares e reduz a saída, e isso vai eliminando o déficit nas contas externas. Isso tira da frente a possibilidade de uma crise cambial — que é quando um país quebra por falta de dólares para pagar os compromisso externos.

Esse é o cenário com Dilma na presidência e o governo funcionando do jeito que está: empurrando com a barriga, incapaz de tocar qualquer medida relevante, especialmente ali onde são mais necessárias, no ajuste das contas públicas. Estas caminham fortemente para o pior, com alta do déficit e da dívida pública. É o ponto central da crise econômica e política.

Como o governo Dilma pode piorar ou apenas não ajudar?

Podem piorar as contas públicas, processo que está em marcha. O governo está se preparando para fazer um novo déficit orçamentário, com aumento de gastos diretos, aliás exigência do PT, com os conhecidos truques para legalizar o ilegal.

Também está empurrando os bancos públicos para oferecerem mais crédito barato. Considerando a situação de queda de produção e consumo, é mais provável que os candidatos ao crédito sejam as pessoas e empresas mais atrapalhadas com suas finanças, ou seja, devedores mais ou menos duvidosos. Grande o risco de aumentar a inadimplência e piorar o balanço dos bancos públicos. Lembrem-se: Banco do Brasil e Caixa já quebraram antes.

Com sua paralisia, em cima de viés ideológico, o governo Dilma não ajuda ali onde só ele poderia fazer algo. Por exemplo: avançar nos acordos internacionais de comércio, inclusive e muito especialmente com os grupos em que se encontram Estados Unidos e União Europeia. Com esse dólar, se o país tivesse mais mercados abertos, a indústria exportadora poderia ser a locomotiva da recuperação. Não será, limitada a esse moribundo Mercosul.

O governo também perde tempo na exploração do pré-sal porque não consegue retirar o modelo de partilha com monopólio da Petrobras — o que fica agora mais difícil à medida que Dilma se atira no colo do PT e se abraça com o investigado Lula. O último leilão de poços foi em 2003; o governo diz que pode, quem sabe, fazer outro em 2017.

Nem vamos falar dos diabos de que o PT nem quer ouvir falar: da reforma da Previdência, muito menos da legislação trabalhista e da indexação do salário-mínimo. O modelo atual impõe ganhos reais de salários e de aposentadorias, num momento de depressão econômica. O resultado é mais desemprego.

Sim, porque com custos em alta, por causa da inflação ainda elevada, e vendas em queda, por causa da recessão, as empresas precisam cortar custos, especialmente da folha salarial. Nos países normais, o sistema permite que se faça o ajuste preservando os empregos e perdendo nos salários e outros benefícios trabalhistas. Aqui, a pretexto de defender o trabalhador, se faz exatamente o contrário, o ajuste via desemprego. Entre os que mantêm seu emprego, até podem aumentos nominais, mas que a inflação acaba comendo. Ficamos assim com perda de emprego e de renda.

Nessas circunstâncias, não há como recuperar a confiança de consumidores e de empresários, o que impede a retomada de consumo e investimentos.

Também sabemos que as medidas que poderiam ajudar dependem, e muito, do Congresso, ali onde há 99 parlamentares investigados, incluindo os presidentes da Câmara e do Senado.

Daí muitos economistas estarem dizendo que, desse jeito, a melhor coisa que pode acontecer é parar de cair e ficar estacionado no fundo do poço, esperando o quê?

Uma mudança política. A consultoria MB Associados fez a conta: com Dilma, a recessão vai a 4,9% neste ano, sem recuperação em 2017. Sem Dilma e com um governo comprometido com os ajustes, a recessão deste ano cai para 3%, com perspectiva de recuperação em 2017.

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Fonte:
Reuters + O GLOBO

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