Dilma vai a Lula… Logo, a sede do governo sai do Palácio do Planalto e vai para a Papuda

Publicado em 12/02/2016 15:53
por REINALDO AZEVEDO, de veja.com.br

Eis o país de Lula. No 36º ano de fundação do partido, no 14º ano do poder petista, parte considerável do futuro do Brasil fica submetida à vontade de um coronel, que atrela políticas públicas às necessidades da máquina que lhe confere poder e às vicissitudes de sua, digamos, folha corrida no setor imobiliário. Digam-me: é isso o que se espera de uma República?

Querem um emblema que explica o fato de estarmos nesta pindaíba? A presidente Dilma Rousseff está em São Paulo. Eu nem tinha me dado conta da agenda, mas notei algo estranho e denso no ar tão logo acordei. Achei que o ar-condicionado estivesse desligado, mas não… Aí entendi.

O que ela veio fazer neste estado? Encontrar-se com Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor. Hummm… É bem verdade que você nunca viu Barack Obama pedir a opinião de Bill Clinton — não que ele não devesse, rsss… Quem sabe fizesse menos besteiras… —, mas, em si, um encontro entre pessoas do mesmo partido pode até ser considerado normal.

O que é anormal é a agenda. Ela, sim, nos remete às coisas que infelicitam o Brasil.

Um dos temas do encontro, segundo informa apuração da Folha, é o sítio de Atibaia. Ora, por que um imóvel que pertenceria aos sócios do filho de Lula é do interessa da presidente da República? Resposta: porque ele se tornou um símbolo, por incrível que pareça, do jeito petista de governar.

A esta altura, não há uma só pessoa que acredite que os tais Fernando Bittar e Jorge Suassuna sejam realmente os donos daquele troço. Todos os indícios apontam que não. Sim, não será a crença desse ou daquele que vai definir a verdade. O que interessa aí é a cadeia de relações que esse sítio revela. E essa cadeia demonstra um país governado nas sombras.

A Polícia Federal decidiu abrir um inquérito para apurar, afinal de contas, de quem é aquele “puxadinho de ricos”, a relação das empreiteiras com ele e se, de algum modo, as benfeitorias realizadas se relacionam com a República Paralela do Petrolão.

Administrativamente, a Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça, cujo titular, José Eduardo Cardozo, é escolha pessoal de Dilma. A presidente vai debater com Lula exatamente o quê?

A Previdência
A Previdência está quebrada. Uma reforma que tornasse o sistema viável não resolveria os problemas do Brasil, mas seria uma sinalização importante. Todas as tentativas honestas e corretas nesse sentido foram duramente combatidas pelo PT desde que o partido existe.

A legenda já deu sinais de que não pretende se engajar na mudança. Quem manda é Lula. Nisso como em tudo mais. Eis por que sempre se cobrem de ridículo as versões de que ele nunca sabe de nada.

O PT não é o PT, mas uma legião, como os demônios. Há os sindicatos, os ditos movimentos sociais, as organizações que considero de caráter paraterrorista, como MST e MTST… Hoje, são minoria no país, mas podem provocar turbulências, como se sabe.

Dilma vai tratar da reforma da Previdência com Lula — o homem do sítio e do tríplex — como quem vai falar com o chefe de uma milícia, com um senhor da guerra. Alguém que não consegue explicar a sua relação com dois imóveis, que é obrigado a se esconder na retórica do vitimismo passivo-agressivo, tem uma espécie de palavra final sobre uma mudança que é vital para os brasileiros.

Eis o país de Lula. No 36º ano de fundação do partido, no 14º ano do poder petista, parte considerável do futuro do Brasil fica submetida à vontade de um coronel, que atrela políticas públicas às necessidades da máquina que lhe confere poder e às vicissitudes de sua, digamos, folha corrida no setor imobiliário.

Digam-me: é isso o que se espera de uma República?

De resto, Dilma Rousseff demonstra, ao marcar essa conversa, que não é mesmo dona de seu mandato. Está entregue às articulações de feiticeiros como Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, braços de Lula no Palácio do Planalto. Trato desse assunto na minha coluna de hoje da Folha. Eles já perceberam que está em curso, em algumas áreas do debate político, uma espécie de troca: corte-se a cabeça do demiurgo e se salve a de Dilma.

Eles forçam a governanta a atrelar o seu destino ao do antecessor. E ela não tem saída, porque é fraca e não sabe fazer política, a não ser se render a esse jogo.

Imaginem a cena: a presidente do Brasil se desloca para discutir a reforma da Previdência e a propriedade de um sítio com quem deve explicações à Polícia.

A isso formos reduzidos.

Dilma tem de ser apeada do poder antes que o Brasil seja apeado do mundo que interessa. E antes que a sede do governo seja transferida do Palácio do Planalto para a Papuda.

 

Surrealismo explícito: Lula vai depor pela primeira vez a Moro. Em vídeo. E como testemunha! Pode gargalhar!

Luiz Inácio Lula da Silva vai ficar pela primeira vez cara a cara com Sergio Moro. Quer dizer: quase! Vai falar por videoconferência. O ex-presidente deporá no dia 14 de março como testemunha de defesa de José Carlos Bumlai, o pecuarista que é seu amigão, no inquérito que investiga um empréstimo feito pelo grupo Schahin ao PT.

Onde está o escárnio? Ser Lula mera testemunha nesse inquérito, não um investigado, é um assombro e uma afronta ao bom senso. Por muito menos, o Ministério Público Federal já fez muito mais. Vamos lembrar.

Em 2004, Bumlai serviu de laranja do PT e assumiu como seu um empréstimo de R$ 12 milhões feito ao partido pelo braço financeiro do grupo Schahin. O pecuarista já confessou o seu papel. Disse que o dinheiro foi enviado ao PT de Santo André, por intermédio do grupo Bertin.

Bumlai, inicialmente, mentiu que pagara a dívida com embriões e esperma de boi. Diante do ridículo da coisa, recuou. Até porque a versão foi desmoralizada por um dos sócios do grupo: Salim Schahin deixou claro que o empréstimo foi feito ao PT e que nunca foi pago.

Então a empresa morreu com o prejuízo? Não! Em 2009, a dívida do partido já estava em R$ 60 milhões. E como foi saldada? Ora, o próprio Salim foi claro a mais não poder: o braço de infraestrutura do grupo fechou um acordo para operar o navio-sonda da Petrobras Vitória 10.000 entre 2010 e 2020. Valor do contrato: US$ 1,6 bilhão — sim, de dólares mesmo. Cobrar dívida pra quê? Aqueles R$ 60 milhões foram perdoados. Ou por outra: foram pagos pela Petrobras.

Agora o busílis
Em sua delação premiada, Fernando Baiano relatou precisamente essa transação e afirmou que Lula participou da negociação. Só Baiano? Não! Nestor Cerveró, igualmente num processo de colaboração negociado com o Ministério Público, disse a mesma coisa: o então presidente da República participara ativamente da negociação.

Cerveró, aliás, foi adiante: garantiu que só conseguiu um cargo de diretor na BR Distribuidora, depois de ter deixado a Petrobras, por interferência de Lula, uma vez que havia ajudado a viabilizar o acordo do navio-sonda. Era gratidão. A mão suja que lava a outra. Em seu depoimento, Baiano assegurou que Bumlai lhe relatara que o então presidente havia mesmo arrumado a boquinha para Cerveró e que isso era parte da operação que incluía empréstimo e navio-sonda.

E, no entanto, para espanto de todos, Lula não é um investigado nesse inquérito: há duas delações que o põem na cena do crime; há o seu amigão, que admite o papel de laranja — com que propósito? —, e há um dos donos do grupo Schahin admitindo a negociata.

Como explicar que Lula não seja um investigado nesse caso? Bem, não tem explicação nenhuma.

A defesa
Afirmou a defesa de Bumlai em documento enviado a Moro:
“A proximidade entre Bumlai e Lula sempre foi muito explorada pelos que, maliciosamente, viam nela a oportunidade de encontrar malfeitos que pudessem ser atribuídos ao segundo, seja durante, seja depois de seus dois mandatos. Nesse período, não foram poucas as insinuações e por vezes até imputações de que o defendente seria um intermediário de negócios escusos de interesse do ex-Chefe do Executivo.”

Ok. O papel da defesa é defender, né? Mas não custa evitar o exagero. Por acaso estamos sendo convidados a acreditar que Bumlai assumiu como seu um empréstimo de R$ 12 milhões só porque é um contumaz admirador das ideias do petismo, é isso?

A defesa de Bumlai resolveu recorrer à ironia:
“Na verdade, o crime [de Bumlai] é ser amigo de Lula e, pasme, Juiz, existe até fotografia de ambos numa festa junina, tornando irretorquível a consumação do delito do artigo 362 do Código Penal. Sua ameaça à ordem pública consiste em seu potencial de, no crescendo da indignação, delatar o ex-Presidente de alguma forma. Esta é a essência deste processo.”

Vamos explicar. O Código Penal tem 361 artigos. A defesa de Bumlai está dizendo que se inventou um crime para poder manter preso o seu cliente. E também acusa, de forma oblíqua, a Operação Lava Jato de submeter o pecuarista à prisão para forçá-lo a denunciar Lula.

De novo: papel da defesa é defender. O chato dessa versão é que, lembre-se outra vez, há três delações que põem Bumlai como personagem ativa de uma tramoia: Baiano, Cerveró e Salim Schahin, que emprestou o dinheiro e foi beneficiário do contrato do navio-sonda. Sem contar a insistência pretérita de Bumlai em assumir como seu um empréstimo quem nem sequer foi pago.

Amigos costumam fazer favores, e ninguém tem nada com isso. Se, no entanto, nesse fazer, há crime, a coisa deixa de ser um assunto privado, e os 361 artigos do Código Penal podem se interessar pela pessoa.

Texto publicado originalmente às 23h33 desta quinta

 

Sabem por que nada dá certo ou tem solução? Porque Dilma fabricou uma recessão...

Ai, ai… Vamos lá à categoria das coisas que dão aquela preguiiiça. O governo está se preparando para aplicar um truque de caráter permanente no Orçamento, mas inventou uma historieta que faz a incúria parecer excesso de rigor. O objetivo é criar uma “banda” para os gastos públicos, que seria variável de acordo com a arrecadação. Pode parecer engenhoso e inteligente. Mas é só um truque para ter meta nenhuma e desrespeitar a lei com método.

Vamos ver. Nesta sexta, o governo iria anunciar o contingenciamento — leia-se: corte — do Orçamento de 2016. Deixou para março. Ok. Está no prazo.

Até lá, o governo teria tempo de definir o seu pacote fiscal, que incluiria a fixação de um teto para os gastos públicos e a meta do superávit primário. E é nesse ponto que entra a macumba malfeita: o superávit variaria numa banda, sempre dependendo da arrecadação. Aí fica fácil, não é mesmo? Qualquer coisa, culpe-se a falta de receita…

O fato é que essa conversa mole toda deriva de uma realidade inescapável: o governo não vai conseguir, mais uma vez, economizar um miserável tostão. Ao contrário. Já sabe que não vai cumprir o prometido, que era fazer um superávit de 0,5% do PIB — magros R$ 30,6 bilhões. O mais provável é que repita o desastre fiscal de 2015.

Havia quem alimentasse a ilusão de que seria possível passar goela abaixo do Congresso a CPMF. Pois é… Não vai. Dilma se lembra das vaias na abertura do Ano Legislativo.

E por que adiar? Porque se está tentando ver qual é a natureza da mágica, que não passe por um corte severo de gastos que teria de atingir também a chamada “área social”. Ocorre que, até agora, não há. E, como não há, o país segue numa severa barafunda fiscal. E sabem quem são os punidos, no fim dessa cadeia de irresponsabilidades? Justamente os mais pobres, que o governo diz querer proteger.

Na reunião da Junta Orçamentária — Fazenda, Planejamento e Casa Civil —, apresentaram-se sugestões de corte de despesas a Dilma que variam de R$ 20 bilhões a R$ 50 bilhões. O busílis é que a perda de receita em razão da recessão pode passar de R$ 100 bilhões.

Sabem por que nada dá certo ou tem solução? Porque Dilma fabricou uma recessão, para compensar irresponsabilidades passadas, que anda aí roçando a casa dos 4%. Isso fez despencar a arrecadação. Não obstante, a inflação se mostra renitente, o que empurrou os juros para a estratosfera, o que força a economia para baixo, piorando a arrecadação, o que agrava o quadro fiscal, que está na origem dos males.

É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Sim, esse círculo pode ser interrompido. Dilma tem de deixar a Presidência da República, em nome da Constituição e das leis. “Ah, isso não diminui despesa nem aumenta a arrecadação.” Talvez não. Mas é preciso romper o cerco da desconfiança.

Todo mundo sabe que, desse mato, não saem mais os coelhos que Lula costumava assar em seu sítio. Eu me refiro a um modestinho, que ele tinha em Ribeirão Pires e que, segundo sei, estava em seu nome.

Essa gente tem de parar de atrapalhar o Brasil. Chega!

 

Minha coluna na Folha: “Pega Lula, salva Dilma”

Leiam trecho:

A única coisa sensata que Dilma Rousseff tem a fazer, do seu ponto de vista, é torcer pela desgraça de Lula. É sua chance de sobreviver, ainda que remota. É claro que ela sabe disso, embora seja obrigada a tolerar no Palácio do Planalto tipos como Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), que buscam atrelar a sorte do seu mandato ao destino do ex-presidente.

Dilma é uma péssima gestora –e os próprios petistas, de todos os matizes, o admitem sem cerimônia– e uma articuladora sofrível. Se “a política como a arte do possível” é adágio que pode abrir a senda para o conformismo, o inconformismo de Dilma transforma o impossível numa meta sempre a ser dobrada. O resultado são desastres em série. Mas, obviamente, estúpida ela não é. A esta altura, já percebeu que não há mais salvação para Lula.

Ainda que ele não venha a ser atropelado tão cedo pela lei, tendo até de visitar, quem sabe?, o xilindró, é claro que está acabado. Duas ou três vezes eu o chamei nesta coluna, citando um poeta, de “cadáver adiado que procria”. Pois o adiamento deu lugar à precocidade. Lula morreu mais depressa do que supunham seus adversários e seus fiéis.
(…)
Resta evidente que há “spin doctors” a serviço do Palácio operando para que Lula, o totem do PT, seja agora rebaixado à condição do bode expiatório. O PT percebeu e organiza o contra-ataque. A campanha ridícula que o partido tenta emplacar –”somos todos Lula”– busca apelar à velha solidariedade das esquerdas, tentando arrastar também o governo em defesa daquele que não tem salvação.
(…)
Íntegra aqui

 

Carlos Alberto Sardenberg: Confiança x tentação

Publicado no Globo

Quanto maior a dívida, maior a taxa de juros que o devedor terá de pagar para se financiar. E mesmo pagando caro, terá dificuldade para arranjar credores dispostos a emprestar mais dinheiro. Certo?» Clique para continuar lendo

J. R. Guzzo: É só explicar

Publicado na versão impressa de VEJA 

O que poderia ser mais fácil para o ex-presidente Lula do que explicar ao público e às autoridades da Justiça Penal brasileira, acima e além de qualquer dúvida, as histórias desse apartamento triplex no Guarujá e desse sítio em Atibaia, ambos em São Paulo, que tantas dores de cabeça lhe têm dado? Se não há nada de errado com os dois negócios, ou pelo menos nada que possa ser descrito como francamente ilegal, bastariam quinze minutos para deixar tudo muito bem justificado. Qual o problema? Não se trata de álgebra avançada. São casos bem simples, que qualquer cidadão pode entender perfeitamente, sem nenhuma necessidade de chamar advogado ou ficar nervoso. Ou os imóveis são dele, ou não são; ou foram reformados com seu próprio dinheiro, ou alguém pagou o serviço em seu lugar. De um jeito ou do outro, tudo pode estar correto. Lula tem recursos de origem boa para comprar e reformar propriedades; também tem o direito de usar propriedades pertencentes a outras pessoas e beneficiar­se de melhorias que os proprietários fizeram nelas. Houve a ajuda de empreiteiras de obras públicas num e noutro caso, mas e daí? Elas já lhe pagaram 27 milhões de reais entre 2011 e 2014 para fazer palestras, e Lula diz que se orgulha disso. Então: é só dizer direitinho, afinal, o que está acontecendo. Nada mais simples para um homem que acaba de jurar que não existe nenhuma “alma viva” mais honesta do que ele entre os 200 milhões de habitantes deste país.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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