Boi: Alta nos custos de produção reduz rentabilidade dos pecuaristas
O aumento nos custo de produção, desde o segundo semestre do ano passado, tem reduzido a rentabilidade dos pecuaristas de corte. De janeiro a novembro de 2015, os custos subiram em média 15%, enquanto que a valorização da arroba no boi gordo não passou de 3%.
Entre os fatores que mais devem impactar nos gastos do produtor neste ano estão os insumos, que terão seu valor onerado pela alta do dólar; a alimentação animal que sofre efeito da elevação nos preços do farelo de soja e principalmente o milho; e o alto custo da reposição.
De acordo com o analista da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, em 2015 a rentabilidade do pecuarista altamente tecnificado de ciclo completo, que produz em média 20 arrobas por hectare/ano, "vinham com margem de R$ 1.200,00 a R$ 1.300,00 reais, e caiu no final do ano para R$ 800,00 por hectare no ano", ressalta.
O alto custo da reposição de boi magro e, principalmente, o descompasso entre a oferta e demanda de bezerros, talvez seja a maior preocupação do setor neste ano. De acordo com levantamento da Scot, a relação de troca de reposição para o recriador é a pior desde 1996. Na primeira semana de janeiro foram necessárias 9,1 arrobas de boi gordo para a aquisição de um bezerro desmamado (6@).
Para Alex Santos Lopes, consultor da Scot Consultoria, "os preços da reposição devem variar em 2016, acima dos preços praticados para a arroba do boi gordo, considerando todas as categorias. Para o bezerro, por exemplo, que é a primeira categoria a ser ofertada, ainda não tivemos um processo de retenção de matrizes muito significativo, começou no ano passado, mas para fazer efeito ainda é preciso de mais dois a três anos", explica.
Atualmente o boi magro 12@ em São Paulo é negociado a R$ 2.020,00, já o bezerro 12 meses 7,5@ na mesma praça tem a cotação em R$ 1.510,00/cab. Enquanto que praça paulista, na região de Araçatuba, o boi gordo subiu, com a referência em R$150,00/@, à vista.
Os custos com alimentação, no caso do pecuarista que faz suplementação a pasto ou confinamento, também é um motivo de cautela neste ano.
Com o milho em alta no mercado brasileiro, a relação de troca entre o preço do cereal e as cotações do boi gordo atingiu o pior nível dos últimos treze meses. Sustentado pelas exportações aquecidas e pela taxa de câmbio, o preço do cereal tem atingido níveis recordes em diversas regiões do país neste início de ano.
Na comparação com o igual período do ano passado, em janeiro o pecuarista pagava 49,2% a menos pelo grão. De acordo com a Scot, somente nos primeiros dias de janeiro a alta acumulada para o cereal no mercado interno foi de 20% considerando a praça de São Paulo.
Na relação de troca, o poder de compra do pecuarista diminuiu 30,3% no último ano. Atualmente é possível comprar 3,81 sacas de milho com o valor de uma arroba de boi gordo, ou seja, o equivalente a 1,66/sc a menos em comparação a janeiro de 2015.
Além disso, "as projeções são de que a taxa cambial continue subindo, já começamos o ano com patamar acima dos R$ 4,00 e ainda é preciso considerar que as indústrias não conseguiram repassar toda a alta (nos insumos) no último ano, então isso pode ter impacto agora", ressalta o analista da Scot, Gustavo Aguiar.
Para os preços da arroba, as avaliações indicam que devemos continuar em patamares próximos aos observados em 2015. Mesmo com a crise afetando o consumo de carnes no Brasil, a oferta estará ajustada a demanda ao longo de todo o período.
Ainda assim, Lopes lembra que a arroba não terá grande potencial de alta, considerando a retração no consumo interno. Por isso alcançar uma boa rentabilidade será um desafio neste ano. "Há risco de o pecuarista trabalhar no negativo, especialmente aqueles que compraram a reposição em 2015, adquirindo o bezerro a R$ 1.300,00 a R$ 1.500,00", alerta.
Diante desse cenário, os analistas da Consultoria consideram que dentre todos os sistemas na pecuária de corte, o ciclo completo deverá ter a melhor conjuntura, pois o produtor consegue 'fugir' da maior custo que é a reposição.
Consequências
Todo esse cenário deve influenciar na intenção de confinamento para 2016. Com os altos custos, os analistas consideram que poderemos ter uma redução no volume de cocho, e além das conseqüências na oferta, esse fator pode reduzir ainda mais a rentabilidade dos pecuaristas.
A vantagem de entrar no confinamento em 2016 vem do aproveitamento da fase de alta do ciclo pecuário, já que para 2017 é esperado menos firmeza nos preços da arroba do boi gordo.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que nos três primeiros trimestres de 2015 a participação das fêmeas nos abates bovinos no Brasil foi de 40,8%. O número, de acordo com os especialistas, é semelhante ao do ano de 2008, que foi seguido de uma forte retenção no ano seguinte, onde o número caiu para 29,5%, o que deve gerar um novo pico de retenção de matrizes e a busca no mercado por fêmeas.
"Já acreditamos para 2017 uma virada de ciclo, independente do cenário econômico, pois vimos de uma ressaca grande a dois anos seguidos", pondera Lopes.
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