Pré-custeio: Comprovamos que o dinheiro existe; difícil será acessá-lo
A Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, anunciou na última semana o valor de R$ 10 bilhões que serão destinados ao chamado pré-custeio agrícola na safra 2016/17. De acordo com a ministra, os recursos ofertados pelo Banco do Brasil (BB) serão financiados a juros de 8,75% para o custeio em geral, e 7,75% para os empréstimos via Pronamp.
“O Banco do Brasil nos garantiu que tem R$ 10 bilhões da poupança rural e do depósito à vista para o pré-custeio. Isso está solucionado, não me preocupa mais”, disse Kátia em coletiva aos jornalistas.
Os recursos usados pelos produtores entre abril e junho deste ano - para antecipar a compra de insumos - serão originários da poupança rural e dos depósitos à vista. Essa captação, no entanto, só será possível, pois, no final do ano passado, o Conselho Monetário Nacional aprovou uma manobra através da Resolução nº 4.460/15 que altera as regras de cálculo das aplicações compulsórias na poupança rural. Com isso, será possível liberar um volume maior de compulsórios, que na prática vão permitir ao BB liberar cerca de R$ 12 bilhões que estavam retidos no Banco Central.
A oferta superior nesta temporada também é reflexo da maior captação da poupança rural feita pela instituição nos últimos meses. Conforme reportagem do Valor Econômico, o BB realizou uma grande ação de marketing nos últimos meses para atrair recursos para a poupança.
No entanto, o economista Miguel Daoud afirma que essa manobra terá "maior efeito político do que prático, pois o valor de R$ 10 bilhões possivelmente não será suficiente para atender a demanda do setor, além disso, assim com ocorreu com o Plano Safra do ano passado, as condições de acesso ao crédito serão muito restritas", explica.
No ano passado, a falta de recursos prejudicou o planejamento de muitos produtores para a safra 2015/16. Com baixa captação, o banco ofertou até junho de 2015 apenas R$ 4 bilhões a juros controlados, um valor muito abaixo da demanda trazida pelo agronegócio.
O economista da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul), Antônio da Luz, lembra que "a falta do pré-custeio é muito prejudicial ao produtor", na safra 2015/16, por exemplo, a cadeia produtora do arroz sofreu uma grande crise pela falta do recurso, descapitalizado e restringindo da atividade muitos arrozeiros.
Além disso, Luz alerta que as condições para a tomada de crédito serão ainda mais seletivas neste ano, porque em situações de risco e ambientes incertos, as instituições financeiras precisam assegurar garantias. "Quem pegou um valor em outros anos, provavelmente não vai conseguir nesta temporada, será uma repetição do que aconteceu no custeio", afirma o economista.
Segundo Daoud, mesmo com o mecanismo que altera as regras de cálculo das aplicações compulsórias na poupança rural, "ainda assim não é possível assegurar que teremos pré-custeio. Com a mudança, o banco terá o dinheiro, mas com a economia incerta tudo pode acontecer", alerta.
O Assistente Técnico do Senar Goiás, Cristiano Palavro, adverte ainda que a ausência do recurso em um período onde os produtores já sofreram com falta de capitalização no ano passado, altos custos de produção e alguns mais graves com frustração de safra, criaria um cenário de alto risco.
"Muitos produtores utilizam o pré-custeio não só para antecipar suas comprar e aproveitar a melhor janela de preço dos insumos, mas também é uma forma de recurso para o pagamento de compromissos financeiros, então esse mecanismo é extremamente importante para o setor", acrescenta Palavro.
O artifício financeiro para poderá poupar cerca de R$ 815 milhões em pagamentos de subsídios pelo Tesouro Nacional. O rendimento recebido pelo BC com essas operações servirá para bancar os subsídios, que normalmente são financiados pelo Tesouro.
A equipe do Notícias Agrícolas entrou em contato com o Banco do Brasil, mas até o fechamento dessa reportagem a instituição decidiu não se pronunciar.
MAPA diz que contratação de crédito para custeio cresce 20% na safra atual
Brasília (14/01/2016) - Os produtores rurais brasileiros expandiram a tomada de crédito para custeio na safra 2015/2016. De julho a dezembro do ano passado, houve crescimento de 20% no volume contratado da modalidade em relação ao mesmo período de 2014, totalizando R$ 51,2 bilhões. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (14) pelo ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar, durante entrevista coletiva.
Os empréstimos nos seis primeiros meses da atual safra – incluídos custeio, comercialização e investimento - tiveram ligeira alta em relação a 2014, passando de R$ 76,304 bilhões para R$ 76,491 bilhões. O valor representa 41% do total disponibilizado pelo governo federal, de R$ 187,7 bilhões, de acordo com dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), do Banco Central.
Somente o custeio respondeu por 67% dos recursos já contratados, num total de 298 mil operações (incluídos grandes e médios produtores). Esses recursos são usados, por exemplo, para compra de insumos, plantio, tratos culturais e colheita.
Juros controlados
Nassar destacou o aumento de 13% nas operações de crédito e comercialização a juros controlados, que saltaram de R$ 49,4 bilhões em 2014 para R$ 55,7 bilhões no ano passado. Do total de R$ 96,5 bilhões disponibilizados para essa modalidade, 58% já foram contratados.
“Quando lançamos o Plano Agrícola e Pecuário, enfatizamos a necessidade de se priorizar a ampliação do custeio controlado. O resultado nos primeiros seis meses mostra que nossa aposta estava correta. Estamos cumprindo a meta e isso está se refletindo em aumento de produção mesmo depois de uma supersafra no ano anterior”, afirmou André Nassar, que é o secretário de Política Agrícola do Mapa e ocupa interinamente o cargo de ministro.
O governo trabalha para ampliar a oferta a juros livres pelas Letras de Crédito do Agronegócio, instrumento pelo qual os produtores contrataram R$ 1,1 bilhão até dezembro de 2015. O montante, segundo Nassar, poderia ter sido ainda maior.
“Os financiamentos com recursos da LCA tiveram início na atual safra, então os bancos ainda estão se adaptando. Estamos estudando com calma o cenário e vamos propor medidas que permitam às instituições financeiras serem mais agressivas no uso da LCA”, ressaltou.
Comercialização e investimento
A comercialização se manteve estável em R$ 12 bilhões e o investimento recuou de R$ 21,4 bilhões em 2014 para R$ 13 bilhões nesta safra. A retração pode ser explicada pela diminuição da demanda por parte dos produtores, que ampliaram seus investimentos nas safras passadas por meio de programas de incentivo, como o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI).
“A agricultura veio em uma tendência de fortes investimentos. Então, este é um momento em que é natural que o produtor reduza o apetite por investir. Além disso, o agricultor está enxergando maior risco, preferindo se endividar em curto prazo. Foi uma decisão de gestão”, observou Nassar.
Médios produtores
Tiveram destaque as linhas de financiamento para custeio do médio produtor (Pronamp) – com faturamento de até R$ 1,6 milhão ao ano –, que atingiram R$ 9,8 bilhões. O valor representa incremento de 38% em relação ao consolidado de julho a dezembro do ano anterior (R$ 7,1 bilhões). Os bancos públicos aumentaram em 38% a oferta crédito para a categoria e em 37% para os grandes produtores.
“Esse aumento muito expressivo se deve ao direcionamento que nós demos neste Plano Agrícola, tirando os extra tetos e aumentando a obrigação dos banco em emprestarem para o Pronamp”, disse o ministro interino. Ele também destacou a participação majoritária dos bancos públicos e das cooperativas de crédito nesta modalidade de financiamento.
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