Mercado de café: NOVA IORQUE CONSOLIDA E LONDRES AFUNDA
O indicador da indústria de manufaturados da zona do Euro teve o maior crescimento dos últimos cinquenta e quatro meses (em grande parte graças a Alemanha), enquanto no Japão a expansão do PMI foi a mais forte em quase dois anos. Os dados não atrapalharam a posição baixista no Euro e no Iene que boa parte dos investidores tem em seus livros, mas proveram suporte para os índices acionários das principais economias.
A moeda americana retomou seus ganhos com o índice do dólar muito próximo de fazer uma nova alta no ano, arrastando para baixo os três mais seguidos índices de commodities. O café em Nova Iorque se comportou bem, ainda mais se considerarmos a desvalorização do Real ocasionada por uma nova turbulência política no Brasil.
O contrato “C” consolidou os ganhos recentes na semana encurtada pelo feriado de Ação de Graças (Thanksgiving) nos Estados Unidos. Já o robusta em Londres ficou para trás, caindo 58 dólares por tonelada em cinco dias.
A influência do cenário macroeconômico mantém a ressaca mundial com as commodities, que viveram um boom há alguns anos. O crescimento do PIB chinês estimado estar ao redor de 5% ao ano, bem abaixo do que o governo divulga, juntamente com muitas matérias-primas estarem tendo uma produção maior do que a nível de utilização são refletidos no índice de frete marítimo que fez uma nova mínima histórica (desde 1985). O Baltic Dry Index rompeu 500 pontos, ou uma queda de 95.78% dos 11,273 pontos que registrava em maio de 2008, no pico da febre das commodities que fazia o Lula se dizer o pai de todas as criações benevolentes brasileiras.
De volta ao café notamos uma atividade mais acanhada dos futuros e no mercado físico, com os diferenciais mais firmes e muitos se preparando para as festas de fim de ano. Mesmo na Colômbia, que está no período de safra, o volume negociado não está tão forte. A fraqueza do robusta fez os cafés vietnamitas também encarecerem, no país que colheu em torno de 30% da produção de 15/16.
O USDA divulgou seu relatório para o Vietnã estimando a produção atual em 29.3 milhões de sacas, e um carrego de 5.83 milhões de estoques. Com um consumo de 2.6 milhões e exportações que podem voltar a 28.72 milhões, segundo o mesmo órgão, o estoque de passagem do próximo ano ficará em 4.18 milhões de sacas. Vale notar que no ano safra 14/15 as exportações totalizaram 22.07 milhões de sacas, beneficiando o ganho de participação de mercado (e estocagem externa) do conillon brasileiro.
No Brasil os preços no mercado interno tanto do conillon quanto do arábica se mantém em patamares atrativos, o que deveria se traduzir em um/a diferencial/reposição mais barato/a. Quem está precisando comprar café para torrar ou mesmo exportar parece estar fazendo tendo de realizar prejuízo.
Os prognósticos dos institutos meteorológicos indicam chuvas abundantes no Espírito Santo e Zona da Mata nos próximos dias e o mercado espera que as precipitações se tornem regulares de agora em diante. Não acho que haja prêmio algum embutido nos preços atuais de qualquer problema relacionado ao clima. Por outro lado há, sim, algumas proteções de alta (muito mais) em Nova Iorque e (pouco) em Londres.
Um respeitado banco do agronegócio mundial estima preliminarmente que o Brasil produzirá 58 milhões de sacas em 2016/2017, sendo 42 milhões de arábica e 16 milhões de conillon. Mesmo com uma produção deste tamanho, que alguns creêm não ser possível, o banco diz que o superávit mundial será de 3.7 milhões de sacas, o que é muito pouco para uma estocagem mundial relativamente baixa.
Isto sem falar que os fundos de índice vão comprar café no começo do ano, que muito investidores estão vendidos em commodities (que virou um palavrão), os fundos vendidos em café e que alguns economistas já começam a ver uma retomada de inflação no mundo – que pode reverter o apetite às commodities.
Me parece que tudo o que é baixista já está descontado nos preços, e mesmo uma arbitragem de NY/LN mais aberta não é suficiente para segurar o contrato “C”, haja vista que já vimos a mesma em três dígitos de desconto.
Quanto à crise política brasileira, risco para uma nova queda do Real, dizem muitos analistas que deve se dissipar depois do Carnaval, que para nossa sorte em 2016 será no começo de fevereiro.
Na verdade o verão e as festas não são períodos onde a população proteste muito. Inclusive neste aspecto eu, particularmente, acredito que se o clima no Brasil fosse rigoroso como o do hemisfério Norte a Dilma teria caído no último inverno. Mas isto, obviamente, não tem nada a ver com um comentário de café.
Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
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