Dilma tenta mea-culpa, mas se atrapalha... "Desgraça pouca é bobagem"

Publicado em 24/08/2015 18:28 e atualizado em 25/08/2015 03:41
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM + VINICIUS TORRES FREIRE, DA FOLHA DE S. PAULO (+ articulistas )

DILMA BOLADAÇA 1 – Dilma tenta mea-culpa, mas se atrapalha. Ou: Acho que ela não sabe a diferença entre “pró-cíclico” e “anticíclico”. Ou ainda: Regulador Xavier 1 e 2

A presidente Dilma Rousseff acertou numa coisa: na estampa. E só!

A presidente Dilma Rousseff acertou numa coisa: na estampa. E só!

A presidente Dilma Rousseff deu ao menos uma dentro: estava com a roupa certa, nesta segunda, quando chamou três jornais para conceder uma entrevista coletiva. Pelas fotos, não sei se era uma blusa ou um vestido, mas a estampa era de bom gosto. Todo o resto de sua fala é um apanhado de erros e de considerações absolutamente inverossímeis.

Sim, compreendo a situação meio desesperadora em que ela está. Mas é preciso que tenha um mínimo de respeito pela nossa inteligência. O problema é que anda mais fácil, para Dilma, acertar na roupa do que nos atos e palavras. Ela poderia ter convocado rede nacional de rádio e televisão, mas preferiu chamar a Folha, o Estadão e o Globo para inaugurar a fase Dalva de Oliveira do seu governo: “Errei, sim, manchei o teu nome…”

É, caros leitores, a coisa está tão feia que restou à governanta ensaiar agora o caminho do “mea-culpa”, embora ela tenha feito questão de excluir, vamos dizer, o dolo político. Vamos ver como a presidente confessa o erro na transcrição feita pelo Estadão:
“Vocês sempre me perguntam: no que você errou? Eu fico pensando o que podia ser. Em ter demorado tanto para perceber que a situação poderia ser mais grave do que imaginávamos. E, portanto, tivéssemos que ter começado a fazer uma inflexão antes. Não dava para saber ainda em agosto (do ano passado). Porque não tinha indício de uma coisa dessa envergadura. A gente vê pelos dados. Setembro, outubro, novembro. Nós levamos muitos sustos. Nós não imaginávamos. Primeiro, que teria uma queda da arrecadação tão profunda. Ninguém imaginava isso. Nós sustentamos o investimento. Nós mantivemos a desoneração da folha. Desoneramos a cesta básica. Tem coisas que não voltamos atrás, como cesta básica. Poderíamos ter reajustado alguma dessas coisas. Cada vez que faço isso, diminuo a política de investimentos. Fizemos a política pró-cíclica. Para preservar emprego e renda. O que é possível considerar é que poderia ter começado uma escadinha. Agora, nunca imaginaria, ninguém imaginaria, que o preço do petróleo cairia de 105 em abril, 102 em agosto, para 43 hoje. A crise começa em agosto, mas só vai ficar grave mesmo entre novembro e dezembro. É quando todos os Estados percebem que a arrecadação caiu.”

Os fatos
Infelizmente, a presidente sabe que não está falando a verdade. Ou será que nem isso ela sabe? O que se vê estava absolutamente previsto, tanto é assim que ela atribuiu a Aécio Neves parte das medidas que ela já sabia que teria de adotar. Surpresa com a queda de arrecadação? É mesmo?

Em julho de 2014, ela já havia caído 1,6% em relação ao mesmo mês em 2013. Sem os R$ 7,130 bilhões do Refis em agosto do ano passado, a redução teria sido de 2,43%, mas o governo maquiou e apontou um aumento de 5,54%. Pedalada arrecadatória. Em setembro daquele ano, novo truque: o Refis entrou outra vez na conta, e a queda de 0,89% virou elevação. No mês seguinte, outubro, a queda real foi de 2,88%, mas tome a mágica do Refis, e se viu um aumento de 1,33%. Em novembro de 2014, as falácias da arrecadação extra haviam chegado ao fim, e a despencada foi de espantosos 12,86% na comparação com igual mês do ano anterior. Em dezembro, novo tombo: 8,9%.

Vale dizer: em razão da desaceleração da economia e da desastrada política de desonerações do governo, a receita fechou 2014 com queda real de 1,79% na comparação com 2013 — queda iniciada em julho. E Dilma vem agora falar que foi surpreendida?

Acho que não já não sabe o que diz. Sinceramente não entendi, e creio que nem ela, o que quis dizer a governanta ao afirmar: “Fizemos a política pró-cíclica”. Heeeinnn? Pró-cíclica? Quando?

A presidente esqueceu o lema do Regulador Xavier 1, para excesso de fluxo, e 2, para escassez? Nos anos Lula, sim, o governo aproveitou um período de expansão da economia para gastar dinheiro a rodo — foi pró-cíclico nefasto quando deveria ter sido anticíclico prudente. Isto é: havia excesso de fluxo, mas, mesmo assim, ministrou-se um Regulador 2 na economia. Afinal, buscava-se o jorro eleitoral.

Nos quatro primeiros anos de Dilma, os sinais de que a farra havia chegado ao fim eram evidentes e, no caso, ela deveria, de fato, ter sido pró-cíclica e, pois, atuado no sentido dos novos tempos, contendo gastos. Mas aí ela decidiu ser anticíclica, não é mesmo? Fez política agressiva de desoneração, baixou os juros na porrada e armou a arapuca que aí está. Ela só passou a ser pró-cíclica com Joaquim Levy — vale dizer: o governo é obrigado a medidas de contenção em razão da recessão.

Regulador xavier um e dois

Eu fiquei com a ligeira impressão de que a “economista” Dilma Rousseff não sabe que um governo é anticíclico quando atua contra o ciclo dado da economia e é pró-cíclico quando a favor dele. Para ser simples, mas eficiente: os governos são prudentemente anticíclicos quando são austeros em momentos de grande expansão para ser pródigas nos momentos de contração. E são pró-cíclicas quando alimentam os gastos na euforia ou apertam o cinto quando chega o período das vacas magras.

O que é melhor? Depende. Não são categorias morais. O melhor é ser prudente numa ou noutra coisa. Políticas pró-cíclicas irresponsáveis têm sempre a rebordosa — e Dilma pagou parte do preço das maluquices de Lula. Políticas anticíclicas igualmente irresponsáveis conduzem ao buraco, e Dilma paga o preço das maluquices de Dilma.

No dias correntes, se não tomarem cuidado com a ânsia pró-cíclica de Joaquim Levy — medidas restritivas num ambiente já deprimido —, vai demorar muito para a vaca sair do brejo.

Nesse particular, eu fiquei em dúvida se Dilma estava tentando enganar os jornalistas, uma hipótese benevolente, ou se ela realmente não sabe o que diz — o que é coisa bem pior para nós.

Por Reinaldo Azevedo

 

DILMA BOLADAÇA 2 – Até o mês passado, Dilma chamava corte de ministérios de “lorota”. Ou: Quando o passado condena e ilumina

A presidente Dilma Rousseff tem 7.895 coordenadores políticos. Logo, não tem nenhum. A redução dos ministérios — dez seriam cortados — e de cargos de confiança do primeiro escalão — talvez mil — foi anunciada de maneira meio tímida e atrapalhada pelos ministros Nelson Barbosa e Gilberto Kassab, do Planejamento e Cidades, respectivamente. Se for para valer, obviamente o próprio governo deveria ter dado mais atenção e peso à coisa. Ao perceber o erro crasso de comunicação, Dilma chamou ao Palácio repórteres de três jornais: Folha, Estadão e O Globo.

Pois é…

Disse a governanta:
“Queremos melhorar gestão, detectar em quais pontos há sobreposição de função. Obviamente, você tem uma derivada por obter eficiência, que é resultar na redução de gastos. Se não fica demagógico. Você não faz só isso. Temos uma meta. Achamos, à primeira vista, porque precisamos fazer todos os cruzamentos, que conseguimos reduzir dez ministérios. Mas não é só ministério que a gente quer reduzir. Em cada um dos ministérios, mesmo aqueles que, eventualmente, não serão objeto da reforma, teremos uma ação sobre eles. Queremos reduzir secretarias. Queremos reduzir sobreposição de órgãos nesses ministérios. Tem ministério com número de secretarias que foram sendo ampliadas ao longo dos anos. Então, agora, vamos passar todos os ministérios a limpo. Olhando, justamente a dimensão.”

Que coisa. Durante a campanha eleitoral, Dilma afirmou que reduzir ministérios era coisa de mentalidades tecnocráticas. No mês passado, ela concedeu uma entrevista à Folha em que classificava essa proposta de “lorota”. Podemos refrescar a memória com dois vídeos. Há um ano, no Estadão, a então candidata à reeleição sugeria que o corte na estrutura administrativa do governo federal era coisa de quem queria suprimir pastas da área social. Vejam o vídeo.

Ela estava, obviamente, respondendo a Aécio Neves, que foi claro na campanha eleitoral: “

Dilma que não venha com conversa! Não basta fazer um mea-culpa mixuruca. É preciso muito mais do que isso. Se for o caso, ela tem é de pedir desculpas. Posso até aceitá-las por essas coisas em particular. Mas acho que ela precisa deixar o governo. O motivo legal é a agressão à Lei 1.079, a Lei de Responsabilidade. O motivo político é o escancarado estelionato eleitoral, mais uma vez evidenciado.

Olhem aqui: uma das funções do jornalismo é exercitar a memória. Na entrevista desta segunda, Dilma afirmou o seguinte sobre a reforma da Previdência:
“A pergunta é a seguinte: nós vamos ter que fazer reformas? O governo tem gastos obrigatórios. 55% desses gastos são com a Previdência Social. Esses gastos com a Previdência são frutos do fato que nos últimos 13 anos tivemos uma ótima evolução. Primeiro, aumentou a expectativa de vida em quatro anos e meio. Segundo, as pessoas hoje têm uma taxa de mortalidade menor. Temos uma situação etária que mudou. Teremos que encarar, mais cedo ou mais tarde, essa situação. Quanto mais tarde, pior para o País. O padrão de crescimento que teve até aqui não vai durar. Não é aquele mais. Não é aquele para a China, para os Estados Unidos. Não é para ninguém. E vamos ter que nos adaptar nessa travessia. Nós não queremos a Grécia, queremos?”.

Em 2012, ano em que houve a primeira despencada no preço das commodities, Dilma participou, na França, do Fórum Pelo Progresso Social. Lula estava presente. Diante de seu mentor, acreditem, ela atacou severamente o corte de gastos inclusive nos países ricos. Sim, senhores: Dilma dava aula aos europeus sobre como deveriam proceder com suas respectivas economias, afirmando que os cortes de benefícios feitos por lá para enfrentar a crise afetavam o estado de bem-estar social. Lula cofiava o bigode, como se fosse o autor de uma modelo alternativo de economia. Eis o vídeo. Volto em seguida.

Eram tempos em que os valentes batiam no peito para declarar que o Brasil estava imune à crise e que havíamos descoberto por aqui um jeito só nosso de fazer as coisas, que servia de inspiração ao mundo. Economistas em penca advertiam para o desastre em curso. Nada! Seriam todos pessimistas, neoliberais e invejosos. A popularidade da giganta ultrapassada a casa dos 70%. Hoje, está em 7%.

Não, senhores! Não tentem chamar a arrogância daqueles tempos — e faz tão pouco tempo! — de ignorância. Não aceito! Ainda que assim fosse, isso só tiraria o aspecto doloso da coisa. Uma presidente que confessa ter errado tão monumentalmente ao ler os dados da economia do seu país e do mundo é, então, de assombrosa incompetência. Mais uma razão para ir para casa.

Dilma é vendida por aí como uma leitora voraz. Que bom! Há uma infinidade de livros. Que ela se divirta longe de nós.

Por Reinaldo Azevedo

 

ANÁLISE da folha de s. Paulo:

Ao combater um sintoma, não a doença, redução de pastas tende a ser inócua

A experiência internacional mostra que o número de ministros no Executivo brasileiro é, sim, exagerado. Mas a quantidade de pastas é consequência de fragilidades políticas –e não causa de fragilidades orçamentárias.

Guardadas diferenças de nomenclatura e estruturas de governo, o primeiro escalão nos Estados Unidos é formado por 22 departamentos e postos de hierarquia equivalente; no Reino Unido, há 24 departamentos ministeriais.

Padrões semelhantes são encontrados em boa parte do mundo desenvolvido, o que deu força ao diagnóstico segundo o qual o congestionamento de ministros pode dificultar a tomada de decisões e a eficiência do governo.

Também se pode concluir, porém, que é mais fácil trabalhar com Executivos enxutos em democracias mais maduras e estáveis –onde, por exemplo, apenas dois partidos disputam o poder.

A multiplicação de postos ministeriais é quase ininterrupta ao longo da redemocratização brasileira: eram 12 em 1990, na posse de Fernando Collor, primeiro presidente eleito no período; são 39 agora, sob o governo Dilma Rousseff, se incluída na conta a pasta de Relações Institucionais, sem titular.

A criação e distribuição de ministérios tem papel decisivo na formação de bases de apoio no Legislativo, nas quais se combinam mais de uma dezena de partidos de diferentes orientações. Quanto mais frágil e heterogênea é a coalizão, mais cargos tendem a ser necessários.

Reduzir o número de ministérios em um momento de debilidade política, portanto, é combater um sintoma, não a doença. Não será surpresa se a medida se mostrar inócua ou cosmética.

Economia fiscal, se houver alguma, será pouca. Os servidores têm estabilidade no emprego e serão simplesmente realocados em outras repartições. A margem para cortar cargos de confiança é limitada pelos acordos políticos do governo.

As dificuldades começam pelo próprio partido da presidente: foi especialmente para atender o PT e suas diferentes correntes que o número de pastas chegou ao recorde atual.

BENJAMIN STEINBRUCH

Virar o jogo

Virar o jogo significa, em poucas palavras, estancar o processo recessivo, voltar a crescer e a criar empregos

Todo brasileiro conhece a expressão que está no título acima. O Brasil está perdendo de 3 a 0 e precisa virar esse jogo de qualquer jeito. E virar o jogo significa, em poucas palavras, estancar o processo recessivo, voltar a crescer e a criar empregos.

É relativa essa história de que o modelo de estímulo ao consumo se esgotou. A presidente do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, que entende de consumo, observou recentemente que apenas uma pequena parcela da população tem TVs modernas, de tela plana, só 54% das famílias têm máquina de lavar automática e que será preciso construir 23 milhões de casas em dez anos para atender às necessidades do país.

As carências brasileiras são enormes em praticamente todas as áreas e não faz sentido achar que acabou o espaço para o crescimento de consumo. O que caiu, na verdade, foi a confiança do consumidor, assustado que está com a saraivada de notícias ruins na política, na ética e na economia. Centenas de milhares já perderam emprego e renda, mas mesmo quem continua empregado procura adiar compras para não se endividar ou queimar reservas.

Para virar o jogo, portanto, é preciso voltar a incutir confiança no brasileiro. A crise econômica que vivemos não é a primeira e nem será a última. Também não é a maior de todos os tempos. Quem se lembra da hiperinflação e do calote da dívida dos anos 1980?

Com toda a certeza, a atual crise tem a ver com falta de confiança, mas também com equívocos na condução da economia. Um deles, muito grave, foi a adoção, ao mesmo tempo, de um ajuste fiscal vigoroso e um arrocho monetário que não tem paralelo em lugar nenhum do mundo neste momento.

Além da confiança, o consumidor precisa de crédito, mas com juros civilizados, e não com o absurdo custo atual, que passa de 300% ao ano.

A venda no comércio diminuiu 2,2% no primeiro semestre, a maior queda em 12 anos, segundo o IBGE, e as principais razões para essa tendência, além do medo de gastar, são a escassez e o custo do crédito no varejo, a redução da renda e a inflação.

A indústria já vem perdendo espaço nos últimos anos, em razão de um persistente processo de desindustrialização decorrente de sua menor competitividade global.

Em 2014, segundo dados da Fiesp, só a indústria paulista fechou 130 mil vagas de trabalho. Neste ano, com o afundamento do consumo, cerca de 93 mil empregos foram perdidos de janeiro a julho, e a Fiesp prevê a extinção de um total de 200 mil vagas no ano em São Paulo. Em todo o país, 345 mil postos de trabalho foram perdidos no primeiro semestre. O índice de desemprego geral subiu para 7,5% em julho.

O país não precisa se autoflagelar dessa forma. Aos poucos, os economistas vão se convencendo de que o desequilíbrio das contas públicas não decorre da política de incentivo ao consumo adotada nos últimos anos, e sim de algo maior e mais estrutural, as obrigações constitucionais atribuídas ao setor público.

O deficit público deve ser combatido com austeridade e coragem. Mas ele só será efetivamente reduzido se o combate se der num ambiente de crescimento econômico que leve o empresário a investir, o consumidor a comprar e o governo a arrecadar.

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Fonte:
veja.com + FOLHA

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Benjamin Steinbruch é considerado por muitas pessoas como alguém inteligente. Para começo de conversa, se alguém precisa mentir, é por que é burro, macunaima contando a estória da cotia. Pois bem, na melhor das hipóteses ele é um mentiroso, na pior um completo imbecil. É rico? É, mas quem disse que ricos não podem ser imbecis? De que ajuste fiscal essa besta está falando? De que contração monetária? A derrama de reais foi tão grande que temos uma forte desvalorização do real, em palavras diretas, tirando dos assalariados para garantir renda a determinados setores que se beneficiam dessa desvalorização. Com uma elite dessas não tem como o Brasil dar certo.

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