"Desemprego a jato!" - por VINICIUS TORRES FREIRE, da FOLHA

Publicado em 21/08/2015 09:18
Alta no número de pessoas desempregadas não era tão rápida desde crises dos anos 1990

ANÁLISE DE VINICIUS TORRES FREIRE, DA FOLHA DE S. PAULO:

Desemprego a jato

Alta no número de pessoas desempregadas não era tão rápida desde crises dos anos 1990

Não se via aumento tão rápido na quantidade de gente desempregada desde o tempo das crises fernandinas, de FHC e Collor, é muitíssimo provável. O número de pessoas sem emprego cresceu 56% em julho, ante julho de 2015. Em janeiro, crescia ao ritmo de uns 11% ao ano.

"Muitíssimo provável" porque o método de contar o desemprego no IBGE foi um de 1991 a 2002, e outro desde então.

No entanto, feitos alguns ajustes e comparadas apenas a ordem de magnitude e a rapidez da bola de neve, vimos coisas parecidas apenas entre maio e agosto de 1992, os meses da derrocada final do governo de Fernando Collor. Ou entre outubro de 1997 e janeiro de 1998, um dos vários momentos de crise dos governos de Fernando Henrique Cardoso.

Os inclinados a fazer associações fáceis entre economia e política devem lembrar, porém, que, nos tempos de Collor, o desastre era geral: era um país em superinflação, com baixas abissais de PIB per capita e rendimentos, bem mais pobre e desigual.

Desde Lula, jamais houve parecido com o que ocorre neste ano com o emprego, sob Dilma 2. Nem de longe.

Sempre convém notar também que se trata de uma baixa em relação a níveis altos de emprego (de "taxa de ocupação"). Ressalte-se, porém, que aqui se está falando de velocidade de piora. Há um colapso desde janeiro desde ano.

Os dados divulgados ontem na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE apontam ainda um motivo provável e adicional da grande irritação de São Paulo, em particular da metrópole paulista, com o governo de Dilma Rousseff. Entre as grandes regiões metropolitanas, foi em São Paulo que a taxa de desemprego cresceu mais rapidamente, de um ano para cá, ainda que a desocupação seja menor aqui do que nas capitais nordestinas, como de costume, aliás (7,9% em São Paulo, ante 12,3% em Salvador, por exemplo).

MAQUIAGEM

A taxa média de desemprego deu um salto, para 7,5%, inédita nesta época do ano desde a breve recessão de 2009. Em julho de 2014, o desemprego fora apenas 4,9%.

O colapso da confiança devido ao estelionato eleitoral de Dilma Rousseff contribuiu para a derrocada. Mais importante, a escassez de trabalho se deve também ao fim da política de, na prática, comprar emprego com dívida pública, de dar subsídios e isenções fiscais a empresas, política econômica de maquiagem executada pelo governo de Dilma 1. Enfim, mais importante ainda, nas empresas caiu a ficha de que o ajuste econômico produziria uma recessão ainda mais longa e funda.

No mais, soube-se que o rendimento médio caiu 2,4% sobre julho do ano passado; que a massa salarial, o total de rendimentos pagos, baixou 3,5% em um ano.

A proporção de empregos formais baixa em relação ao pico, mas ainda está perto dos melhores resultados de que se tem notícia. No entanto, menos emprego e menos carteira assinada devem causar buraco extra nas contas da Previdência e do governo inteiro, na pindaíba ao ponto de regatear a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas.

A notícia ainda pior é que isso ainda vai longe. O desemprego tende a aumentar até a segunda metade de 2016, pelo menos. Ou seja, mesmo que "a economia", o PIB comece a reagir, a sensação térmica nas ruas ainda vai ser de frio da crise.

Desemprego em julho deste ano cresce 56% na comparação com julho de 2014. E a fala de uma estelionatária eleitoral (por Reinaldo Azevedo)

Vou transcrever um trecho do debate da Band do segundo turno das eleições do ano passado. Disse a então candidata à reeleição Dilma Rousseff, há meros 10 meses:

“Nós, de fato, temos a menor taxa de desemprego da história das últimas três décadas. É uma taxa próxima do pleno emprego. Além disso, só quem nunca esteve desempregado ou não tem sensibilidade pode achar que uma pessoa sem emprego é melhor do com emprego. Por isso, eu acredito que esse nível de emprego é fundamental para o país poder avançar.”

Agora vamos à realidade. Em julho, a taxa de desemprego alcançou 7,5%, a maior para o mês desde 2009, quando foi de 8%, segundo dados do IBGE. Em julho do ano passado, era de 4,9%. A população desocupada atingiu 1,8 milhão de pessoas, alta de 9,4% na comparação com junho e de 56% no confronto com julho de 2014.

Ai, ai…  Em outro debate, lembro com clareza, Dilma atribuiu a Aécio a intenção de promover um choque de juros no país para baixar a inflação na porrada, o que, segundo ela, teria um forte impacto no emprego. Ela deixou claro: isso era coisa de gente que não gostava do povo.

É evidente que a população não suporta mais a roubalheira promovida nos governos do PT. Atingiu dimensões nunca imaginadas. Mas, na essência, nova não é.

O que não se perdoa a Dilma, adicionalmente, é um estelionato eleitoral como nunca visto. E não que ela tenha sido surpreendida pelas circunstâncias. Ela sempre soube o que estaria prestes a fazer se vencesse. Enganou miseravelmente os eleitores.

Por Reinaldo Azevedo

Vai piorar

O Instituto Brasileiro de Economia da FGV prevê que o desemprego alcance os 9% dentro de doze meses.

Por Lauro Jardim

Desemprego surpreende negativamente: era o pilar que faltava ruir

A taxa de desemprego alcançou 7,5% em julho, a maior para o mês desde 2009, quando atingiu 8%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao considerar todos os meses do ano, é o maior valor desde março de 2010, quando ficou em 7,6%. Em junho deste ano, o índice ficou em 6,9% e, em julho de 2014, em 4,9%. A série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego começa em março de 2002.

A população desocupada atingiu 1,8 milhão de pessoas, alta de 9,4% frente a junho e de 56% na comparação com julho de 2014.Essa alta anual da população desocupada é a maior da série histórica. Isso representa uma adição de 622 mil pessoas à massa de desempregados. Em relação a junho, o aumento foi de 9,4% (ou 158 mil pessoas). Já a população ocupada ficou estatisticamente estável, em 22,8 milhões de pessoas, nas duas comparações. 

Escrevi em várias ocasiões que a taxa de desemprego seria o último pilar a ruir. Muitos analistas consideravam a baixa taxa de desemprego um paradoxo, e sem dúvida ela foi o grande trunfo do governo Dilma nas eleições. Mas como expliquei, o desemprego é mais um sintoma do que uma causa, e como é muito caro contratar, treinar e demitir no Brasil, as empresas postergam ao máximo a decisão de demitir.

Além disso, várias pessoas que estavam fora do mercado de trabalho, talvez porque a renda da família tinha aumentado, agora precisam voltar a procurar trabalho, para recompor a renda familiar, corroída pela inflação elevada e ameaçada pelo próprio risco de desemprego. Logo, muito mais gente está em busca de emprego, o que eleva a taxa de desemprego, medida justamente com base em quem quer, mas não encontra trabalho formal.

Tudo isso que está acontecendo, é importante notar, foi previsto por muitos liberais, inclusive este que vos escreve, e veementemente negado pelos petistas. Para eles, tudo estava uma maravilha até pouco tempo, e alguns ainda tentam negar a gravidade da situação, ou responsabilizar fatores externos. Mas em julho de 2013, por exemplo, eu já tinha escrito um artigo no GLOBO mostrando a “fatofobia” do governo, que fugia da realidade como o diabo foge da cruz:

O prognóstico não é nada bom. E quanto mais o governo fugir dessa dura realidade, tal como uma menina foge desesperada da barata, pior será o ajuste necessário depois. O governo não fez o dever de casa. Perdemos a incrível oportunidade que veio de fora. E bilhetes de loteria como este não aparecem o tempo todo. O que fazer agora?

A primeira coisa deveria ser aceitar os fatos como eles são. Como lembrou Aldous Huxley, os fatos não deixam de existir porque são ignorados. Isso demanda coragem, uma postura de estadista, que assume os erros passados para poder mudar o curso. Como não vejo isso acontecendo no atual governo, vou seguir com minha maldição de Cassandra, espalhando alertas pessimistas por aí.

Pois é: os alertas pessimistas se mostraram, no fundo, realistas, quiçá otimistas. A situação é grave e piora rapidamente a cada dia. E chega no mercado de trabalho, cobrando um alto preço dos brasileiros, angustiados com a perda acentuada de poder de compra da moeda e com o risco constante de ficar sem trabalho. Só há um culpado para tudo isso, e ele se chama PT!

Rodrigo Constantino

 

Presidente do BC diz que estamos no vale da crise, que terá o formato do U, mas está enganado

A crise terá o formato do L, de Lula!

Analistas gostam de brincar com letrinhas, como o leitor já deve ter percebido. Criam até siglas como os BRICs para se referir a um bloco de países emergentes um tanto diferentes entre si, mas que juntos formam um acrônimo sonoramente interessante, que remete a tijolo em inglês (esquecendo que tijolos afundam).

Quando o assunto é crise econômica, lá estão as letrinhas novamente: a recuperação será em V ou em U? Ou seja, será uma crise acentuada e intensa, mas de curta duração, ou uma mais lenta e suave?

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, acha que será em U, e que estamos no vale agora, na parte mais baixa da queda. Foi o que disse na entrevista para Miriam Leitão, destacada em suacoluna de hoje:

— Hoje estamos no vale em termos de crescimento. A queda do PIB não é em V, mas em U. Este é o momento que estamos na parte mais baixa do U. A inflação está alta, e a boa sazonalidade de maio e junho não ocorreu. Todo o custo do ajuste da economia está aí, mas os benefícios não são palpáveis.

Tombini disse que as coletas de preços estão mostrando que haverá um alívio em agosto e setembro, mas a mudança mais forte virá apenas no começo do ano que vem:

— Nos primeiros meses do ano que vem, de janeiro a maio, haverá uma queda substancial da taxa de inflação, que sairá do patamar de 9% para 5% alto (próximo de 6%). Os efeitos defasados da política monetária continuarão empurrando a inflação para baixo, e eu acredito que fecharemos 2016 com a inflação na meta. O mercado ainda projeta um índice acima disso.

Lamento, uma vez mais, discordar das autoridades. Sou, afinal, o Pessimildo, aquele que, no auge da euforia produzida pela prosperidade artificial de 2010, já falava em estagflação à frente. E como não vejo os fundamentos mudarem, e sim um governo que insiste nos mesmos erros de antes, não tenho porque alterar minha visão “pessimista”: essa crise veio para ficar por um bom tempo – ao menos enquanto essa turma petista estiver no poder.

Portanto, acho que Tombini vai errar feio, como errava sempre Guido Mantega. Acho inclusive que os analistas de mercado, escutados pelo BC no Boletim Focus, também ainda estão otimistas demais, e que o PIB de 2016 não irá cair “somente” 0,15% depois de uma queda de 2% em 2015. Acho que o tombo será maior, e a inflação ficará resiliente, apesar dessa recessão.

Enfim, se é para usar letrinhas também, eu diria que nossa crise produzida pelo PT não terá o formato do V, tampouco do U, e sim o formato do L: uma queda acentuada e uma reta típica de um eletrocardiograma de um defunto. Ao menos, repito, enquanto o PT estiver no poder, impedindo qualquer chance de recuperação. Letra por letra, eu fico mesmo com o L para representar essa crise. L de Lula!

Rodrigo Constantino

 

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Fonte:
Folha + VEJA

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1 comentário

  • Antonio Carlos Nogueira Fortaleza - CE

    Enquanto o pais está em crise, em Brasília fazem acordos para salvar políticos envolvidos em denuncia de corrupção. Desde que apoiem o governo estarão por enquanto fora do radar de Janot e cia.

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