Mercado de café: SECA, SAFRA MENOR OU APENAS RECUPERAÇÃO TÉCNICA?
A desvalorização da moeda Chinesa por três dias consecutivos sacudiu os mercados mundiais pesando negativamente tanto para bolsas de ações como para os índices de commodities. Na Europa as quedas acumuladas nos últimos cinco dias ficaram entre 2% e 4.5%, enquanto nos Estados Unidos as baixas dos índices foram recuperadas na sexta-feira depois de indicadores mais fortes da produção industrial americana.
Os mercados emergentes que tem na China como seu principal destino de suas exportações, assim como alguns países desenvolvidos (exemplo a Alemanha que vendem seus produtos de luxo ao país, sentiram o baque via a depreciação de suas moedas e/ou saída mais acentuada de investimentos acionários.
No Brasil a turbulência continua tendo o lado político complicado e que pode se agravar dependendo das manifestações deste domingo. A agência de risco Moodys baixou a nota dos títulos brasileiros deixando a apenas um grau do nível especulativo, mas por outro lado indicou a perspectiva como estável.
O Real não voltou a visitar as mínimas da semana passada, creio que parcialmente ajudado pela desmontagem pontual de operações de carry-trade que tem o Euro como moeda financiadora motivo pelo qual a moeda comum europeia firmou temporariamente.
O café em Nova Iorque foi o líder de ganhos na semana, subindo 7.87%, ou US$ 13.62 a saca, com os fundos cobrindo uma parte de suas posições vendidas. O movimento foi bastante técnico pela quebra de importantes pontos de resistência que o colocam agora em uma tendência de alta, ao menos no curto-prazo.
O vencimento das opções de setembro contribui para a firmeza, pois os agentes que estavam baixistas correram para recomprar algumas opções de compra (calls) com receio de ser exercidos. Fundamentalmente as opiniões e análises de que a safra que está acabando de ser colhido pode ser revisada para baixo ajudou a dar suporte, muito embora a natureza da compra no mercado, creio, tenha sido especulativa.
O IBGE divulgou sua estimativa de safra para 15/16 em 44.17 mln de sacas, patamar próximo do intervalo de baixa, entretanto se considerarmos os 33.42mln de arábica e 10.75 mln de conilon, notaremos que a qualidade mais nobre está inclusive acima de algumas previsões mais pessimistas, enquanto a do conilon a maioria (que não significa, necessariamente, estar certa) percebe ser bem maior.
Existe uma pequena corrente de analistas mencionando que o tempo está muito seco no Brasil, apontando como sendo preocupante para as culturas de café e açúcar. Entretanto dado estarmos ainda em agosto há ceticismo sobre esta opinião.
O COT, relatório de posicionamento dos participantes, nos mostrou que os comerciais aproveitaram para vender café durante a puxada dos preços, enquanto os fundos foram os grandes compradores.
A pergunta que fica é se os fundos agora vão decidir ir comprados em maior volume, eventualmente assustados pelas notícias que estão transpirando do gigante produtor de café. O volume negociado na semana totalizou 352,584 lotes, quase duas vezes o total de contratos em aberto, ou o equivalente a 99.95 milhões de sacas. Segunda-feira, terça e quarta a média foi de 21 milhões de sacas por dia, volume inchado em função das rolagens das posições antes do primeiro dia de notificação do contrato de Setembro que começa no dia 21 de agosto, sexta-feira próxima.
A posição bruta comprada dos fundos, que adicionaram até a última terça-feira 3,850 lotes e provavelmente outros 3 mil lotes nos três dias seguintes, está agora no maior nível desde o começo de dezembro de 2014, quando Nova Iorque negociava a US$ 183.40 centavos (2ª mês). Já a parte bruta-vendida voltou ao nível de 16 de junho, quando NY fechou em US$ 132.00 centavos. A parte técnica vai ter que ajudar a alimentar o touro (bull = mercado altista), ou então o coro de que a safra é muito menor terá que aumentar para estimular os fundos a ficarem bem comprados tem também alguém comprar a historia do clima.
Os fundos que seguem o fundamento estão desacorçoados com o café, pois no ano passado a maior parte deles comprou, e bastante, as notícias de que a safra quebraria muito mais, para então verem um aparecimento de café muito grande via exportações que resultaram na queda do terminal com contribuição importantíssima da desvalorização do Real brasileiro, é claro.
O físico nas origens girou com bom volume, ajudado pelo peso colombiano fazendo uma nova mínima histórica e pela saca negociando acima de R$ 500.00 no Brasil.
É bom termos cuidado para não ficarmos demasiadamente altistas depois desta puxada e aproveitar para continuar vendendo café no curto e longo-prazo. É como a máxima diz: Ninguém quebra com lucro no bolso, já o contrário...
Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,
Rodrigo Costa* (*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting).
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