O Brasil, definitivamente, não é para amadores (por Rodrigo Constantino)
O fato é que os eleitores colocaram essa turma da pesada no poder, e agora a turma resolveu brigar entre si como nunca antes na história deste país. Não acho isso necessariamente ruim. Quando as máfias disputam poder, há caos, mortos e feridos, mas também mais transparência trazendo à tona a podridão dos bastidores do mundo do crime. Peguem a pipoca e liguem a TV…
Eduardo Cunha teria recebido US$ 5 milhões em propina, diz o delator. O Procurador-Geral, Rodrigo Janot, teria forçado o delator a mentir, diz Cunha. São acusações gravíssimas para todo lado. Quem tem razão? Quem fala a verdade? Alguém fala a verdade? Lula, o ex-presidente mais popular da história, é investigado oficialmente por tráfico de influência, ou seja, seria um lobista, como seu ex-braço-direito José Dirceu. Collor fica com olhos vidrados ao ver seus carrões expostos na mídia. Dilma cambaleando, sem apoio, terá que enfrentar um PMDB ainda mais hostil agora, e um presidente da Câmara irritado, que já era desafeto antes, que já representava uma pedra em seu sapato bolivariano antes.
Como vai acabar isso tudo? Quem diz que sabe, mente. O desfecho é imprevisível, e a história não está contada. Não há fatalismo aqui. O que o país fará desse enredo todo ninguém sabe ainda. Pode extrair dele os instrumentos para um importante avanço institucional, colocando em cana tubarões importantes da política, desinfetando um pouco a cena; ou pode acabar mal, numa grande pizza, num enorme acordo entre as partes: já que muitos devem no cartório, então fecha logo o cartório!
Claro, há outro participante de comportamento imprevisível na novela: o povo. Se, depois de tudo que já emergiu do pântano, a coisa não der em nada, frustrando as expectativas dos telespectadores, se o final for uma farsa que produza um anticlímax total naqueles que acompanham cada capítulo com ansiedade, a revolta poderá ser grande e a turba, ensandecida, poderá sair do controle. O gigante, enfim, poderá finalmente acordar, e se isso acontecer teremos até mesmo uma revolução no país, algo impensável antes, já que o público é sempre associado ao pacato cidadão, que leva ferro o ano inteiro, mas relaxa e goza com o carnaval e o futebol.
De minha parte, assisto a tudo de camarote, com um misto de preocupação e esperança. Acho positivo esse escândalo todo vazar, as instituições democráticas fazerem seu trabalho com alguma independência, os poderosos políticos serem expostos e ficarem na defensiva, a imprensa ainda ter liberdade para trabalhar. Mas, por outro lado, tenho receio da reação tanto do andar de cima como da turba. Não está claro se sairemos disso tudo com instituições republicanas fortalecidas ou com algum tipo de retrocesso qualquer.
E, em meio a essa confusão política, ainda temos a questão econômica. O país vive uma das crises mais severas das últimas décadas, a atividade deve cair 2% esse ano, a inflação deve passar de 9%, o desemprego vai aumentar, e o país necessita de um ajuste fiscal bem mais rigoroso do que esse em curso, e ameaçado pela própria confusão política. Ou seja, a crise econômica pode se agravar bastante ainda. O clima perfeito para aventureiros de plantão, para “soluções mágicas”, para revoluções que nunca acabam bem.
Qual será então o desfecho dessa ópera bufa à brasileira? Quem viver, verá.
Rodrigo Constantino
O roubo político é ainda pior do que o comum: os fins “nobres” não justificam os meios nefastos!
Que alguém, para defender o PT, precisa ter algum desvio de caráter, isso acredito que todos com um pingo de caráter já perceberam. Mas há uma categoria de gente sem caráter que pensa ter caráter, que realmente acha não ter abandonado a ética, pois condena a corrupção para benefício individual, mas apoia os desvios em nome da causa.
Essa gente segue a velha máxima comunista de que os fins “nobres” justificam quaisquer meios, por mais nefastos que sejam. Roubam, portanto, com consciência limpa, pois “sabem” estar do lado certo da História, e não será o “moralismo burguês” que vai impedir a conquista da utopia.
Para esses defensores da “justiça social”, não foi a ética que acabou rasgada, mas apenas a “ética burguesa”, coisa de classe média alienada. Se o soldado da causa desviou recursos públicos, precisou meter a mão na lama por causa do “sistema”, mas fez isso tudo para ajudar a perpetuar o partido no poder e, com isso, avançar rumo ao socialismo “maravilhoso”, então ele está não só perdoado, como será enaltecido como herói.
Esse foi o tema do importante artigo de Nelson Motta hoje no GLOBO. Um artigo que precisa ser lido, pois revela essa mentalidade, típica da esquerda nacional, que tão mal faz à nossa democracia. Os bandidos comuns são menos perigosos do que os “revolucionários” da causa socialista. Diz o autor:
Posso até acreditar que João Vaccari não ficou com um tostão dos pixulécos milionários que arrecadou para o PT na Petrobras. Mas isso não faz dele um guerreiro do povo brasileiro e nem é atenuante para seus crimes; é agravante.
Em países civilizados, de maior tradição jurídica do que o Brasil, como a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, a motivação política é um agravante dos crimes, aumenta a pena. Porque o produto do roubo servirá para fraudar processos legais, para atentar contra as instituições democráticas, para prejudicar adversários políticos, e terá consequências na vida de todos os cidadãos que tiveram seus direitos lesados em favor de um plano de poder de um partido.
O ladrão em causa própria dá prejuízos pontuais a pessoas físicas ou jurídicas. O que usa o dinheiro sujo para fraudar o processo eleitoral e manipular a vontade popular, para corromper parlamentares e juízes, para impor o seu projeto político, causa irreparáveis prejuízos a todos porque desmoraliza a democracia, institucionaliza a impunidade e interfere — sejam lá quais forem as suas intenções — de forma decisiva e abusiva nos direitos e na vida dos cidadãos que sustentam o Estado.
Uma das mais nefastas heranças do PT no poder foi a institucionalização — e absolvição — do roubo com motivações políticas, com mensaleiros e tesoureiros corruptos ovacionados como guerreiros e heróis pela militância cega, surda e bem empregada. Por essa ética peculiar, em nome da “causa popular” vale tudo, extorsão, suborno, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, agir como uma máfia para destruir os adversários e se eternizar no poder. Em nome do povo, é claro…
As maiores atrocidades sempre foram cometidas em nome do povo. A Revolução Francesa levou ao Terror em nome do povo. A Revolução Bolchevique liquidou milhões em nome do povo. A Revolução Cubana ceifou a vida de milhares de inocentes no paredão em nome do povo. Esses psicopatas agiam com a consciência limpa, pois tinham “superado” a ética burguesa, o moralismo de classe média, esse apego “ultrapassado” aos princípios. Esses assassinos estavam acima disso, pois lutavam “em nome do povo”.
Todos esses “intelectuais” e artistas que relativizam a roubalheira petista, que defendem o partido depois de tudo que já sabemos, que tentam justificar atos tão indecentes com base na narrativa de que a corrupção não foi para vantagens pessoais (falso na imensa maioria dos casos), mas sim pela “nobre causa”, todos eles são cúmplices de um projeto nefasto de poder, que corrói as bases da nossa democracia. O ladrão político é ainda pior do que o ladrão comum. Os fins “nobres” não justificam os meios nefastos. E, concordando com Nelson Motta, “lugar de ladrão é na cadeia”.
Rodrigo Constantino
Lula, o pai do petrolão, alegou ao MP que atuou contra a corrupção. Aham, Brahma, senta lá
Lula pediu que não fosse aberta a investigação criminal contra ele por tráfico de influência em favor da Odebrecht. A notícia é do Valor.
“No seu legítimo direito de trabalhar”, alegou a defesa, o Brahma “foi contratado pela Odebrecht para a realização de palestras em países em que a empresa já mantinha relações comerciais”.
Claro.
Por uma incrível coincidência, a Odebrecht ganhava mais dinheiro após as passagens de Lula por esses países. Exemplo: US$ 1,6 bilhão do BNDES após o Brahma, já como ex-presidente, se encontrar com os presidentes de Gana e da República Dominicana – bancado pela empreiteira.
A defesa também apontou a “trajetória pessoal” de Lula, que disse ter atuado “para aperfeiçoar o sistema de combate à corrupção, a defesa do patrimônio público e da transparência”.
Lula tanto atuou para aperfeiçoar o sistema que a Petrobras teve um prejuízo oficial de 21 bilhões e 587 milhões de reais, sendo 6 bilhões e 194 milhões de reais perdidos com o esquema de corrupção “institucionalizado” em seu governo e operado por seus comparsas, no maior escândalo da história “dêsti paíf”.
A “trajetória pessoal” do maior beneficiário político do mensalão e pai do petrolão corre sério risco de terminar na Papuda, de modo que, no desespero, só lhe resta apontar a ausência de “elementos concretos” para a investigação.
Aham, Brahma, senta lá.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
PMDB, o partido da malemolência (por Leandro Narloch)
O anúncio de que o PMDB vai lançar candidato próprio em 2018 teve, digamos, com alguma generosidade, uma recepção modesta. Ninguém, talvez só com uma refinada ironia, apareceu pela internet dizendo “cara, agora sim o Brasil vai pra frente, #énóisPMDB!”.
Eu devo ter sido o único a me entusiasmar com a notícia. No momento em que li a respeito levantei e gritei pela janela: “Em 2018 eu sou 15!”. Vocês têm o meu voto, caros seguidores de Sarney. Já vou botar um adesivo no carro e mandar fazer uma camiseta.
Explico minha escolha solitária em três passos:
1. O melhor político não é aquele que tem mais chance de melhorar o país, mas o que pode piorá-lo menos. É ilusão acharmos que políticos têm grande poder de melhorar o mundo; mas capacidade de prejudicar, isso eles têm de sobra. Como diz o Bastiat, “nunca desconfie da capacidade do governo de piorar o que já é ruim”.
2. Os políticos com maior poder de arruinar um país são aqueles cheios de ideologias, convicções e atitudes enérgicas. Nações levam décadas para prosperar, mas basta um governo cheio de homens convictos para esculhambar o ambiente de negócios, espantar empreendedores, levar a inflação às alturas e espalhar a miséria.
3. De toda a montoeira de partidos do Brasil, o PMDB é o mais avesso a ideologias. Ou melhor, a única ideologia do PMDB é a malemolência, o “deixa-disso”, o “não-inventa”. Nenhum partido representa tão bem o pouco apego dos brasileiros a ideologias. Se há aqueles partidos de esquerda, direita, extrema-esquerda, extrema-direita e centro, o PMDB supera todos eles: é o partido do extremo-centro. Um partido assim, radicalmente desprovido de radicalismos, é de longe a nossa melhor opção.
Entendo que o desapego ideológico dos brasileiros tem um lado ruim. Sem nenhuma grande convicção, nunca seremos a vanguarda de nada no mundo. Mas, como diz meu amigo Joel Pinheiro da Fonseca, a vantagem da malemolência ideológica é muito maior: nos previne de genocídios, revoluções sanguinárias e totalitarismos que destruíram os países que se deixaram levar por ideologias.
Não só acabo de declarar meu voto ao candidato do PMDB como já me ofereço para participar do marketing da campanha. Minha primeira proposta é manter a sigla, mas mudar o nome. “Partido da Malemolência Democrática Brasileira” seria muito mais fiel à função do PMDB na política atual. Também precisamos pensar num slogan. Uma frase que sintetizaria a tradição intelectual do partido seria esta:
Vote PMDB. Sei lá, mil coisas.
(por Leandro Narloch - @lnarloch
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