A esquerda planta dívida e colhe calote, por Rodrigo Constantino
A esquerda planta dívida e colhe calote
A tirada, excelente, por sinal, não é minha, mas de um leitor. Referia-se à reação de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e assessor de Hillary Clinton, comentando sobre a crise grega:
É concebível que o restante da Europa e a Alemanha acordem e se deem conta de que suas exigências à Grécia são absolutamente revoltantes. [...] Para mim, é óbvio que a austeridade fracassou. O povo grego foi o primeiro a dizer: ‘Nos negamos a renunciar à nossa democracia e aceitar essa tortura da Alemanha’. Mas, com sorte, outros países como Espanha e Portugal vão dizer o mesmo.
[...]
Creio que é possível tirar uma importante lição do êxito argentino. Depois do calote, a Argentina começou a crescer a uma taxa de 8% ao ano, a segunda mais alta do mundo, depois da China. Estive na Argentina e pude ver o êxito e o impacto no padrão de vida. A experiência argentina prova que há vida depois de uma reestruturação da dívida.
[...]
Ainda que a Grécia tenha sua parcela de culpa na situação (que levou aos problemas fiscais descobertos em 2010), a desastrosa situação em que o país se encontra desde então é de responsabilidade da Troika (formada pelo FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu).
É um espanto! Já expliquei em pormenores a origem dos problemas gregos aqui. É estarrecedor ver um Prêmio Nobel jogando o fardo para aqueles que pagam a conta da irresponsabilidade alheia, eximindo de culpa os próprios gregos. É uma postura irresponsável, um discurso sensacionalista, de um militante político de esquerda, não de um economista sério. Citar o caso argentino como um sucesso? Em que planeta Stiglitz vive?
Assim é a esquerda, não só nacional, como no mundo todo: planta dívidas e colhe calote. Durante a fase da bonança irresponsável e insustentável, jamais vemos esses mesmos economistas alertando para os riscos à frente, recomendando cautela, menos gastos públicos, menos endividamento das famílias e dos governos. Nunca! Ao contrário: eles sempre elogiam essa fase, celebram a “demanda agregada” aquecida que puxa o PIB para cima, colocando a carroça na frente dos bois e trocando causa e efeito.
Depois, quando a bolha que ajudaram a fomentar estoura, eles simplesmente culpam os credores, os austeros que foram responsáveis, e defendem o calote. Cobrar a dívida é “insensibilidade”. Ou seja, devemos estimular um comportamento irresponsável de quem se endivida demais e depois não pode pagar, transformando-o em vítima de banqueiros gananciosos. Essa mensagem, na boca de qualquer um, já é um absurdo. Quando sai de um Prêmio Nobel, é simplesmente algo assustador.
Rodrigo Constantino
Liberais e conservadores no Brasil
Por Catarina Rochamonte, publicado no Instituto Liberal
Quando o termo política se referir ao quesito de conduta dos povos, então deve-se levar em conta a possibilidade de acordo entre tipos divergentes de discursos, pois a primazia de uma determinada vertente ideológica não aniquila a possibilidade de diálogo. O diálogo favorece a incorporação de novas qualificações, novas atribuições ou mesmo o desvio de pretensões iniciais que não puderam se efetivar.
Há, no quadro político brasileiro, uma crise identitária entre os partidos políticos. Nenhum partido conseguiu levar adiante um projeto claro e bem delineado cujo conteúdo apontasse para algo além da condução e conservação de cargos. Viu-se, pois, um vazio entre as demandas efetivas da população e, com isso, criou-se um espaço na sociedade civil em que pontos de vista defendidos tradicionalmente pelo liberalismo, como livre-comércio e livre iniciativa, encontraram ressonância.
Essa postura política parece ser atualmente a menos dogmática, pois parte do pressuposto de que os partidos, cuja fonte de renda são os impostos pagos pelo próprio indivíduo, são incapazes de fazer frente aos anseios desse mesmo indivíduo que os mantém. Farto do uso abusivo que a política atual fez da sua própria competência, o indivíduo passou a requerer para si os recursos mal-utilizados pelo governo e nessa bandeira da livre-iniciativa, do livre-comércio, da diminuição de impostos, etc. encontrou o horizonte de atuação política que lhe fora negado, já que as instâncias partidárias tal como se desenvolveram pertencem a uma mentalidade pouco afeita ao significado do esforço individual e da resposta a esse esforço. O individualismo, portanto, emerge hoje no Brasil como contra-revolução, no sentido de contrariar as estratégias governistas e tomar para si um engajamento cujo ponto de partida é a ideia da busca pela própria felicidade como motor do dinamismo econômico e social.
Por trás desse quadro, porém, há uma outra corrente de pensamento. É a daqueles que viram na luta do indivíduo contra o Estado um meio eficaz de difusão das suas ideias que, entretanto, ultrapassam as fronteiras do individualismo irrestrito, pois há entre eles uma grande preocupação em reavaliar todo o quadro cultural da nação e o interesse em defender efetivamente os valores basilares da civilização. Aproxima-se aqui o conservadorismo do liberalismo contra o inimigo comum que outro não é senão o partido cujas pretensões autoritárias fecham as portas ao diálogo que poderia conduzir a política a novos patamares e a sociedade a novas ideias. O inimigo comum é a mentalidade travada em preconceitos incompatíveis com o dinamismo social na nova era tecnológica, do novo mundo globalizado, das novas democracias pluralistas e de emergências teóricas.
É preciso, portanto, que esse novo grupo que reuniu forças no Brasil concentre-se na tentativa de resgatar o papel cultural do nosso país e a dignidade da nossa nação perante as demais potências democráticas do globo. É preciso que liberais e conservadores esqueçam momentaneamente suas divergências e dissonâncias para continuar lutando contra uma ideologia que pretende calar a ambos e submeter o país a um projeto fracassado.
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