Na FOLHA: Mercedes-Benz anuncia férias coletivas para 7.000 funcionários por 15 dias, e corte para 500 no ABC
Emprego em montadoras tem novos cortes
Mercedes-Benz afirma que adesão a PDV foi baixa e que terá de demitir 500 funcionários em fábrica no ABC
A indústria começou o ano em ritmo de cortes e o cenário para o emprego do setor em março (dado que será conhecido nesta terça) e para os próximos meses não é promissor: nesta segunda-feira (18) foi a vez de mais uma montadora, a Mercedes-Benz, anunciar demissões.
Menos de um mês após os trabalhadores encerrarem greve em São Bernardo do Campo (SP), em razão da tentativa da montadora de demitir 500 funcionários, ela anunciou novo período de férias coletivas a fim de ajustar a produção à retração das vendas.
Por um período inicial de 15 dias, cerca de 7.000 empregados devem permanecer em casa a partir de 1º de junho. A fábrica emprega, no ABC paulista, 10,5 mil pessoas.
Desde junho de 2014, a Mercedes mantém um grupo de 750 funcionários em "lay-off" (suspensão temporária do contrato de trabalho) em São Bernardo, além de ter já adotado medidas como semanas curtas (com quatro dias de produção), licenças remuneradas e programas de demissão voluntária para enfrentar a queda de até 40% nas vendas de caminhões e ônibus.
Como o PDV encerrado na semana passada teve baixa adesão (a empresa não divulgou números), ela disse que "precisa encerrar 500 contratos de trabalho do grupo hoje em 'lay-off' até o dia 29".
Na última tentativa de dispensar esse grupo, a montadora enfrentou uma greve de uma semana, no fim de abril. As demissões foram suspensas. Outros 250 empregados, com estabilidade por serem portadores de doenças profissionais, estão com contratos de trabalho suspensos até o fim de setembro.
Na unidade da Mercedes em Juiz de Fora (MG), cerca de cem operários também estão afastados temporariamente até o fim deste mês.
A companhia já informou que, além do grupo de 750 afastado da empresa, existe um excedente de 1.750 trabalhadores na empresa.
OUTRAS MONTADORAS
Na Ford, 2.400 empregados das linhas de produção de carros e caminhões da fábrica de São Bernardo (SP) estão em férias coletivas desde o dia 11 deste mês. A previsão é retornar à unidade na segunda-feira, dia 25. Um grupo de 200 operários está com contrato de trabalho suspenso por cinco meses.
Desde o dia 11, a Fiat concedeu férias coletivas para 2.000 funcionários da fábrica em Betim (MG) por 20 dias.
A Volks deixou cerca de 8.000 em em férias coletivas no início deste mês, segundo sindicato de metalúrgicos.
Na GM de São Caetano, cerca de 900 funcionários, segundo o sindicato da categoria, devem entrar em "lay-off" a partir desta semana por um prazo de cinco meses. Em São José dos Campos (SP), outro grupo de cerca de 800 empregados está com contrato suspenso até agosto.
Petrobras diz ter liberdade para elevar preços dos combustíveis
Diretor da empresa diz que estatal vai praticar valores 'competitivos' para combustíveis
O diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, afirmou nesta segunda-feira (18) que a empresa vai praticar preços "competitivos" para os combustíveis e que a estatal tem "liberdade" para estabelecer tal política.
A declaração, dada em teleconferência com analistas, contraria a política de preços dos combustíveis adotada nos últimos anos, quando o governo impediu reajustes seguindo preços de mercado para evitar impacto na inflação.
Durante a teleconferência, um analista perguntou "de onde vem a convicção" na capacidade da empresa de reajustar o preço dos combustíveis. "São conversas no conselho de administração que te deixam mais otimista?"
Monteiro respondeu que "a companhia tem liberdade e vai atuar praticando preços competitivos". O diretor não detalhou, porém, quais são os parâmetros e patamares de competitividade.
Entre 2011 e 2014, a Petrobras amargou perdas próximas a R$ 90 bilhões por vender combustíveis abaixo da cotação internacional.
A queda no preço do barril ajudou a diminuir a defasagem e, a partir de novembro, a companhia passou a ter ganhos com a diferença. No entanto, a tendência é que esse ganho seja anulado, caso o preço do barril de petróleo e o dólar subam.
VENDA DE ATIVOS
Monteiro reafirmou nesta segunda o plano da empresa de vender ativos para reduzir a dívida. O plano de negócios deve ser divulgado na primeira quinzena de junho.
"Temos um desafio muito importante em relação à desalavancagem da companhia, e um dos instrumentos muito enfatizado é o desinvestimento [venda de ativos]. Os números informados, de US$ 3 bilhões este ano e US$ 10,5 bilhões para 2016, permanecem os mesmos."
A redução do endividamento da estatal será discutida pela alta administração da empresa nesta semana.
VINICIUS TORRES FREIRE
Feliz arrocho velho
Mais importante do que os chutes disparatados e ociosos sobre o corte de 2015 é o ajuste de 2016
MAIS IMPOSTO. Sem mais imposto, não será possível fechar as contas do governo federal neste ano na medida em que prometeu e deseja o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O mesmo Levy tem assoprado, desde a semana passada, que virão mais impostos ainda neste ano, aqueles que podem ser decididos com uma canetada pelo governo. Para a diversão da galera, um desses impostos seria cobrado dos bancos, segundo o rumor que circula pelo menos desde abril.
O governo pode catar alguns dinheiros adicionais por meio da venda (privatização!) da área de seguradora da Caixa, do direito de receber a folha de pagamentos do funcionalismo federal, concessões de infraestrutura antigas e de petróleo, também segundo o rumor que circula pelo menos desde abril.
Tudo isso com o objetivo de entregar um superavit primário de 1% no governo federal (trata-se de receita menos despesa, excluído o gasto com juros), em tese. E se o superavit for de 0,8% do PIB, como estimam alguns bancões brasileiros? Errar a meta não vai fazer muita diferença, parece, pelo menos neste ano ("o que importa é a tendência").
Mas do que se trata? 1% de qual PIB? Aquele estimado na lei orçamentária, o que é sempre precário e ficou ainda pior depois que o IBGE reviu os dados do PIB? Do PIB de uma economia que vai encolher 0,9%, como previsto oficialmente pelo governo, ou 1,5%, tal como estima gente pessimista mas ainda assim ponderada?
Obviamente, tais confusões e os Imponderáveis de Almeida badernam Orçamentos de qualquer ano, ainda mais no Brasil de estatísticas inzoneiras e voláteis. Mas, também obviamente, a barafunda deste ano é ainda maior.
A gente sabe ainda menos de quanto será a arrecadação do governo nesta primeira recessão feia em duas décadas, a gente não sabe o que restará do arrocho no Congresso e não sabe quanto do gasto deste ano é a conta da pendura de Dilma 1. A gente não conhece nem estimativas recentes do governo para esses números, sendo tudo velho de quase meio ano.
Logo, essa conversa de que o corte será de R$ 60 bilhões, R$ 70 bilhões ou R$ 80 bilhões, ou sabe-se lá o número, é chutão feio, fofoca irrelevante ou coisa de gente aritmeticamente prejudicada (e corte de quê?). De resto, trata-se de diferença de R$ 10 bilhões como se isso fosse troco. Desde quando? Em 2014, foi o dinheiro de uns 40% do Bolsa Família, que alimenta cinco dezenas de milhões de pessoas, favor prestar atenção.
Embora 2016 seja ainda mais nebuloso, claro, a gente sabe que, para o ano que vem, está prometido um superavit primário de mais ou menos o dobro do que se pretende fazer neste 2015. Está previsto que a economia cresça no máximo para tapar o buraco deixado pela recessão deste ano. Sim, haverá a receita integral de vários arrochos baixados neste ano.
Um pedação do superavit deste ano está sendo feito a machadadas, por falta de opção imediata, de talhos horrendos no investimento. Não dá para repetir a violência em 2016 sem que se prejudique ainda mais a economia.
A pergunta que fica dessa brenha fiscal é: qual vai ser o aumento de imposto para 2016 (ou, improvável, qual vai ser a reforma que vai talhar gastos)?
BENJAMIM STEINBRUCH
Agenda pós ajuste
Para destravar a economia, o país precisa combater o mau humor, o desânimo e, sobretudo, o conformismo
Os empreendedores não empreendem, não procuram crédito porque desanimaram ou porque os recursos estão caros e restritos. Os bancos não se movem para oferecer financiamentos, porque temem riscos econômicos decorrentes de possíveis inadimplências das empresas.
Os bancos públicos, inclusive o BNDES, estão assustados e travados. Temem não só os riscos eco- nômicos como os riscos jurídicos de financiamentos a empresas eventualmente envolvidas em casos de corrupção.
O setor público também está travado. O ritmo das obras diminuiu, muitas pararam completamente, e repasses de recursos estão atrasados mesmo para programas sociais. Até 4 de maio, sete ministérios não haviam movimentado nenhum centavo na conta de investimentos. No Ministério dos Transportes, os gastos caíram 37% até abril; no da Educação, 30%.
Os espaços da mídia econômica só trazem verbos como cortar, demitir, reduzir, ajustar, conter, limitar e outros similares --cultiva-se a depressão, tanto psicológica quanto econômica. Mas, para se desenvolver, qualquer país precisa conju- gar outros verbos, como crescer, expandir, contratar, aumentar, estimular etc.
É urgente preparar e lançar a agenda pós-ajuste e passar a conjugar mais os verbos antidepressivos para atenuar o discurso conservador dominante no país. O equi- líbrio das contas públicas exigiu a adoção desse discurso durante algum tempo, mas não podemos receitá-lo como remédio para to- dos os males.
O mercado imobiliário, por exemplo, importante para a absorção de mão de obra, está deprimido e precisa de estímulos. A caderneta de poupança perdeu R$ 29 bilhões em depósitos nos quatro primeiros meses do ano, dinheiro subtraído do crédito para imóveis.
O número de unidades habitacionais lançadas caiu 50% no primeiro trimestre em São Paulo, principal mercado para o setor. O governo não pode ficar inerte diante da tendência de esvaziamento da poupança. Ou cria novos instrumentos para substituí-la na importante função de financiamento imobiliário ou toma medidas para reestimular os depósitos tradicionais.
Na semana passada, o governo deveria ter anunciado uma nova fase do programa de concessões no setor de infraestrutura. Serão licitados portos, aeroportos, ferrovias e rodovias, em operações cujos investimentos totalizam R$ 100 bilhões.
Esse é um bom caminho, pelo qual podemos começar a deixar para trás essa fase de terrível mau humor. Infelizmente o anúncio foi adiado para junho.
Para destravar a economia, o país precisa combater o mau humor, o desânimo e, principalmente, o conformismo. Há, por exemplo, uma inexplicável aceitação por parte do setor produtivo da elevação seguida dos juros num ambiente de demanda já contraída. Esse remédio amargo, aplicado em doses cada ver maiores há 25 meses no país, mostra-se claramente ineficaz para reduzir a inflação, hoje decorrente, em grande parte, dos aumentos de preços administrados.
Os juros sufocam o país com custos abusivos e seus graves efeitos colaterais, como o aumento da dívida pública e a apreciação do câmbio. E não se ouvem críticas. É um silêncio assustador.
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