INVESTING: Remédio para a economia pode se tornar veneno e isto impactar no câmbio (por Sidnei Nehme)
Temos destacado de forma até enfática que a formação dopreço da moeda americana deve considerar as pressões dos fatores internos e externos, mas que de longe os internos são mais intensos e preocupantes, por isso não há fundamentos que sustentem o preço atual fora do entorno entre R$ 3,05/R$ 3,10, que nos parece o ponto de equilíbrio compatível com a realidade brasileira, depois de atenuado o sentimento amplamente negativo com a ajuda das agências de risco S&P e Fitch e a definição de uma convivência menos conflituosa do governo com o Congresso.
Com base no comportamento no período de 17 a 28 e ao longo dele destacamos que ocorria forte especulação apreciando o real sem base em fundamentos.
As economias americana, europeia, japonesa e mesmo a chinesa atravessam período de indefinições e buscam, cada uma "de per si", soluções focando restabelecer os níveis adequados de suas atividades econômicas.
O Brasil que não é um protagonista relevante do cenário mundial, considerado emergente e atualmente bastante fragilizado pelo estado de deterioração generalizado de sua economia, detém relevantes problemas estruturais e conjunturais a serem ajustados focando a superação deste quadro.
Para tentar redimir-se de erros e práticas não bem aceitas contumazes ao longo de um passado ainda recente, a nova equipe econômica do governo está reorganizando todo o desarranjo ocorrido e isto está impondo uma forte tendência à recessão da economia, levando a um PIB negativo, e provocando em contrapartida a incapacidade de geração de receitas que viabilizem a obtenção do superávit primário objetivado, deixando latente o risco de o país poder vir a perder o grau de investimentos.
Evidentemente que este cenário em que o “remédio inevitável é administrado à economia e pode se tornar em veneno a ponto de provocar sua incapacidade de gerar receitas imprescindíveis à obtenção do superávit primário” não passa despercebido aos olhares ávidos dos investidores estrangeiros e nacionais, e assim pode ser retomado o agravamento da percepção negativa em torno das perspectivas.
Desta forma boas intenções teóricas podem se inviabilizar na prática.
Os setores produtivos da economia e a população de forma generalizada já estão “sangrando” para suportar o aumento substantivo da carga de custos de todas naturezas, sendo necessário que o governo “corte da própria carne” mas isto determinará de forma inequívoca o envolvimento dos programas sociais, o que provocaria reações intensamente negativas para o governo.
Há então um “corner”, o Brasil está em “cheque mate” precisa viabilizar a obtenção do superávit primário, mas já não há fontes para suprir a necessidade arrecadatória e se intentar neste sentido o país poderá piorar rapidamente o quadro de recessão, intensificando o desemprego e a queda da renda que impactará no consumo.
Em suma, o alcance da meta de superávit fiscal está ficando cada vez mais difícil e distante.
O índice de confiança da indústria apurado pela FGV de acordo com a “Sondagem da Indústria de Transformação” caiu em abril 3,4% ante março com o indicador apontando 72,8 pontos. É o menor nível da série da pesquisa iniciada em outubro de 2005.
O Ministro Levy reafirmou na última quarta-feira, durante apresentação à Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, a importância que o grau de investimento representa para atrair investimentos ao Brasil, e colocou que sem ajuste o risco de perder o grau de investimento volta a galope.
No nosso entender já está às nossas portas, pois os resultados ruins do setor público potencializam esta realidade.
Por isso, o câmbio é algo para ser monitorado com mão de ferro pelo BC neutralizando movimentos especulativos que buscam se alimentar de falsos indícios de melhoras, que acabam por desequilibrar o preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, sendo que isto em nada é contributivo pois trava os negócios com o mercado externo já que fica difícil definir preços, desestimula os investimentos e o espírito empreendedor dos investidores, e até mesmo o capital especulativo pode recuar no seu intento de obter rentabilidade no Brasil que já proporciona um juro real acima de 7%.
A despeito de o país ter reservas cambiais da ordem de US$ 370,0 Bi, em termos efetivos US$ 350,0 Bi se deduzirmos as posições vendidas dos bancos causadas pela geração de liquidez que é função do BC, temos um risco cambial elevado e qualquer movimento que ocorra de saída do país será muito em impacto ao estoque de reservas. E devemos considerar que neste momento o país não tem capacidade de aumentar o volume de reservas, muito pelo contrário.
É preciso atentar para as fragilidades presentes no câmbio. Um estoque extraordinário de contratos de swaps cambiais da ordem de US$ 110,0 Bi ainda ancora a credibilidade da moeda nacional, sem o que o preço do dólar estaria muito mais elevado. E, ainda, temos um resultado na conta de transações corrente extremamente desalentador, atualmente de US$ 101,0 Bi, com projeção pelo BC de ser reduzida para US$ 84,0 Bi até o final do ano.
A decisão do COPOM de elevar a taxa SELIC para 13,25% tende a não ser a última, certamente a SELIC precisará ir mais alto, pois é inevitável que o robusto ajuste que vem realizando o governo com repercussões em toda economia não repercutam nos índices inflacionários de forma inevitável.
O governo, através o BC, deveria acentuar o monitoramento do comportamento do mercado a partir de maio, promovendo a devida oferta da rolagem dos contratos de “swaps” cambiais de forma extremamente coerente com a demanda, evitando manipulações e especulações que poderão vir a criar problemas para o país ao neutralizar os benefícios que poderiam advir de um preço equilibrado.
Consideramos o mês de maio como extremamente relevante para se ter uma visão mais abrangente sobre a viabilização ou não do superávit fiscal, mas entendemos que o preço da moeda americana deverá flutuar entre R$ 3,05 a R$ 3,10.
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