Na FOLHA: Crise de Dilma corrói imagem de Lula
A crise do governo Dilma Rousseff está corroendo a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no imaginário do eleitor, segundo números do Datafolha.
Pouco mais de quatro anos depois de passar a faixa presidencial à afilhada política, um em cada dois eleitores ainda consideram o petista o melhor presidente que o Brasil já teve. Mas a taxa é 21 pontos menor que a de novembro de 2010, quando ele estava no fim de seu mandato.
Naquele ano, quando a economia cresceu 7,5%, Lula era considerado o melhor presidente da história por 71% dos eleitores.
Em dezembro de 2014, com Dilma reeleita e crescimento econômico de 0,1%, o prestígio de Lula caiu para 56%. Na semana passada, véspera dos protestos, a taxa recuou para 50%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou para menos.
"Há uma conjunção de crises política e econômica que poucas vezes se viu e o Lula não saiu ileso", afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.
Outro sintoma da erosão é que Lula aparece, pela primeira vez, numericamente atrás de Aécio Neves (PSDB) em intenções de voto: 33% a 29%.
Na contramão do desgaste de Lula, os problemas de Dilma, aos poucos, ajudam a reabilitar a imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2010, só 6% dos eleitores o consideravam o melhor presidente. Agora, são 15%.
Fórmula de atos não teve efeito esperado, diz líder anti-Dilma
FHC defendeu o distanciamento dos partidos de oposição das manifestações pelo impeachment
Sem conseguir repetir no domingo (12) a mobilização que reuniu no mês passado mais de um milhão de pessoas nas capitais brasileiras, movimentos contrários à presidente Dilma Rousseff (PT) decidiram adotar novas frentes de atuação além dos atuais protestos de rua.
Na liderança das manifestações, o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua pretendem aumentar a pressão por um posicionamento do Congresso Nacional diante da pauta de reivindicações defendida nas ruas.
Na avaliação de Renan Santos, um dos líderes do MBL, a fórmula adotada até agora de manifestação de rua em capitais brasileiras "não teve o resultado" político esperado.
Segundo ele, mesmo tendo levado milhões de pessoas às ruas, os protestos não repercutiram em Brasília e não tiveram "resposta política condizente". "A fórmula da manifestação de rua e em grandes capitais foi explorada ao limite e não obteve os resultados que deveria. Não temos de buscar ter mais uma manifestação grande para tentar superar o dia 15 de março. A questão não é a intensidade, mas a natureza do ato tem de ser diferente", disse.
Na nova estratégia de atuação, o MBL anunciou que, a partir da sexta-feira (17), dará início a marcha que sairá de São Paulo com destino a Brasília. O objetivo é levar ao Congresso Nacional a pauta de reivindicação do movimento, que inclui a abertura de processo de impeachment contra a presidente.
"Como os atos não vêm tendo o endosso das siglas de oposição, temos de dar o recado mais próximo deles. Não vai ter outro jeito a não ser fazer em Brasília", disse.
Em iniciativa semelhante, o Vem pra Rua anunciou que irá a Brasília na quarta-feira (15) apresentar ao Congresso Nacional, junto a movimentos sociais contrários ao PT, documento no qual lista suas principais reivindicações.
"O que faremos daqui para frente é monitorar o Poder Legislativo sobre o que vão fazer diante das demandas apresentadas nas ruas", explicou Rogério Chequer, porta-voz do Vem Pra Rua.
No dia seguinte ao protesto que reuniu 100 mil pessoas na Avenida Paulista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu o distanciamento das siglas de oposição ao governo federal das manifestações pelo impeachment da presidente.
Para ele, a participação institucional das legendas nos protestos de rua seria "grave" e poderia representar uma tentativa de "instrumentalizar" atos convocados por setores da sociedade civil.
"Os movimentos têm dinâmica própria e não foram convocados por partidos políticos". ressaltou. "Se os partidos fossem para as ruas, acho que seria mais grave, porque ia ser tentar instrumentalizar aquilo que não é instrumentalizado", acrescentou.
Em sentido oposto, o presidente do PSDB em Minas Gerais, Marcus Pestana, informou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pretende criar um canal de diálogo para aproximação com as lideranças dos movimentos de rua.
Segundo ele, o tucano irá convidá-los para uma reunião neste mês. Procurado pela Folha, Aécio Neves disse que "não há nada que impeça" o encontro, mas que "não existe nada marcado" ainda.
Pé no acelerador
(POR VERA MAGALHÃES NA COLUNA painel)
O PSDB pediu que Miguel Reale Júnior, ministro da Justiça no governo FHC, elabore uma ação penal contra Dilma Rousseff pela "pedalada fiscal" que o governo realizou em 2014. Se for julgada pelo Senado por crime de responsabilidade, a presidente poderia sofrer impeachment. Os tucanos resolveram agir embalados pela pesquisa Datafolha que mostrou que 63% apoiam a abertura de processo contra Dilma. Reale ainda analisa o caso para ver se há viabilidade jurídica.
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No papel O partido quer embasar a ação em pareceres de auditores e do Ministério Público junto ao TCU que apontam que o governo descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal ao adiar repasses a bancos públicos para melhorar as contas em 2014.
Agora ou nunca Depois da queda significativa de público nos atos do domingo, parte do tucanato avaliou que, se o partido não for ao ataque, perderá o timing, repetindo a trégua que deu a Lula após o mensalão, em 2005.
Melhor não Diante da nova diretriz do PSDB, o encontro de Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso, previsto para estar terça-feira, foi adiado "sine die".
Sinais Aécio Neves convenceu FHC de que uma coisa seria conversar com o presidente do PMDB sobre reforma política. Outra, bem diferente, seria se encontrar com o articulador político de Dilma e passar a ideia de um "pacto" de governabilidade.
Governadores do Rio e do Acre negam participação em desvios
Procuradoria pediu investigação de Pezão (PMDB) e Tião Viana (PT)
Os governadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre, Tião Viana (PT), negaram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) as acusações de que teriam se beneficiado do esquema de corrupção da Petrobras.
O Ministério Público Federal pediu abertura de inquérito sobre eles em março.
Em depoimento, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que trabalhou para o "caixa dois" da campanha do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) ao governo do Rio em 2010. Pezão era candidato a vice na chapa.
"Nunca presenciei qualquer reunião em que o ex-governador Sérgio Cabral tenha pedido qualquer ajuda de campanha", disse Pezão.
O governador argumenta ainda que a acusação não faz sentido, já que, em 2010, ele e Cabral brigavam com a Petrobras pela ameaça de mudança no modelo de partilha dos royalties do petróleo, o que prejudicaria o Estado.
Sobre Tião Viana, Costa disse que ele recebeu R$ 300 mil em 2010, quando disputou o governo do Acre, por intermédio do doleiro Alberto Youssef.
Viana diz não ter autorizado ninguém a pedir doação para sua campanha. "Principalmente aos senhores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef", afirma.
PETROLÃO
Governo segurou denúncia de suborno, afirma delator
Ex-diretor da holandesa SBM acusa CGU de esperar eleição para abrir processo (por LEANDRO COLON, da FOLHA EM LONDRES)
O principal órgão de controle interno do governo federal recebeu durante a campanha eleitoral do ano passado provas de que a empresa holandesa SBM Offshore pagou propina para fazer negócios com a Petrobras, mas só abriu processo contra a empresa em novembro, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Em entrevista à Folha, o ex-diretor da SBM Jonathan David Taylor disse que prestou depoimento e entregou mil páginas de documentos internos da empresa à CGU (Controladoria-Geral da União) entre agosto e outubro de 2014.
O órgão só anunciou a abertura de processo contra a SBM em 12 de novembro, 17 dias após o segundo turno da eleição presidencial.
Taylor trabalhou durante oito anos e meio para a SBM na Europa e é apontado pela empresa como responsável pelo vazamento de documentos e informações sobre o caso publicadas na Wikipedia em outubro de 2013.
O vazamento levou a investigações sobre a SBM no Brasil e na África. Os documentos indicam que ela pagou US$ 139 milhões ao lobista brasileiro Julio Faerman para obter contratos na Petrobras.
Entre abril e junho do ano passado, Taylor depôs e entregou documentos ao Ministério Público da Holanda. Segundo a própria SBM, ele participara de um grupo que conduzira uma investigação interna sobre o caso em 2012.
Na entrevista à Folha, a primeira a um veículo brasileiro, o delator disse que foi sua a iniciativa de procurar a CGU, que abrira uma sindicância para apurar o caso no Brasil.
Em 27 de agosto, ele repassou ao órgão o relatório de uma auditoria interna da SBM, mensagens eletrônicas, contratos com o lobista, extratos de depósitos em paraísos fiscais, a gravação de uma reunião da empresa e uma lista com nomes da Petrobras.
O material foi enviado por email ao diretor de Acordos e Cooperação Internacional da CGU, Hamilton Cruz, que no dia seguinte atestou o recebimento e informou que passaria as informações para o chefe da investigação.
No dia 3 de outubro, dois dias antes do primeiro turno, Taylor recebeu no Reino Unido a visita de três funcionários da controladoria, entre eles Hamilton Cruz. "Contei tudo o que sabia", afirma o delator.
A CGU nunca divulgou dados sobre a viagem e o depoimento. Para Taylor, a demora do órgão em anunciar o processo contra a empresa holandesa teve motivação política.
"A única conclusão que posso tirar é que queriam proteger o Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações para evitar impacto negativo nas eleições", diz.
Os valores pagos ao lobista Julio Faerman, segundo Taylor, são bem maiores do que os divulgados até aqui: "Era muito mais. O comprometimento [da SBM] era de pelo menos US$ 225 milhões".
Em 12 de novembro, a SBM fechou acordo com as autoridades holandesas e aceitou pagar US$ 240 milhões para se livrar de punições na Holanda. Na tarde do mesmo dia, a CGU anunciou a abertura de processo contra a empresa no Brasil. "Todas as partes esperaram cinicamente até o fim das eleições", afirma Taylor.
No momento, a SBM negocia com a Controladoria um acordo de leniência, em que poderá colaborar com as investigações sobre corrupção na Petrobras para se livrar de punições e continuar fazendo negócios com o setor público.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse que a SBM doou US$ 300 mil à campanha de Dilma nas eleições de 2010 e apontou Faerman como o operador que fez o dinheiro chegar ao PT.
Segundo sua defesa, se a contribuição foi resultado de propina, Viana "ignora, mas sempre repudiou condutas dessa espécie".
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