Soja: Após intensas perdas, mercado tenta manter estabilidade em Chicago nesta 6ª feira
Depois de uma forte e intensa realização de lucros na Bolsa de Chicago, os futuros da soja exibem uma manhã de estabilidade e oscilações limitadas nesta sexta-feira (10). O mercado, por volta das 7h40 (horário de Brasília), subia pouco menos de 1 ponto entre os principais vencimentos.
Segundo analistas, os negócios parecem digerir o conjunto de informações negativas divulgadas para o mercado nesta quinta-feira (9), principalmente a chegada de mais um boletim neutro e sem muitas novidades do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
No Brasil, as cotações - que têm tido grande influência do dólar - também foram pressionadas nesta quinta-feira e acabaram por perder o patamar dos R$ 70,00 por saca nos portos brasileiros. Apesar da ligeira alta de 0,5% no fechamento da sessão volátil de ontem, a moeda americana já se mostra em patamares bem mais baixos do que os registrados há algumas semanas.
Veja como fechou o mercado nesta quinta-feira:
Soja: Com falta de novidades do USDA, mercado fecha com forte baixa na CBOT nesta 5ª
Diante de uma conjunção de fatores e notícias negativas para o mercado internacional da soja, os futuros da oleaginosa fecharam a sessão desta quinta-feira (9) com expressiva queda na Bolsa de Chicago. Os vencimentos mais negociados terminaram o dia com baixas de 16,75 e 18 pontos, e o maio/15, primeira posição e referência para a safra brasileira, cotado a US$ 9,54 por bushel.
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) começou o dia atualizando seus números das vendas semanais para exportação e os dados para a soja da safra 2014/15 apresentaram um cancelamento, ou o chamado movimento de "washout", que é a troca de origem por parte do comprador.
Na semana que terminou em 2 de abril, o saldo das vendas norte-americanas ficou em 383,2 mil toneladas, com um cancelamento (movimento de washout) de 176,7 mil da safra 2014/15 e a venda de 559,9 mil toneladas da temporada 2015/16. Na semana anterior, as vendas somaram 595,7 mil toneladas. As expectativas do mercado eram de vendas em 270 mil toneladas da oleaginosa.
No acumulado do ano comercial, as vendas norte-americanas de soja já somam 48.320,1 milhões de toneladas, enquanto a última projeção do USDA para todo o período, que termina em 31 de agosto, é de 48,72 milhões de toneladas, ou seja, já há 99% do volume comprometido do total estimado. Na temporada anterior, nesse mesmo período, o total era de 44.589,7 milhões de toneladas.
Segundo explicou o consultor de mercado Ênio Fernandes, esses movimentos de cancelamento são bastante comuns nesse momento da temporada, uma vez que quase toda a projeção do USDA para as vendas da safra 2014/15 dos EUA já foi alcançada. "Os EUA não têm mais para vender, então o mercado já esperava por isso, e aproveitou esse excesso de notícias negativas para realizar lucros", disse.
Em seguida, o departamento agrícola norte-americano trouxe ainda seu novo boletim mensal de oferta e demanda e os números apresentaram poucas alterações em relação ao reporte de março. "Hoje não tivemos nada de positivo para o mercado. O relatório veio neutro e conservador", disse o consultor de mercado da Cerealpar, Steve Cachia.
Os estoques finais de soja dos EUA foram reduzidos de 10,48 milhões para 10,07 milhões de toneladas, ficando dentro das expectativas dos traders. As projeções variavam entre 9,444 milhões e 10,859 milhões de toneladas.
As exportações, por outro lado, foram mantidas. Em contrapartida, as importações americanas subiram de 680 mil para 820 mil toneladas. O chamado residual também subiu e passou de 650 mil para 1,03 milhão de toneladas. O esmagamento de soja no país também ficou inalterado em 48,85 milhões de toneladas.
"As exportações não foram alteradas e esperávamos por isso e, caso isso acontecesse, teríamos estoques mais baixos do que o cogitado", explica Cachia.
Além disso, o USDA trouxe ainda números importantes sobre a safra da América do Sul, mantendo a produção brasileira em 94,5 milhões de toneladas e aumentou a argentina de 56 para 57 milhões de toneladas, outro fator que pesou sobre as cotações, segundo explicaram os consultores. "Temos boas safras chegando da América do Sul, tanto no Brasil quanto na Argentina", diz Ênio Fernandes.
Complementando o cenário negativo para os preços da soja na Bolsa de Chicago, o mercado deu atenção também ao comportamento do clima em regiões produtoras de grãos dos EUA, ainda de acordo com Steve Cachia. Em áreas onde o plantio de milho já começou, principalmente em locais mais ao sul dos Estados Unidos, há chuvas excessivas e, caso a semeadura do cereal fique comprometida, os produtores norte-americanos poderiam migrar para a cultura da soja.
"O clima está bem úmido para o plantio do milho nos estados do Sul dos Estados Unidos. Em cerca de sete dias, as áreas no coração do Corn Belt - como Iowa, Illinois e Nebraska - irão começar seus trabalhos de campo e, para esse período, são esperadas condições um pouco melhores", relata o analista internacional Mike McGinnis, editor do site internacional Agriculture.com.
McGinnis acredita ainda que, sem um evento climático que traga prejuízo para a nova safra norte-americana, os mercados - tanto da soja, quanto do milho - têm espaço para baixas mais acentuadas pela frente. "Se os preços do milho caírem, teremos mais produtores migrando para a soja. E se tivermos, para completar, um clima ruim para o plantio, esse movimento para a soja pode ser ainda mais expressivo. ", explica o analista. "Quando se tem duas commodities com preços mais baixos, a que tem seu custo de produção mais barato leva a preferência. O patamar de US$ 4,50 é o preço de break-even (limite antes do prejuízo) para o milho da safra nova e o que temos agora são os futuros da posição dezembro/15 próximos de US$ 4,03/bushel", completa.
Nesta quinta-feira, segundo noticiou a agência Reuters, o órgão oficial de previsão do tempo dos Estados Unidos elevou nesta quinta-feira sua expectativa de ocorrência de El Niño durante o verão no Hemisfério do Norte para 70 por cento, ante 60 por cento no mês passado, com uma possibilidade de 60 por cento de que o fenômeno dure até o outono. "O Centro de Previsão do Clima (CPC), uma agência do Serviço Meteorológico nacional, manteve em seu relatório mensal a previsão de que o El Niño seja fraco, caso ele ocorra", informou a Reuters.
Com esse quadro, Ênio Fernandes acredita que o mercado em Chicago deve manter-se ainda em um intervalo de preços entre US$ 9,50 e US$ 10,00 por bushel, com esses níveis estimulando as vendas ao se aproximarem das máximas e as compras ao chegarem perto das mínimas. "O mercado pode quebrar os US$9,50, mas não acredito que isso vá acontecer agora. Se ele perde esse patamar, inibe muito a força vendedora", explica o consultor. "Não vejo o mercado trabalhando de forma tão pressionada de maneira muito consistente".
Mercado Interno
No mercado interno, os preços da soja foram pressionados, principalmente nos portos, em função das expressivas baixas registradas em Chicago e mais um dólar em patamares menores frente ao real, apesar da ligeira alta registrada nesta quinta-feira (9). Com isso, as principais referências perderam o patamar dos R$ 70,00.
Em Paranaguá, a soja para abril/15 caiu 1,43% para R$ 66,00 por saca. Em Santos, a baixa foi de 1% para R$ 69,30; enquanto em Rio Grande, o produto disponível recuou 2,03% e para maio/15 1,72%, com valores de, respectivamente, R$ 67,50 e R$ 68,50 por saca.
Assim, Steve Cachia explica também que, por conta dessas baixas, o mercado brasileiro está parado. Os vendedores se retiraram do mercado diante dos atuais preços e há somente movimentos bastante pontuais. "Há uma pressão maior sobre o mercado agora, mas há também muita especulação. E especulações poderiam, também, promover alguma movimentação dos preços para cima. Além disso, temos também uma demanda forte e isso poderia ainda dar algum suporte para os preços mais adiante", diz.
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