Cenário da cafeicultura preocupa produtores
Produtores de café e representantes de sindicatos rurais se reuniram ontem (12/02), na Comissão Técnica de Café da FAEMG, para discutir o cenário de quebra de safra e falta de chuvas que o setor está enfrentando em Minas Gerais. Os problemas com déficit hídrico nas lavouras começaram ainda em 2013 e, pela avaliação do diretor da FAEMG e presidente da Comissão, Breno Mesquita, a seca vai impactar nas safras 2015/16: “Nosso objetivo é levar as demandas para a ministra Kátia Abreu, para contornar os impactos destes problemas na cafeicultura”.
Representantes do Sul de Minas, Matas de Minas, Cerrado Mineiro e Chapada apresentaram demandas diferentes e atuais, que se complementam, reforçou Breno Mesquita. No rol dos pedidos que figuraram na reunião está a liberação dos créditos do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) no período adequado a cada região e melhoria do preço mínimo estabelecido pelo Governo Federal. Outro ponto levantado, por representantes do Cerrado, é a solução para entraves na legislação ambiental, quanto a realizar barramentos e retenção de água na propriedade. Há também grande apreensão com a falta de água recorrente.
As lavouras mineiras passaram por três secas consecutivas, nos principais momentos de desenvolvimento das plantas: Um veranico em 2014, seca na florada do mesmo ano e outro veranico este ano, que vai impactar diretamente na qualidade das lavouras para 2016. Os reflexos já podem ser percebidos nos cafezais espalhados pelo estado. Dos 853 municípios mineiros, 563 plantam café. Cerca de 200 deles, são responsáveis por 90% da produção e os 50 maiores respondem por quase 50% do volume do café mineiro.
A cafeicultura está enfrentando uma situação preocupante. “Custos altos e preços não condizentes com a realidade levam o produtor a ficar descapitalizado. Com menos capital, o valor investido na produção diminui e isso reflete diretamente na cultura. Uma de nossas metas é tentar reescalonar os pagamentos atrasados e elaborar uma política de venda para os produtos, na qual os produtores consigam equilibrar seus passivos”.
Pesquisa - Segundo o pesquisador da Fundação Procafé, Alysson Fagundes, a entidade está preparando um levantamento para o início de março, a pedido do CNC (Conselho Nacional do Café), sobre a safra em Minas. Como o grão possui um ciclo bienal, e o período de déficit hídrico ocorreu em janeiro nos dois anos, no primeiro momento afetou o crescimento e, no segundo, a formação dos frutos. Em grande parte dos cafezais mineiros os frutos estão mal formados, com espaços ou pretos.
Outro fator que vem atrapalhando o crescimento dos frutos no estado é a temperatura em algumas regiões. De acordo com Alysson, 15 dias sem chuva em janeiro e fevereiro não é algo fora do normal, porém quando a temperatura atinge 40 graus a situação é diferente. “O cafeicultor deve dobrar os cuidados com as suas lavouras para que elas consigam suportar adversidades climáticas”.
De acordo com o engenheiro agrônomo da mesma entidade, Rodrigo Naves Paiva, os períodos mais críticos ocasionados pelo déficit hídrico elevado ocorreram em janeiro, fevereiro, outubro e novembro de 2014. Período que os cafezais estavam no momento de floração. “Para complicar ainda mais a situação, janeiro de 2015 ficou sem chuvas, o que impactou na granação desta safra e poderá trazer reflexos negativos para a safra de 2016.”
Sindicatos - Alguns municípios produtores de café estão em situação crítica por causa da estiagem severa. Na região da cidade de Lajinha, não choveu por 45 dias. Em dezembro de 2014 houve precipitação de 148 mm e, no mês seguinte, apenas 1,5 mm. Com esta drástica redução, associada a altas temperaturas, a queda na produção deverá ser mais significativa em lavouras de 1ª ou 2ª safra, afirmou o presidente do Sindicato de Lajinha, Evaldo Afonso Rodrigues.
Em Boa Esperança, Sul de Minas, a situação não é diferente. Segundo o presidente do Sindicato Rural, Manoel Joaquim da Costa, foi decretada situação de emergência no município. Nos levantamentos preliminares, foi estimada quebra de safra da ordem de 30% na cultura do café. As perdas também foram qualitativas, devido à má formação dos grãos, gerando um maior percentual na catação do café beneficiado.
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