CNC: Apesar das significativas perdas em dezembro, café foi a commodity com melhor desempenho no ano de 2014
Boletim Conjuntural do Mercado de Café
— Dezembro de 2014 —
Pressionadas pelo aumento da umidade nas regiões produtoras brasileiras e pela multiplicidade de especulações sobre a safra, que, em tese, amenizam as preocupações de investidores sobre uma drástica retração na quantidade ofertada de café na próxima temporada — muito embora a realidade seja outra a respeito da produção nacional —, as cotações futuras do arábica sofreram significativas perdas no mês de dezembro. O real desvalorizado e a redução do saldo líquido comprado dos fundos de investimento no mercado futuro da Bolsa de Nova York também contribuíram para essa tendência.
Em dezembro, o vencimento março do Contrato C da ICE Futures US registrou queda de 2.085 pontos, sendo cotado a US$ 1,666 por libra-peso no último dia do mês. Mesmo assim, a cotação média mensal, de US$ 1,76, foi 77% superior à do mesmo período de 2013. Isso se deve ao impacto dos dez meses de estiagem ocorrida em 2014, que impulsionaram as cotações do café ao longo do ano, ante a tendência de desvalorização que predominava até o final de 2013.
As condições climáticas adversas no Brasil fizeram do café a commodity que mais se valorizou neste ano, conforme ilustrado no gráfico abaixo. No acumulado de 2014, a média do primeiro e segundo vencimentos do Contrato C registraram alta superior a 5.600 pontos. Esse fato é notável porque, em 2014, as commodities em geral registraram o pior desempenho desde a crise financeira global de 2008, afetadas pela desvalorização do petróleo e pelo fortalecimento do dólar.
Em relação ao comportamento dos fundos que operam no mercado futuro e de opções de café arábica na Bolsa de Nova York, este ano seu saldo líquido comprado chegou a atingir volumes recordes, durante o auge das preocupações com o impacto da estiagem prolongada no Brasil e com o equilíbrio entre oferta e demanda mundial. Porém, com a chegada das chuvas sobre as regiões produtoras, notou-se tendência de aumento das posições vendidas no final do ano, que repercutiu na queda das cotações do Contrato C em dezembro.
Já os estoques certificados de café da ICE Futures US apresentaram, no último mês de 2014, redução de 22,25 mil sacas, encerrando o mês em 2,31 milhões de sacas. Em relação ao volume registrado no final de 2013, de 2,71 milhões de sacas, houve redução de 14,6%.
Embora as chuvas do final de 2014 tenham contribuído para estancar as perdas da safra 2015 do Brasil, há consenso que os volumes a serem produzidos ficarão aquém do potencial do parque cafeeiro nacional. Porém, é precoce a realização de qualquer previsão, uma vez que ainda há incerteza sobre as condições climáticas do início de 2015. Nesse sentido, a agência Reuters divulgou, no último dia do ano, informações que apontam clima quente e seco nas duas primeiras semanas de janeiro sobre Minas Gerais e Espírito Santo, cogitando a possibilidade de um novo veranico sobre os Estados que respondem por 80% da produção nacional de café. Além disso, em dezembro, a precipitação acumulada em Minas Gerais aproximou-se de 350 mm, abaixo da média histórica de 480 mm da região.
O mercado futuro da variedade robusta também registrou desvalorização em dezembro. O vencimento março/2015 acumulou queda de US$ 154, sendo cotado a US$ 1.916 por tonelada no último dia do ano. Mesmo assim, a cotação média mensal, de US$ 1.969, foi 15% superior à registrada no mesmo período do ano passado.
Como a desvalorização das cotações do café arábica foi mais acentuada do que a observada no robusta, houve tendência de estreitamento da arbitragem entre os terminais de Nova York e Londres, que encerrou o mês próximo a US$ 0,8.
Os estoques certificados de robusta monitorados pela ICE Futures Europe consolidaram sua tendência de recomposição, encerrando o ano em aproximadamente 2,1 milhões de sacas, volume mais de quatro vezes superior ao contabilizado no final de 2013.
No mercado cambial, o dólar voltou a apreciar-se ante o real em dezembro, registrando alta de 3,4% e encerrando o ano a R$ 2,6587. Este foi o quarto ano consecutivo que a divisa norte-americana fortaleceu-se frente à moeda brasileira. Em 2014, o dólar acumulou valorização de 12,7%, atingindo os valores mais altos em quase dez anos. O cenário internacional favoreceu essa tendência, com o fim da injeção de dólares na economia dos Estados Unidos e aumento das expectativas quanto à alta dos juros naquele país. No âmbito doméstico, as especulações típicas do ano eleitoral, as incertezas quanto ao futuro da política econômica brasileira e do programa de intervenção do Banco Central contribuíram para esse resultado.
No mercado físico brasileiro, os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para as variedades arábica e conilon encerraram dezembro com variação acumulada de, respectivamente, 1,4% e -3,3%. No ano, a valorização foi de 54% para a saca do arábica e de 24% para o conilon. Com isso, houve alargamento no diferencial entre as variedades, que saltou de R$ 67/saca, no início de 2014, e encerrou dezembro em R$ 182/saca.
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