Liberdade e desenvolvimento, por HENRIQUE MEIRELLES (na FOLHA)
HENRIQUE MEIRELLES
Liberdade e desenvolvimento
A liberdade individual é um conceito novo na história da humanidade. Na maior parte da história, ninguém ouviu falar em direitos humanos. A escravidão era fenômeno universal nas sociedades primitivas. Países promoviam a guerra para escravizar os vencidos. Crianças eram vendidas pelos pais em dificuldades financeiras.
O conceito de liberdade começou a ser desenvolvido com a ideia judaica de que todos, inclusive os governantes, devem se sujeitar a uma lei maior, definida por Deus. Mas seu desenvolvimento foi lento. Na Grécia, a democracia prevalecia só entre os homens livres, que tinham escravos.
Durante o século 17, pensadores europeus desenvolveram a ideia de que cada pessoa é dona de si e tem direito inviolável à vida, à liberdade e à propriedade. Adotada posteriormente em outras regiões, essa ideia teve efeito profundo na humanidade. As leis passaram a limitar os direitos dos governantes, que até ali podiam expropriar, matar e escravizar os governados. Juízes e tribunais adquiriram paulatinamente o poder de decidir sem temer as consequências --inclusive o de condenar governantes.
O conceito da supremacia das leis e da propriedade privada desenvolveu a Justiça e a atividade econômica, permitindo às pessoas trabalhar, poupar e investir sem o risco de expropriações arbitrárias. A partir do século 17, regiões da Europa passaram a adotar a noção de que o direito à propriedade é inviolável e ninguém pode ser privado dele, exceto em casos de necessidade pública inequívoca, legalmente determinada e com justa indenização.
Este direito foi muito combatido por teorias propondo que a política pública deveria ser determinada levando em conta só o benefício coletivo, enquanto o direito individual seria irrelevante ou até negativo. Mas a história mostra que governantes com poder absoluto terminam, na maioria das vezes, por malversar recursos e privilegiar interesses individuais e de grupos.
Vemos até hoje atitudes arbitrárias de governantes recebendo e concedendo vantagens indevidas sob o manto do bem comum, o que causa graves erros de formulação e implementação de políticas públicas. Por isso é fundamental reforçar as instituições, a transparência e a livre competição regulada por normas que impeçam monopólio, cartel e benefícios indevidos e permitam a todos o direito de, por um lado, produzir melhores bens e serviços pelo menor preço e, por outro, adquiri-los a preços justos.
Uma sociedade de instituições fortes baseadas em leis claras e compreendidas por todos, tendo o Estado como provedor de serviços de qualidade numa economia de livre mercado, é o caminho para consolidar o crescimento sustentável e elevar o padrão de vida da população.
Um bom começo (EDITORIAL DESTE DOMINGO)
Nova equipe econômica anunciou ou já aprovou algumas medidas relevantes, que avalizam as intenções de recolocar o país nos trilhos
O discurso de posse da presidente Dilma Rousseff (PT) evidenciou outra vez o quanto a petista resiste à crítica de que o programa de seu primeiro governo resultou em degradação das condições de crescimento econômico, fracasso notável em passivos crescentes, produtividade estagnada, inflação alta e regressão institucional.
Pelo menos se verifica, com alívio, que, apesar da recusa retórica a admitir erros, Dilma não tem sido empecilho a um plano de retorno à racionalidade econômica.
Recém-nomeados, os ministros da Fazenda e do Planejamento afirmaram que o governo voltaria a ter uma meta crível de poupança. Ademais, empregaria medidas corretas do valor da dívida e conteria o agigantamento dos bancos públicos. Houve ainda vagas promessas de reformas microeconômicas e de incentivo ao mercado de capitais.
Desde então, o crédito no BNDES encareceu, primeira iniciativa com vistas a reduzir caros subsídios para empresas privadas. Há compromissos e primeiros passos no sentido de dar cabo de subvenções à energia elétrica, entre outras.
Divulgou-se um pacote de ações, devidas faz muito tempo, a fim de conter gastos exagerados com pensões por morte e seguro-desemprego. Não houve "cassação" de direitos, mas apenas e tardiamente a exigência de prazos de carência para a concessão de tais benefícios.
Havia incentivos para a montagem de arranjos familiares com o propósito de obter pensões precoces, além de estímulos para a alta rotatividade no emprego, com o que se cavavam vantagens indevidas contra o interesse da maioria dos contribuintes.
A nova equipe econômica tem reafirmado seu compromisso com o desmonte do programa de endividamento público para a concessão de crédito estatal, que custou quase meio trilhão de reais desde 2009.
Tanto ministros da área econômica como o Banco Central tomam ou preanunciam medidas que devem levar a taxa de câmbio a um valor mais realista e compatível com as necessidades de financiamento externo do país.
Isto é, um real mais desvalorizado, o que deve conter o consumo de importados e dar algum estímulo às exportações brasileiras --espera-se, assim que seja reduzido o preocupante deficit externo.
Ainda nesse front, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) tocou em outro tabu do petismo ao insinuar que vai buscar a redução do protecionismo no comércio exterior.
A nova equipe econômica mal começou a trabalhar. No entanto, anunciou ou já aprovou algumas medidas relevantes, as quais por ora avalizam as boas intenções de conter o deficit público, eliminar intervenções indevidas do governo e promover o aumento da eficiência. É um bom começo.
0 comentário
Ibovespa cai pressionado por Vale enquanto mercado aguarda pacote fiscal
Agricultores bloqueiam acesso ao porto de Bordeaux para elevar pressão sobre governo francês
Dólar tem leve alta na abertura em meio à escalada de tensões entre Ucrânia e Rússia
China anuncia medidas para impulsionar comércio em meio a preocupações com tarifas de Trump
Expectativa é de que redação do pacote fiscal seja finalizada nesta semana, diz Rui Costa
Presidente do Fed de Richmond diz que EUA estão mais vulneráveis a choques de inflação, informa FT