FOLHA: Em posse, Alckmin ensaia discurso para 2018 contra o PT
Visto como pré-candidato à Presidência em 2018 pelos principais aliados, o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fez de seu discurso de posse nesta quinta-feira (1º) uma prévia do roteiro que pretende adotar para fazer oposição ao PT.
A fala, de cerca de 25 minutos, abordou de maneira dura, mas indireta, diversos temas há anos explorados pelos petistas para fustigar os tucanos, como a suposta insensibilidade social.
Reiteradas vezes, Alckmin definiu o povo paulista como uma "síntese" do Brasil e ressaltou que o Estado tem rejeitado reiteradamente a "ilusão do populismo fácil".
Ao assumir seu quarto mandato --o que dará ao PSDB 24 anos no governo-- disse ver a reeleição como missão e "não como prêmio".
"Os paulistas nos elegeram para que façamos a melhor gestão da história", disse. Para isso, defendeu "enfrentar a realidade" e fugir do que chamou de "falsos dilemas".
Numa referência ao PT e ao discurso adotado pelo partido da presidente Dilma Rousseff na última eleição, afirmou que "não é preciso fraudar a boa fé do povo brasileiro para fazer justiça social".
"Não há combate à pobreza sem uma forte ação do Estado. Uma ação que alavanque o potencial dos indivíduos e faça com que exerçam suas cidadanias sem a pretensão de doutriná-los ou tutelá-los", afirmou.
"Para nós, as políticas que servem para combater a pobreza devem servir para libertar os homens, não para fazer deles objetos de uma nova servidão", disse. A fala é uma versão polida da crítica de que o PT usa o Bolsa Família como arma eleitoral.
Diferentemente de 2011, quando disse em seu discurso que gostaria de ter as melhores relações possíveis coma presidente Dilma, Alckmin não citou a petista nem o partido adversário neste ano, e insinuou que o PT mancha a imagem dos rivais para turvar a visão do eleitor.
"Esse Brasil, que está no DNA de São Paulo, aprovou mais uma vez um modo de entender a política. De enxergar os desafios com clareza (...), enfrentando a realidade e fugindo dos falsos dilemas. O falso dilema, por exemplo, do Estado mínimo em oposição ao Estado intervencionista", argumentou.
"Defendemos e praticamos o Estado necessário", sustentou, para depois apresentar também como "falso dilema" a oposição do "paternalismo que sufoca" ao "liberalismo extremo e insensível".
"Não nos enganemos. Vivemos em um país injusto, fruto de fatores históricos e vícios renitentes", afirmou para, em seguida, arrematar: "O Brasil não precisa nem de mais nem de menos confronto com o Estado. Precisa é livrar-se da máquina corrupta que insiste em sequestrá-lo".
De forma lateral, Alckmin abordou a crise hídrica, principal problema de sua administração. Segundo ele, a "solidariedade" da população no enfrentamento da falta de água "comprova que a união é a força de São Paulo".
Por fim, disse que será preciso unir a oposição e o governo federal em torno de uma agenda de reformas para não "perder" o ano de 2015.
Durante o discurso, Alckmin cometeu uma gafe. Ao falar sobre os "falsos dilemas", enganou-se na leitura do texto e disse: "Defendemos e praticamos o falso dilema do paternalismo".
Ao se dar conta do que havia dito, fez uma pausa, mas preferiu seguir adiante, sem corrigir o equívoco.
Oposição diz que Dilma é 'escapista' ao falar de estatal
Presidente afirma que defenderá Petrobras de 'inimigos externos' e é criticada
Para PSDB e DEM, discurso da petista foi 'sem substância' e contou com promessas 'pouco confiáveis'
DE SÃO PAULO
O discurso feito pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) em sua cerimônia de posse no Congresso Nacional foi criticado como "pouco confiável" e "sem substância" por lideranças de oposição ao governo federal.
Segundo elas, ao dizer que defenderá a Petrobras de "predadores internos e de inimigos externos", a petista adotou um discurso "escapista", sem reconhecer que sua administração tem também responsabilidade pelo escândalo na empresa estatal.
"A frase é demagógica, da boca para fora. Não existem inimigos internos ou externos da Petrobras, mas corruptos indicados pelo PT", criticou o presidente nacional do DEM, Agripino Maia. "Dá um tom de insinceridade ao discurso dela", acrescentou.
Para o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, os verdadeiros inimigos da empresa estatal são a presidente e o seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Não há inimigo externo. Não vejo nenhuma potência externa querendo prejudicar a Petrobras. Não existem piores inimigos que Dilma, Lula e a gangue", criticou.
Na avaliação do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antônio Imbassahy (BA), ao culpar "predadores internos" pelo escândalo de corrupção, a presidente "finge esquecer" que participou de decisões da empresa estatal --a petista fez parte do Conselho de Administração da empresa no governo Lula.
"Parece patológico a presidente agora falar em corrigir erros na Petrobras e reconhecer tardiamente que a empresa foi assaltada, como se não tivesse ela própria participação e responsabilidades relevantes nos últimos doze anos da empresa estatal", criticou, por meio de nota.
Para o líder tucano, a sociedade assistiu à posse de uma presidente "desacreditada", "desorientada" e "sem foco". "Nem ela mesma acredita naquilo que diz, como indicou a leitura sem entusiasmo de um discurso artificial e carente de conteúdo", criticou.
NOVO LEMA
O discurso feito pela presidente de que a área da educação será a prioridade de seu novo mandato também foi visto com ressalvas por dirigentes oposicionistas.
Na avaliação de Agripino Maia, a defesa feita pela petista é tardia e deveria ter sido encampada antes, nos últimos quatro anos.
"Por que ela não fez antes? A presidente faz uma avaliação como se tivesse assumido agora o governo federal. É um elenco de enunciados de intenção", criticou.
Para Alberto Goldman, a petista deveria ter detalhado melhor o que pretende fazer para melhorar a qualidade do ensino público no país.
"É preciso dizer como fazer e o que fazer, não basta dizer que a educação é essencial. As frases assim caem no vazio, não dão impacto, porque não têm substância. É um governo perdido", observou.
Segundo Imbassahy, o discurso de Dilma na posse é "ambíguo" e "dissonante" da realidade do país. "Quem ainda tinha esperança em um suposto governo novo certamente teve a sua definitiva frustração", afirmou.
TIROTEIO
"Dizer que vai priorizar a educação enquanto usa a pasta para composição política mostra o total descaso com educadores e alunos."
DE CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP) sobre Dilma Rousseff ter dito em seu discurso de posse que o lema do segundo mandato será "Brasil: Pátria Educadora".
Mídia na pauta
Sob a batuta de Ricardo Berzoini (Comunicações), Dilma Rousseff estuda criar uma espécie de agência reguladora para a mídia, nos moldes do que há em Portugal. O órgão seria responsável por analisar medidas administrativas, como multas ou advertências, a meios de comunicação em casos de denúncias de desvios éticos. Apesar de a escolha de Berzoini indicar disposição de tocar o projeto de regulação da mídia, o PT já admite que o resultado pode ser mais modesto que o esperado.
À francesa O ex-presidente Lula deixou o Palácio do Planalto pouco depois do discurso de Dilma no parlatório, enquanto a presidente recebia os cumprimentos dos convidados para a posse.
Só que não Luiz Alberto Figueiredo estava tão certo de que permaneceria à frente do Itamaraty que deu palestra para diplomatas segunda-feira e se comprometeu a fortalecer a carreira no novo mandato. Ele tinha recebido sinais do Planalto de que ficaria.
Feliz... Graça Foster aproveitou a cerimônia no Planalto para cumprimentar os novos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Eduardo Braga (Minas e Energia), que beijou sua mão quando a encontrou.
... Ano Novo "Vim falar com o chefe", disse a presidente da Petrobras, referindo-se a Braga e dando sinais de que fica no comando da empresa pelo menos no início do novo mandato.
Afiado Um convidado se aproximou de Levy no Congresso e brincou: "Ouvi dizer que você tem mãos de tesoura de aço, que não oxidam nunca". O titular da Fazenda não negou a fama: "É isso mesmo", respondeu, rindo.
Bis O vestido verde que Kátia Abreu trajava era um modelo do estilista Lino Villaventura que ela usou pela primeira vez há quatro anos, em sua primeira posse na Confederação Nacional da Agricultura. "É verde-cana, em homenagem à pasta", disse.
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