Mesmo com oferta de estoques públicos, preços do arroz se mantêm estáveis
Mesmo com uma oferta de 200 mil toneladas de arroz em cerca de 10 dias, neste início de 2014, por parte do governo federal, a cadeia produtiva e o mercado não se mostram intimidados pela política de liberação de estoques e os preços médios do cereal no Rio Grande do Sul se mantêm remuneradores aos produtores. O indicador de preços do arroz em casca ESALQ/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa, para o cereal comercializado à vista, em sacas de 50 quilos, alcançou na última sexta-feira, 10 de janeiro, cotação referencial de R$ 36,58, acumulando 0,36% de alta no mês. Pela cotação do dia, o valor equivale a US$ 15,47. Em dezembro, o indicador registrou aumento de 4,08% nas cotações do arroz no Rio Grande do Sul, alcançando R$ 36,45. O valor, pela cotação de 30 de dezembro de 2013, também equivalia a US$ 15,47.
A valorização do dólar – que chegou a casa de R$ 2,40 = US$ 1,00 – na última semana, tem sido fundamental para fortalecer os preços internos. Também contam neste sentido os baixos estoques das indústrias, a comercialização bastante limitada por parte dos arrozeiros que ainda dispõem de algum cereal em seus armazéns, perdas geradas nas lavouras por doenças, fatores climáticos. Até mesmo falta de energia para a irrigação, faz prever que o aumento produtivo não será tão grande como o imaginado.
Além disso, a cadeia produtiva não está convencida dos prognósticos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de que o estoque de passagem em 28 de fevereiro, próximo, será maior do que em fevereiro de 2013 em mais de 300 mil toneladas. Isso porque a indústria está ávida pela compra de cereal, inclusive nos leilões, mesmo no pico da entressafra, o estoque remanescente na mão dos produtores é muito baixo e o próprio estoque regulador do governo é um dos menores na última década, principalmente pelos volumes comercializados no final de 2013 e no início de 2014.
Cada vez que a Conab oferta seus estoques, os produtores esperam um efeito imediato nos preços, mas uma reação em longo prazo pela redução do poder de intervenção do governo. A valorização do dólar acaba tornando menos competitivo o arroz do Mercosul para importação, mas facilita a venda externa do arroz brasileiro, gerando uma competição com a oferta no mercado interno e estabelecendo preços remuneradores aos arrozeiros.
No mercado livre gaúcho os preços oscilam entre R$ 35,50 em boa parte das regiões, até R$ 37,00 nos polos industriais, e R$ 41,00 no Litoral Norte quando se trata das variedades nobres e em alto percentual de inteiros. A demanda é maior do que a oferta. Os preços médios chegaram a superar a casa dos R$ 36,50 na semana que passou, mas recuaram frente à expectativa do leilão que acontecerá nesta quarta-feira, dia 14, de mais 100 mil toneladas de arroz em casca, ofertadas pelo governo federal.
Esta alta nos preços pode se manter até o final de fevereiro, quando finalmente a nova safra deve começar a entrar nos armazéns e nas indústrias (mesmo que “a depósito”). Historicamente é o que acontece, mas devemos lembrar que na safra 2012/13, isso não ocorreu. Os produtores preferiram comercializar a soja (ainda na lavoura) para fazer frente às despesas e segurar o arroz para negócios posteriores. Esta estratégia neutralizou a “superoferta” natural que ocorria no RS e em Santa Catarina entre fevereiro e abril. Vale lembrar também que, por excesso ou falta de umidade, parte das lavouras de regiões como a Zona Sul, a Campanha e a Fronteira Oeste, terão suas colheitas ligeiramente atrasadas, alongando a entressafra.
SAFRA
Os produtores de arroz que também cultivam milho e soja, especialmente na Metade Sul, tiveram como boa notícia as chuvas do último final de semana, em quase todas as regiões. A falta de chuvas e as altas temperaturas já vinham causando prejuízos às lavouras, especialmente aquelas plantadas no cedo. Segundo a Emater/RS, para a cultura do arroz as condições meteorológicas registradas nas últimas semanas têm sido benéficas. A alta luminosidade, aliada às temperaturas elevadas, favorece o desenvolvimento da cultura. Apesar do descompasso em relação aos anos anteriores, fruto dos problemas enfrentados no início do plantio, as lavouras no geral apresentam bom padrão, com emergência e desenvolvimento vegetativo dentro da normalidade. Os produtores têm aproveitado as boas condições para prosseguirem com os trabalhos de controle de invasoras e pragas, além de intensificarem a adubação nitrogenada em cobertura.
BRASIL
Na última semana a Conab divulgou seu quarto levantamento para a safra brasileira de fibras e grãos 2013/14. O estudo indica a produção de 12,35 milhões de toneladas de arroz em casca, com um acréscimo de 5,1% sobre as 11,746 milhões/t colhidas na temporada 2012/13. No terceiro levantamento, eram esperadas de 12,221 milhões. A área plantada é estimada em 2,43 milhões de hectares, frente aos 2,39 milhões/ha semeados no ciclo passado. A produtividade das lavouras é projetada em 5.080 quilos por hectare, superior em 3,4% aos 4.913 kg/ha da temporada passada.
Há reduções de área no Maranhão, Paraná, São Paulo e Goiás, pela disputa da área a ser cultivada com a soja, bastante valorizada no momento. Em contrapartida, o Mato Grosso deve ter aumento de 2% na superfície semeada pela incorporação da cultura em áreas de pastagens degradadas. No Sul, o Paraná, que ainda cultiva grão de sequeiro e sofre grande influência das importações baratas do Paraguai, reduzirá sua área em 6%. Santa Catarina, segundo maior produtor do Brasil, manterá a estabilidade no tamanho de sua lavoura por absoluta falta de áreas disponíveis, enquanto o território de semeadura no Rio Grande do Sul foi ampliado em 4,7%. O aumento da área gaúcha, que responderá por 69,1% da produção nacional, é tão significativo, que recupera os decréscimos no resto do país, reforçando a hipótese de que a área a ser cultivada nacionalmente permaneça similar à do ano passado.
MUNDO
Em dezembro de 2013, o Índice Mundial de Preços do Arroz da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura - FAO (2002-2004 = 100 ) alcançou média de 227 pontos , ligeiramente acima dos 224 pontos registrados em novembro. Grande parte desta firmeza no índice veio de cotações mais elevadas de arroz aromático, mas os preços em outros segmentos de mercado também subiram ou permaneceram estáveis.
Apesar da sua fraqueza recente, de acordo com o Índice da FAO, os preços de exportação de arroz subiram em média 1% em 2013 sobre as cotações praticadas em 2012, índice sustentado por um ganho de 21% para o arroz aromático. Em todos os outros segmentos de mercado do cereal, os preços em 2013 foram inferiores aos de 2012, segundo a FAO. O estudo completo (FAO Rice Price Update – Janeiro 2014) pode ser baixado em nossa área de downloads.
MERCADO
A Corretora Mercado, de Porto Alegre (RS), indica preços médios de R$ 36,40 para a saca de arroz em casca (50kg – 58x10) no mercado livre gaúcho, e R$ 72,00 para a saca de 60kg de grão beneficiado (sem ICMS). E indica também valorização para o canjicão, em sacas de 60 quilos, que alcançou preço de R$ 40,00 (FOB/RS). Na mesma condição, a quirera chegou a R$ 37,00. Enquanto isso, o farelo de arroz segue em estáveis R$ 390,00 a tonelada (FOB/Arroio do Meio – RS).
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