Olá, João Olivi! Muito obrigado pela sua atenção. O Notícias Agrícolas divulgou carta de Sr. Giovanni Giotti, onde relata sobre a diferença de preço de um determinado princípio ativo comercializado no Brasil e na Argentina. Pois é, triste realidade a nossa. Vivemos uma globalização ao contrário, com custos de produção locais e preços de commodities globais. Os nossos vizinhos do Mercosul fizeram seu dever de casa, tornando-se grandes competidores internacionais, exportando para o Brasil e o mundo. O Rio Grande do Sul neste contexto, talvez seja o Estado da Federação mais prejudicado, uma vez que as características edafoclimáticas do Cone Sul são semelhantes, ou seja, todos produzimos trigo, arroz, milho, linho, carnes, lã e outros cereais de clima temperado. Competimos todos pelo mesmo espaço em um mercado liberalizado para o comércio de commodities, mas engessado para a importação de insumos. Resultado: sempre perdemos, pois nossos custos são maiores. <br />Nesse contexto de grande complexidade, a frase máxima que talvez resuma as relações comerciais agrícolas do Brasil com a Argentina poderia ser esta, elaborada pelo Segundo vice-presidente de Nosso Sindicato: “a Argentina não tem produção suficiente para abastecer o Brasil, mas sim para esculhambar com nossos preços” (Carlos Alberto Bertão Marques). <br />Pelos meus cálculos, caso tivéssemos os mesmos custos dos insumos (incluindo o óleo diesel) que lhe passei, seria possível ter lucro na triticultura gaúcha, produzindo 1800 kg/ha de trigo e vendendo o a saca ao preço de R$ 15,00. <br />Outra constatação desanimadora, João Olivi, é de que a nossa agricultura (pelo menos a Gaúcha) sobrevive das tragédias alheias, ou seja, existe perspectiva de renda quando algum fator climático ou evento econômico adverso afeta o agronegócio em outro país. É difícil obter renda em condições de normalidade de mercado. Por outro lado, talvez nem isso seja verdade, pois hoje existe uma euforia sobre agroenergia (biocombustíveis) e mesmo assim, não conseguimos renda. <br />É claro que o dólar tem culpa nisso, mas caso não retirarmos as barreiras que impedem a redução do custo de produção, a agricultura será uma eterna marcha dos agoniados, para não dizer constantemente preocupados e estressados. <br />Tenho 34 anos de vida e outra constatação: este estado de coisas, para mim, não serve mais. A minha visão do futuro do agronegócio no Brasil é muito pessimista. Basta olhar o passado recente para verificar que a securitização e o PESA, soluções criadas para resolver o endividamento dos planos econômicos, já não consegue ser paga. Agora somos novamente devedores por conta de secas, altos custos, juros extorsivos e desvalorização cambial (acredite, tudo isso aconteceu comigo “concomitantemente”). <br />O que espero, hoje, de nossos dirigentes, é uma nova securitização com prazo mínimo de 20 anos e juros muito baixos. Havendo a securitização, estimo um prazo de dois anos (duas safras de soja) para que os problemas conjunturais do agronegócio, tais como custos, impostos e juros, comecem a ser solucionados. Não havendo isso, creio ser melhor abandonar a atividade, não arriscando o que ainda resta do patrimônio. Digo isso com propriedade, pois sou Engenheiro Agrônomo com Mestrado em Zootecnia pela UFRGS, MBA em Gestão Empresarial pelo curso de extensão da FGV, além de produtor rural que usa como ferramentas gerenciais princípios da qualidade total, software de gestão rural, planilhas eletrônicas de excel, internet, Google Earth Plus, GPS e outros. Também moro na propriedade, estou diariamente supervisionando o meu negócio e não tenho gastos pessoais despropositados. <br />João, honestamente e despido de qualquer petulância: se não consigo fazer meu negócio gerar renda, quem mais poderia? Devo vender o meu negócio a alguém mais competente? <br />Um grande abraço. <br />
Olá, João Olivi! Muito obrigado pela sua atenção. O Notícias Agrícolas divulgou carta de Sr. Giovanni Giotti, onde relata sobre a diferença de preço de um determinado princípio ativo comercializado no Brasil e na Argentina. Pois é, triste realidade a nossa. Vivemos uma globalização ao contrário, com custos de produção locais e preços de commodities globais. Os nossos vizinhos do Mercosul fizeram seu dever de casa, tornando-se grandes competidores internacionais, exportando para o Brasil e o mundo. O Rio Grande do Sul neste contexto, talvez seja o Estado da Federação mais prejudicado, uma vez que as características edafoclimáticas do Cone Sul são semelhantes, ou seja, todos produzimos trigo, arroz, milho, linho, carnes, lã e outros cereais de clima temperado. Competimos todos pelo mesmo espaço em um mercado liberalizado para o comércio de commodities, mas engessado para a importação de insumos. Resultado: sempre perdemos, pois nossos custos são maiores. <br />Nesse contexto de grande complexidade, a frase máxima que talvez resuma as relações comerciais agrícolas do Brasil com a Argentina poderia ser esta, elaborada pelo Segundo vice-presidente de Nosso Sindicato: “a Argentina não tem produção suficiente para abastecer o Brasil, mas sim para esculhambar com nossos preços” (Carlos Alberto Bertão Marques). <br />Pelos meus cálculos, caso tivéssemos os mesmos custos dos insumos (incluindo o óleo diesel) que lhe passei, seria possível ter lucro na triticultura gaúcha, produzindo 1800 kg/ha de trigo e vendendo o a saca ao preço de R$ 15,00. <br />Outra constatação desanimadora, João Olivi, é de que a nossa agricultura (pelo menos a Gaúcha) sobrevive das tragédias alheias, ou seja, existe perspectiva de renda quando algum fator climático ou evento econômico adverso afeta o agronegócio em outro país. É difícil obter renda em condições de normalidade de mercado. Por outro lado, talvez nem isso seja verdade, pois hoje existe uma euforia sobre agroenergia (biocombustíveis) e mesmo assim, não conseguimos renda. <br />É claro que o dólar tem culpa nisso, mas caso não retirarmos as barreiras que impedem a redução do custo de produção, a agricultura será uma eterna marcha dos agoniados, para não dizer constantemente preocupados e estressados. <br />Tenho 34 anos de vida e outra constatação: este estado de coisas, para mim, não serve mais. A minha visão do futuro do agronegócio no Brasil é muito pessimista. Basta olhar o passado recente para verificar que a securitização e o PESA, soluções criadas para resolver o endividamento dos planos econômicos, já não consegue ser paga. Agora somos novamente devedores por conta de secas, altos custos, juros extorsivos e desvalorização cambial (acredite, tudo isso aconteceu comigo “concomitantemente”). <br />O que espero, hoje, de nossos dirigentes, é uma nova securitização com prazo mínimo de 20 anos e juros muito baixos. Havendo a securitização, estimo um prazo de dois anos (duas safras de soja) para que os problemas conjunturais do agronegócio, tais como custos, impostos e juros, comecem a ser solucionados. Não havendo isso, creio ser melhor abandonar a atividade, não arriscando o que ainda resta do patrimônio. Digo isso com propriedade, pois sou Engenheiro Agrônomo com Mestrado em Zootecnia pela UFRGS, MBA em Gestão Empresarial pelo curso de extensão da FGV, além de produtor rural que usa como ferramentas gerenciais princípios da qualidade total, software de gestão rural, planilhas eletrônicas de excel, internet, Google Earth Plus, GPS e outros. Também moro na propriedade, estou diariamente supervisionando o meu negócio e não tenho gastos pessoais despropositados. <br />João, honestamente e despido de qualquer petulância: se não consigo fazer meu negócio gerar renda, quem mais poderia? Devo vender o meu negócio a alguém mais competente? <br />Um grande abraço. <br />