Fala Produtor - Mensagem

  • Nádia Vilela Ituiutaba - MG 06/02/2011 23:00

    Código Florestal

    Muito se tem falado, mas pouco se tem esclarecido.

    Sou produtora rural, temos licenciamento ambiental, fazemos plantio direto, instalamos energia solar, apesar de ter a elétrica, temos animais rastreados no SISBOV, que são exportados para a União Européia, e nossa reserva legal já está averbada em cartório. Digo isto para dar uma dimensão mais exata do que direi em seguida.

    Fico triste ao ver o quanto o produtor rural é maltratado e tratado, por alguns, como vilão neste país, apesar de produzir alimentos, que todos precisamos, ao mesmo tempo que também preserva a natureza, de uma maneira geral. Deveria ser mais bem considerado e respeitado.

    Discordo dos ambientalistas quando dizem que não protegemos nossas matas ciliares, nossas reservas, demonstrando preconceito por nós ou por nossa atividade e desinformacão. Há uns anos atrás, não havia consciência ambiental, como se tem hoje. Muitos erros foram cometidos, tanto na cidade, como no campo, mas as pessoas não tinham conhecimento disto. No campo, também houve uma mudanca na maneira de pensar, e as pessoas tem mais consciência ambiental do que no passado. Há mais e muita informacão, que chega a todos e de todos os lados, rapidamente. Hoje em dia, infelizmente, a cidade não sabe, não tem notícia do campo tanto como o campo sabe da cidade.

    Num processo que comecou nos anos 50, e no ínicio dos anos 60, a agricultura e pecuária se desenvolveram muito, se modernizaram, e cada vez mais, novas tecnologias, mais modernas, são aplicadas, aumentando a produtividade, e gerando mais empregos. A producão no campo mudou muito e, é claro, mudou também o perfil do produtor rural, seja ele pequeno, médio ou grande. Além disso, a renda do produtor caiu muito e quem não se adaptou às mudancas que se impunham, praticamente, ficou para trás ou foi expulso pela própria atividade. A ideia do fazendeiro-coronel já era, assim como a ideia do fazendeiro-jeca-tatú, descalco, com a barriga cheia de vermes, também.

    Se não havia mais matas ciliares, por erros passados, hoje o produtor rural preserva sim as margens dos rios e córregos, porque sabe muito bem da necessidade da preservacão dos mesmos, da importância da água nas nossas vidas, até na própria atividade. Hoje temos mais consciência ambiental e, assim como o pessoal das cidades, aprendemos com os erros, e não é justo que todo o ônus recaia só sobre o produtor rural, que tem feito sua parte na preservacão, ainda mais quando vemos muitos crimes ambientais serem cometidos nas cidades e pouca coisa sendo feita para evitá-los, bem como outros desastres anunciados, que poderiam ser evitados. No campo, alguns ainda continuam detonando a natureza, mas não me parece que seja a maioria dos produtores. Nota-se um preconceito contra o produtor rural, e um desconhecimento, aliás, um site ambientalista chama o projeto de alteracão de Código Florestal dos Opressores... Tá falando de que? Quem tá oprimindo quem? Por aí, vê-se a falta de respeito e consideracão, ficam querendo briga, quando as pessoas estão procurando um entendimento das partes, com este projeto.

    Discordo quando dizem que os parlamentares que apoiam estas mudancas no código fizeram terrorismo querendo aprovar “na canetada”, sem terem discutido nada. Não é verdade. Eles realizaram várias audiências públicas, em todo o país, por volta de 72, e promoveram muitos debates, por mais de ano. E os ambientalistas sabem disso, estavam também presentes. O relatório do deputado Aldo Rebelo está pronto desde junho de 2010 à espera de ser discutido. Ficou pra depois das eleicões e agora, adiado mais uma vez... E, a partir de junho de 2011, quem não estiver regular (hoje são por volta de 90%), de acordo com o código em vigor, vai sofrer multas pesadas e ficará, praticamente, impossibilitado de exercer a atividade rural. É muita gente. Isto teria um impacto muito grande na economia do país, na producão e nos precos dos alimentos. Por isso os deputados pediram urgência.

    Este debate é muito importante, não só para ambientalistas e produtores, mas para toda a sociedade, porque disto depende nosso futuro, do planeta, inclusive. Por isso mesmo, ele tem de ser sério, honesto, sem mentiras, como tenho visto, em alguns sites, dizendo, por ex, que a comissão pretende deixar de pé apenas 25% da floresta amazônica! Esta é demais! Estive na audiência pública em Uberaba, e em outros eventos na região do triângulo e no estado de SP, tenho acompanhado o trabalho destes deputados e eles não dizem isto!

    Um dos pontos polêmicos, é a questão de Mato Grosso no bioma amazônico. Pela lei, até alguns anos atrás, a reserva legal era 50% da propriedade e a área útil os outros 50%. Hoje, a reserva legal é de 80% e a área útil 20%. Os produtores têm de replantar sozinhos 30% da área onde antes produziam alimentos, que estava consolidada, e de onde tiravam sustento e renda. Além de “perderem” a área, gerando com isso desemprego e diminuicão de alimentos, têm de arcar com todos os custos, sozinhos. Na época, quando desmatou-se os 50%, não era ilegal, era lei, e portanto não é justo hoje penalizar os atuais proprietários, que muitas vezes nem foram os que desmataram, no passado. Então, eles propõem que de um lado, estes produtores não sejam punidos, o que os ambientalistas entendem como anistia aos desmatadores, e de outro lado, que se mantenham os 50% nas áreas consolidadas como produtoras de alimentos, e defendem desmatamento zero, dali pra frente. Parou aí, e que se aumente a fiscalizacão na região para evitar, e fazer cair ainda mais o indice de desmatamento até atingir a meta: zero.

    Alguns ambientalistas, infelizmente, têm passado através da mídia, uma ideia errada e alarmista do projeto relatado pelo deputado Aldo Rebelo, com o intuito de manipular a opinião pública e impedir que o projeto seja aprovado. A impressão que fica é que muitos nem sequer devem ter lido o projeto, pois deturpam o que se propõe. É uma pena que uma questão de tamanha relevância para o país, seja tratada de uma maneira, no mínimo, irresponsável.

    O relatório pretende harmonizar estas duas demandas fortes e mundiais, a producão de alimentos e a preservacão do meio ambiente. E não é verdade quando os ambientalistas dizem que o projeto não tem base científica, vários pesquisadores da Embrapa participaram, deram palestras, fundamentaram as mudancas, tecnicamente. O relatório entende que um país como o nosso, de dimensões continentais, de tamanha diversidade regional, não pode tratar um problema de uma mesma e única maneira, uma lei única, federal. É mais eficiente mesmo, ser estadual e municipal, adaptando-se a cada região, bioma, e supervisionada, controlada também pelo federal. Temos que preservar sim, mas também continuar produzindo alimentos e energias limpas. E o Brasil é muito competitivo. O que explica muita coisa.

    0