A jornada para uma cafeicultura de baixas emissões, por Alessandro Rodrigues e Oseias da Costa

Publicado em 04/06/2024 18:21

No momento em que uma sucessão de catástrofes climáticas acontecem em diferentes pontos do planeta e os principais mercados mundiais começam a demandar uma agricultura de baixas emissões, a cafeicultura brasileira tem contribuições valiosas a fazer. Segunda bebida mais consumida do mundo depois da água, o café desempenha um papel fundamental na nossa economia. Somos o maior produtor e exportador mundial, e a participação nacional ultrapassa um terço da produção global. A aplicação local de metodologias de mensuração das emissões e do sequestro de gases de efeito estufa (GEE) na cadeia do café tem gerado dados robustos e de extrema importância tanto no planejamento de ações para o cumprimento das metas climáticas brasileiras quanto como modelo para outros mais de 80 países produtores.

Embora a maior parte do café cultivado no Brasil esteja dentro do sistema de monocultura, as práticas agrícolas variam consideravelmente de acordo com a região e o nível de gestão das fazendas. Em todo o país, observa-se junto a produtores certificados a disseminação de práticas de conservação de solo, como a manutenção da cobertura vegetal de crescimento espontâneo e a semeadura de plantas para cobertura do solo no meio da rua das lavouras. Além disso, há uma tendência crescente de uso de compostos orgânicos e fertilizantes organominerais, limitação no uso de herbicidas e adoção criteriosa de estratégias de manejo integrado de pragas.

O setor saiu na frente na busca por maior sustentabilidade. Em 2003, o primeiro certificado Rainforest Alliance no Brasil, referência no monitoramento de boas práticas socioambientais, foi emitido para uma fazenda de café no cerrado mineiro. O movimento aconteceu inicialmente por uma demanda de mercado, mas a certificação é uma importante ferramenta de gestão do negócio, resultando em benefícios ao produtor, como a organização geral da propriedade, a melhoria da qualidade do local de trabalho, o progresso da gestão ambiental, além do potencial de alcançar mercados diferenciados. Hoje no Brasil, há 203 certificados ativos na atividade cafeeira, contabilizando tanto propriedades certificadas individualmente quanto certificações em grupo. 

O monitoramento dos resultados das fazendas que adotaram esse tipo de manejo tem provado que ele reduz as emissões de GEE, propiciando um sequestro adicional de carbono frente às práticas de manejo convencional comumente utilizadas, além de aumentar a regeneração do solo e a resiliência climática dos cultivos.

Diversos estudos conduzidos pelo Imaflora através do Carbon on Track para diferentes safras e regiões produtoras indicam que há um padrão de emissões para a cafeicultura brasileira, sendo o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos principalmente a uréia, a principal fonte de emissão de GEE, devido à liberação de óxido nitroso (N2O), substância com potencial de aquecimento global 265 vezes maior do que o carbono. Outras fontes de alta emissão de GEE na atividade são o uso de corretivos de solo (calcário), combustíveis e energia. 

Medidas simples, como a substituição da ureia por nitrato ou sulfato de amônio ou o emprego de fertilizantes orgânicos e organominerais, mitigam o problema. Melhorias na eficiência operacional de maquinários agrícolas, manutenção do solo vegetado na maior parte do ano e utilização de placas fotovoltaicas para a geração de energia elétrica também são aliados importantes para a redução das emissões e aumento da captura de carbono da atmosfera.  

 Na literatura sobre o tema, poucos estudos abordam as fontes específicas de emissão e remoção de GEE, o que dificulta o uso desses dados e desestimula o reconhecimento do impacto positivo das boas práticas agrícolas e a disseminação desse modelo. Mas o fato é que vive-se uma emergência climática e é preciso caminhar rapidamente para práticas cuja disseminação contribuam para frear o aquecimento global. 

*Alessandro Rodrigues e Oseias da Costa, respectivamente, gerente e coordenador de Projetos e Serviços ESG do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)

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Fonte:
Imaflora

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