Safra 2024 de café: hora de colher os resultados positivos do árduo trabalho do cafeicultor, Por Luis Guilherme Bergamin
O Brasil detém o posto de maior produtor de café há mais de 150 anos, sendo, hoje, responsável por um terço da produção mundial. A qualidade do grão nacional é reconhecida e respeitada por onde passa. A partir de agora, o cafeicultor começa a colher a safra 2024 e, principalmente, os resultados do seu trabalho e o cuidado com o cafezal, que são muitos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), considerando-se o histórico de produção, deverá se confirmar um ano de bienalidade positiva, com projeção de 58.082,2 mil sacas de café beneficiado, volume 5,5% superior à produção de 2023.
Mesmo com um cenário favorável para 2024, o produtor também passou por grandes desafios antes da colheita e outros também devem aparecer durante o período, mas alguns cuidados como o manejo correto podem auxiliá-lo neste grande momento. O bom planejamento é fundamental para a obtenção dos melhores resultados. Entre os fatores que devem ser levados em conta estão a arruação ou limpeza da área, o cuidado com as instalações, a manutenção com os maquinários, a escolha do ponto adequado da colheita e a atenção ao manejo de pragas e doenças no período.
Dessa forma, alguns procedimentos não podem ser esquecidos neste momento, tais como:
Arruação ou limpeza: Caso seja necessária, a limpeza da área deve ser realizada próxima ou sob a saia do cafeeiro, evitando o excesso de remoção de terra, para que as raízes não sejam danificadas, utilizando rastelo ou rodo de madeira e arruadores ou sopradores mecânicos. Em alguns casos também são feitas aplicações de herbicidas na rebrota do mato, após ter sido cortado com roçadeira tratorizada ou manual. Também devem ser verificadas estradas e carreadores de trânsito para transporte do café; a área de carreadores de manobra dos equipamentos; pontes, mata-burros e colchetes (larguras), bem como árvores e galhos no percurso dos maquinários, que podem atrapalhar o momento da colheita.
Cuidados com as instalações: É de extrema importância que tulhas, lavadores, terreiros e secadores passem por uma rigorosa inspeção. Já os terreiros devem servir exclusivamente para secagem, pois o grão pode facilmente ser contaminado, haja vista que a cultura absorve odores estranhos com muita facilidade. É necessário que as tulhas não sejam usadas para armazenar outro produto agrícola ou insumos. Sendo assim, a lavoura deve ser bem varrida, lavada, desinfetada e cercada. Se houver necessidade, passar por uma reforma periódica para eliminar gretas e rachaduras, visando aprimorar a operação de secagem.
Maquinários e manutenção: Tratores, carretas, derriçadoras e colhedoras devem passar por revisões, momento em que os equipamentos são verificados e higienizados. É também fundamental que se faça a troca de peças desgastadas (rolamentos, polias e correias). Além disso, é essencial a troca de óleo e lubrificante do maquinário. Quando a colheita for mecanizada, é importante regular a máquina na lavoura, pois cada talhão é diferente um do outro no que diz respeito à altura de plantas, largura do pé de café e carga pendente alta, média ou baixa.
Determinando o ponto de colheita: Antes de iniciar a colheita, o cafeicultor deve avaliar o grau de maturação dos frutos em cada gleba ou talhão. Esse procedimento tem como finalidade orientar na tomada de decisão de começar ou não o processo, bem como definir com melhor precisão e clareza por qual talhão deverá iniciar. Essa etapa pode influenciar a qualidade do café, pois, é recomendado que a colheita seja realizada quando o talhão apresentar maior porcentagem de frutos cerejas, reduzindo a janela em que a proporção de frutos verdes é maior. Assim, a tendência é de obter lotes mais uniformes, com maior qualidade física e sensorial. Vale ressaltar que, quando a colheita não é realizada de forma seletiva, o momento ideal para dar início ao processo deve ser definido não apenas pelo percentual de frutos verdes, mas pela soma de outros fatores, como: volume da safra, disponibilidade de mão de obra, estrutura de secagem e, obviamente, pela qualidade da grão que se deseja obter. No início da colheita é mínimo o percentual de frutos secos e maior o de frutos verdes, sendo que, à medida que o procedimento avança, as proporções vão invertendo-se. Como referencial prático e, dependendo dos fatores citados, sugere-se uma faixa de 5% a 20% de frutos verdes para o início da colheita.
Manejo de pragas e doenças no período de colheita: A colheita do café, seja manual ou mecanizada, promove danos mecânicos nos ramos, pela retirada dos frutos, além de promover a queda de folhas e ramos. Esses danos servem de porta de entrada para patógenos causadores de doenças na cultura. Para minimização desses danos na colheita, recomenda-se que esta seja realizada em época adequada, com maior parte dos frutos em correto estádio de maturação. Além disso, podas realizadas após a colheita podem intensificar as a entrada de patógenos nas plantas, sendo que a atenção deve ser redobrada, e o controle deve ser necessário para se enviar maiores danos aos cafezais.
Doenças e pragas que merecem destaque na pré e pós-colheita
Dentre as doenças que são mais presentes durante os períodos de pré e pós-colheita, a mancha de phoma (Phoma spp.) é uma das mais importantes. Essa doença ocorre sob condições de elevada umidade, temperatura entre 17 e 22°C, ventos frios e em locais com altitude acima de 900 metros. Os danos desta doença resultam em queda das folhas, seca de porteiros e lesões no fruto que comprometem a safra em questão, bem como a safra seguinte
Outra doença que é favorecida pelos danos mecânicos é a mancha-aureolada, ocasionada pela Pseudomonas syringae pv garcae. Da mesma forma que a mancha de phoma, esta é favorecida por umidade alta, temperaturas amenas, principalmente à noite, e chuvas. Os danos comprometem a safra seguinte por ocasionar desfolha, bem como a produção da temporada presente devido às lesões nas inflorescências e nos frutos
Ainda, deve-se atentar para a necessidade da colheita dos frutos presentes no chão, já que os mesmos podem servir de substrato para a sobrevivência da broca do café na área, de uma safra para a outra.
Medidas de controle
Uma medida de controle preventivo para minimizar a disseminação de fungos e bactérias é o uso de produtos à base de cobre. Nas regiões em que as condições climáticas deverão ser mais favoráveis para as doenças, o controle químico é recomendável, empregando-se produtos à base de cobre, triazóis, estrobilurinas, ditocarbamatos, anilidas, dicarboximidas, entre outros.
Além disso, a ocorrência de ventos também é um fator que afeta o desenvolvimento da doença, sendo que em locais de ventos fortes, recomenda-se a instalação de quebra-ventos. Por fim, a adubação deve ser equilibrada pois uma planta bem nutrida tem uma maior resiliência ao ataque de pragas e doenças, mesmo sob condições climáticas favoráveis à infestação.
*Luis Guilherme Bergamin é Engenheiro Agrônomo e Gerente de Agronomia Especialidades da Corteva Agriscience
Fonte Texto:
MESQUITA, Carlos Magno de et al. Manual do café: colheita e preparo (Coffea arábica L.). Belo Horizonte: EMATER-MG. 52 p. il. 2016a.
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