Carbono e fogo, uma relação bem delicada, por Caroline Nóbrega

Publicado em 21/03/2024 09:27

Companhias, governos e produtores rurais de todo o mundo – e particularmente do Brasil – têm ampliado discussões e expectativas em torno de mercado de carbono.

Fala-se no enorme potencial financeiro dessa commodity ambiental e traça-se planos para atuar nele, seja gerando créditos a partir do sequestro de carbono e da preservação de florestas, seja atuando na parte compradora, para compensar emissão de gases de efeito estufa.

O mercado ainda não decolou, muito por conta da sua regulamentação, mas já existem planos traçados e ganhos futuros contabilizados em promessas feitas a investidores e consumidores.

Um ponto, porém, tem sido negligenciado nas discussões em torno do tema: o fogo. Incêndios florestais correspondem a uma grande parcela das emissões em todo o mundo. Em algumas regiões, chegam a ser superiores às provocadas pelo desmatamento.

Segundo um levantamento feito pelo serviço de monitoramento europeu Copernicus, os incêndios florestais na América do Sul, especialmente no Brasil, Venezuela e Bolívia provocaram, em fevereiro, níveis de emissões [CN1] de carbono que não eram vistos há mais de 20 anos na atmosfera.

Entretanto, é raro ver projetos tratando do assunto que tragam, de forma estruturada, estratégias eficientes de redução de risco de incêndios nas propriedades rurais.

Uma fazenda que faz um belo trabalho de conservação, mantém excedentes de reserva legal e pratica agricultura regenerativa, por exemplo, sonha em vender créditos de carbono. Uma vez que o faz, pode perder toda a riqueza do carbono estocado caso um foco de incêndio se espalhe e consuma matas e lavouras.

Não é diferente para empresas que formataram programas Net Zero e contam com a compensação de suas emissões. Se não pensar no fogo, podem botar tudo a perder.

Não adianta, assim, discutir carbono se não tratar da gestão do fogo, da mitigação de riscos para que eles aconteçam e do seu combate eficiente e rápido.

Da mesma forma, não dá para pensar em gestão de fogo em nível nacional sem lidar com planejamento e estratégias em nível de propriedade.

Produtores rurais modernos, que introduziram tecnologias modernas no manejo de suas lavouras ou de seus rebanhos, precisam estar alertas e incorporar também as melhores práticas de manejo do fogo nas propriedades.

Há ciência e tecnologia disponíveis nesse sentido. E profissionais, como os da Brigada Aliança, especializados em produzir planos customizados de prevenção e combate a incêndios no ambiente rural.

Isso precisa ser cada vez mais considerado, sobretudo em um mundo em que climas secos e quentes estão mais frequentes. E a tendência de que isso piore.

* Caroline Nóbrega é diretora Geral da Aliança da Terra

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Fonte:
Aliança da Terra

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