Brasil caminha para ano recorde em fertilizantes com mais oportunidades sustentáveis para os produtores
A importância do agronegócio para a economia do Brasil sempre foi significativa e, em 2023 fechou representando 24,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A fim de assegurar a continuidade desses resultados, o agronegócio vem investindo em novas tecnologias e em sustentabilidade, além claro de garantir a continuidade da oferta dos insumos. Nesse cenário, um dos mercados que tem recebido mais atenção é o de fertilizantes, que deve fechar os resultados do ano passado com uma recuperação da demanda pelo produto.
Esta recuperação na demanda é um fato bastante importante, dada a redução das entregas observada em 2022 por conta da alta nos preços resultante da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ainda assim, o Brasil conseguiu se ajustar de maneira rápida às mudanças por meio de outras rotas de escoamento ou novos fornecedores dos produtos. Mesmo que os fertilizantes minerais continuem a ter a maior fatia da participação na nutrição das plantas, ficou nítida a necessidade de ter alternativas para momentos de crise. Esse cenário de adaptações também ampliou as oportunidades de substituição do produto por fontes mais sustentáveis como os biofertilizantes e os fertilizantes especiais.
Após as sucessivas altas nos preços observadas em 2021 e 2022, os biofertilizantes voltaram para a pauta dos produtores, que já buscavam caminhar para a agricultura regenerativa. Essa e outras práticas agrícolas sustentáveis que priorizam técnicas com o foco no olhar do solo como um todo, buscando sua regeneração e conservação, vem ganhando cada vez mais espaço no setor e pode ajudar a trazer ganhos financeiros e produtivos. E aqui cabe citar que outro ponto de atenção são os defensivos biológicos, que apresentam altas taxas de crescimento no Brasil e no mundo. Esse tem sido o grande foco da maioria das empresas e, por isso, é esperado que cada vez mais produtos cheguem ao mercado.
Além disso, os biofertilizantes contribuem para o aumento da matéria orgânica no solo, melhoram a retenção de água e reduzem a pegada de carbono a partir da substituição de fertilizantes minerais, transformando resíduos em recursos valiosos. Com potencial para reduzir a necessidade de importação de fertilizantes minerais, a oferta de matéria-prima para a produção deve continuar crescente, especialmente com resíduos de produção animal e urbanos. Outra vantagem é que os dejetos dos confinamentos eram considerados passivos ambientais e precisavam ter o tratamento correto para descarte. Agora, esse esterco passa a ser insumo.
Porém, o produtor precisa ficar atento a alguns desafios como:
- Os custos logísticos de coleta e armazenamento dos resíduos orgânicos e a aplicação no solo são superiores quando comparados com fertilizante sintético, o que deve limitar o raio de coleta.
- No caso do esterco bovino, existe sazonalidade com relação à qualidade do composto nas épocas das chuvas e da seca.
- Quando o processo de decomposição da matéria orgânica não é completado, o número de microrganismos no solo que são nocivos a determinadas espécies de plantas, como o Fusarium, por exemplo, pode aumentar. Além da incidência de ervas daninhas que também pode ser maior.
Ainda assim, a oferta de matéria-prima para produção de biofertilizante deve continuar crescente nos próximos anos. O Brasil possui um grande rebanho bovino comercial e a tendência de intensificação da atividade deve manter o potencial positivo para construção de novos confinamentos. Para a proteína de frango, carne mais consumida no mercado doméstico, e tendo o Brasil como maior exportador e segundo maior produtor do mundo, as expectativas também são positivas para a disponibilidade de resíduos para uso na compostagem.
Perspectivas para este ano
Para 2024, o Rabobank prevê um bom ano para os insumos, em termos de entregas ao consumidor final, com condição de ultrapassar as 45.8 milhões de toneladas entregues em 2021, o recorde até hoje. Apesar do momento atual das principais culturas do Brasil, como a redução da safra de soja, o produtor deve continuar a investir na adubação na próxima.
Parcerias com outros setores, como o de cana-de-açúcar, também trazem oportunidades de mais investimentos como os que já vem ocorrendo para produção de biogás, principalmente no Estado de São Paulo. Na região Sul, a parceria com produtores e cooperativas de frangos e suínos também podem elevar os incentivos para novos investimentos nesse segmento.
O maior desafio para o setor será a menor margem operacional obtida na safra atual. Com isso, a tendência é que os produtores posterguem a aquisição dos produtos (como feito em 2023) até terem certeza da situação do mercado o mais próximo possível do momento do plantio. Enxergamos boas condições para o crescimento na demanda, mas com cautela por conta dos preços das commodities.
Por isso, é fundamental o produtor realizar o planejamento com bastante atenção às volatilidades internas e externas e travar os custos conforme forem atingidos os níveis esperados ao longo do ano, assim como a venda da produção. Dessa forma, quando chegar o momento do plantio, boa parte dos custos de produção já estarão definidos e praticamente pagos.
0 comentário
O início da safra de grãos 2024/25 e as ferramentas que potencializam o poder de compra do agricultor
Produção de bioinsumos on-farm, por Décio Gazzoni
Reforma Tributária: algo precisa ser feito, antes que a mesa do consumidor sinta os reflexos dos impostos
Benefícios da fenação para o bolso do produtor
Artigo/Cepea: Quebra de safra e preços baixos limitam rentabilidade na temporada 2023/24
O Biodiesel e o Biometano no Combustível do Futuro, por Arnaldo Jardim