Etanol de milho: o desafio da produção em meio às mudanças climáticas, por Cassio Rubbo
De acordo com um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, 2023 foi o ano mais quente já registrado por agências de monitoramento climático. E não haverá refresco em 2024. Ondas de calor extremo, similares às recém-presenciadas no Hemisfério Norte, deverão ocorrer nos próximos meses abaixo da Linha do Equador, trazendo implicações significativas para a agricultura e para as indústrias que trabalham com o processamento de recursos naturais.
O milho, por exemplo, é altamente sensível às condições climáticas. O calor excessivo pode prejudicar severamente o desenvolvimento das plantas e reduzir o rendimento das safras – algo preocupante para um cultivo que avança de forma impressionante no Brasil, tendo saltado de 57,4 milhões de toneladas na safra 2010/2011 para 126 milhões de toneladas em 2022/2023. Além disso, as altas temperaturas representam um desafio significativo para a produção de etanol de milho, cercada por grandes expectativas no mercado interno.
Nas usinas de etanol, altas temperaturas ambiente tendem a impactar o ponto de fermentação ideal nos tanques, que varia entre 32ºC e 34ºC. Mesmo antes do verão, a região Centro-Oeste, onde se concentra grande parte da geração de etanol de milho nacional, tem registrado recordes de temperatura, com termômetros indicando até 42º C em cidades como Cuiabá. Altas temperaturas dificultam a troca térmica e, consequentemente, a fermentação ocorre em níveis de calor mais elevados, que ativam vias metabólicas de resposta a estresse na levedura e ocasionam um aumento na produção de compostos como trealose e glicerol – um subproduto que traz complicadores ao processamento de etanol, afetando a produtividade das usinas.
Em um exemplo hipotético, em que a fermentação fique entre 37ºC e 38ºC por 7h, o rendimento industrial chega a reduzir 2%. Embora pareça ínfima à primeira vista, essa perda chega a representar milhões de litros em grandes usinas. Por exemplo, se uma planta tem a capacidade de processar 1.500 toneladas/dia, está perdendo 8.8 litros por tonelada, ou seja, 396.000 litros no mês, R$ 980.020¹ reais/mês.
A maneira de contornar esse problema na produção de biocombustíveis é o uso de leveduras de última geração. Cepas específicas, mais resistentes, são capazes de manter a eficácia da fermentação do etanol de milho mesmo em condições de calor extremo. Obtidas por meio de hibridização combinada com aprimoramento genético, essas leveduras reduzem a formação de glicerol e fornecem conversão máxima de etanol, mantendo taxas altas até o final da fermentação.
Mesmo crescendo 800% nos últimos cinco anos, a produção de etanol de milho no Brasil ainda tem um grande potencial a ser aproveitado. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a expectativa é saltar dos 4,5 bilhões de litros obtidos na safra 2022/2023 para 10 bilhões de litros em 2030. Para que a produção desse biocombustível se mantenha aquecida e as previsões auspiciosas se cumpram, mesmo diante das mudanças climáticas, o uso da biotecnologia avançada é o caminho natural.
* Cassio Rubbo é especialista em tecnologias para processamento de grãos. Atua como gerente de vendas da IFF
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