Etanol de milho: o desafio da produção em meio às mudanças climáticas, por Cassio Rubbo

Publicado em 20/02/2024 12:23

De acordo com um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, 2023 foi o ano mais quente já registrado por agências de monitoramento climático. E não haverá refresco em 2024. Ondas de calor extremo, similares às recém-presenciadas no Hemisfério Norte, deverão ocorrer nos próximos meses abaixo da Linha do Equador, trazendo implicações significativas para a agricultura e para as indústrias que trabalham com o processamento de recursos naturais.

O milho, por exemplo, é altamente sensível às condições climáticas. O calor excessivo pode prejudicar severamente o desenvolvimento das plantas e reduzir o rendimento das safras – algo preocupante para um cultivo que avança de forma impressionante no Brasil, tendo saltado de 57,4 milhões de toneladas na safra 2010/2011 para 126 milhões de toneladas em 2022/2023. Além disso, as altas temperaturas representam um desafio significativo para a produção de etanol de milho, cercada por grandes expectativas no mercado interno.

Nas usinas de etanol, altas temperaturas ambiente tendem a impactar o ponto de fermentação ideal nos tanques, que varia entre 32ºC e 34ºC. Mesmo antes do verão, a região Centro-Oeste, onde se concentra grande parte da geração de etanol de milho nacional, tem registrado recordes de temperatura, com termômetros indicando até 42º C em cidades como Cuiabá. Altas temperaturas dificultam a troca térmica e, consequentemente, a fermentação ocorre em níveis de calor mais elevados, que ativam vias metabólicas de resposta a estresse na levedura e ocasionam um aumento na produção de compostos como trealose e glicerol – um subproduto que traz complicadores ao processamento de etanol, afetando a produtividade das usinas.

Em um exemplo hipotético, em que a fermentação fique entre 37ºC e 38ºC por 7h, o rendimento industrial chega a reduzir 2%. Embora pareça ínfima à primeira vista, essa perda chega a representar milhões de litros em grandes usinas.  Por exemplo, se uma planta tem a capacidade de processar 1.500 toneladas/dia, está perdendo 8.8 litros por tonelada, ou seja, 396.000 litros no mês, R$ 980.020¹ reais/mês.

A maneira de contornar esse problema na produção de biocombustíveis é o uso de leveduras de última geração. Cepas específicas, mais resistentes, são capazes de manter a eficácia da fermentação do etanol de milho mesmo em condições de calor extremo. Obtidas por meio de hibridização combinada com aprimoramento genético, essas leveduras reduzem a formação de glicerol e fornecem conversão máxima de etanol, mantendo taxas altas até o final da fermentação.

Mesmo crescendo 800% nos últimos cinco anos, a produção de etanol de milho no Brasil ainda tem um grande potencial a ser aproveitado. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a expectativa é saltar dos 4,5 bilhões de litros obtidos na safra 2022/2023 para 10 bilhões de litros em 2030. Para que a produção desse biocombustível se mantenha aquecida e as previsões auspiciosas se cumpram, mesmo diante das mudanças climáticas, o uso da biotecnologia avançada é o caminho natural.

* Cassio Rubbo é especialista em tecnologias para processamento de grãos. Atua como gerente de vendas da IFF

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
IFF

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário