Carne cultivada: Um futuro presente, por Luismar Porto

Publicado em 30/08/2021 09:29 e atualizado em 30/08/2021 10:17

A indústria e o agronegócio têm feito avanços importantes em direção à sustentabilidade e ao bem-estar animal quando o assunto é a produção de carne em larga escala. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê que o consumo de proteína deve praticamente dobrar nas próximas três décadas, para atender uma população crescente, que deve chegar aos 10 bilhões de pessoas no início dos anos 2050. A produção de proteínas alternativas —sobretudo a proteína animal— é, portanto, parte da solução desse problema.

Um passo importante na direção do atendimento dessa demanda, tanto do ponto de vista ambiental quanto do bem-estar animal, foi dado recentemente com o anúncio da BRF de produzir no Brasil proteínas alternativas com base nas novas tecnologias de carne cultivada.

A carne cultivada pode ser entendida como um produto da expansão ou multiplicação e maturação de células animais (boi, frango, porco, ovelha, peixe etc.) em equipamentos especializados conhecidos como biorreatores, onde as condições extremas de higiene e segurança são seguidas à risca, condição fundamental para o sucesso do bioprocesso.

Uma biofazenda de carne cultivada, como é chamado o conjunto de unidades industriais que permite a conversão de uma célula em até 3.000 ou mais "bois-equivalentes" de carne fresca e saudável, pode ser projetada para a produção de centenas de toneladas de carne por ano, o equivalente a milhares de cabeças de gado ou dezenas de milhares de frangos. O que um novilho leva dois anos para produzir, ao custo de muita água, pasto e ração, os biorreatores podem fazer em três semanas, em unidades compactas que podem ser instaladas em pequenas áreas industriais. No processo de carne cultivada, a conversão de nutrientes é estritamente direcionada para a produção de agregados e construções proteicas, cuja textura, cor/aparência, sabor e aroma podem mimetizar cortes comerciais ou até para se criar alimentos completamente novos, com grande apelo nutricional, de segurança e de saúde, e com a dosagem certa de músculo, gordura, fibras e nutrientes, ao sabor do consumidor e de suas necessidades.

A carne cultivada chega não para tomar o lugar do seu delicioso churrasco ou de seu prato preferido de frango, peixe ou camarão. Ela será uma importante alternativa alimentar, que garantirá a alimentação de nossos filhos e netos, além de nos proporcionar um planeta mais sustentável e mais justo.

Os desafios são enormes, a tecnologia é revolucionária, mas os retornos serão benéficos para produtores e consumidores. E, como qualquer tecnologia disruptiva, ela terá um certo impacto, pois nos tirará de nossa zona de conforto, questionando o que é tão familiar e conhecido, desde   que o homem é homem. Ao mesmo tempo, a inovação nos enche de esperanças, que vão das possibilidades de alimentar a todos a custos acessíveis, às possibilidades de produção de carnes sem o uso intensivo de nossos recursos naturais. Bois, frangos, porcos, peixes e outros animais também agradecem.

*Prof. Luismar M. Porto, Ph.D., diretor executivo na Tubanharon Engenharia de Processos Ltda

@luismarporto

luismarporto.com

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Luismar Porto

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