A reinvenção dos produtores de hortifruti para ganhar competitividade, por Lucied Marques

Publicado em 23/06/2020 10:39
Diretora Comercial e de Negócios da Yara Brasil, com MBA em Gestão de Negócios pelo Ibmec Business School

Desde o início do isolamento social, o setor de hortifruti é um dos mais impactados, já que as medidas de restrição de circulação, o fechamento de escolas e bares, a redução das atividades em restaurantes e o acesso em feiras livres trouxeram grandes desafios para a cadeia produtiva de alimentos. Foi necessária uma movimentação extra do setor para se reinventar, organizando e somando esforços para vencer uma situação nunca vivenciada.

Nesse contexto, pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), apontam as oportunidades que produtores e consumidores encontraram no cenário de incertezas durante o período. A conexão entre eles continuou ativa por meio de aplicativos de troca de mensagens, redes sociais, serviços de entrega e até por drive-thru para a entrega dos produtos. Houve ainda a realização de parcerias entre entidades públicas e privadas para manter a cadeia com a rentabilidade próxima dos últimos anos, no mesmo período. E uma lição já foi aprendida: todos os novos modelos de negócio têm potencial para também serem praticados no futuro “pós-pandemia”.

Durante esses meses em que o setor precisou se reinventar, os meios digitais passaram a fazer parte da rotina de produtores em todo o mundo. As vendas mudaram rapidamente de formato e os consumidores gostaram da novidade. Isso é confirmado no estudo “Barometer Covid-19”, feito pela empresa inglesa Kantar (representada pelo Ibope no Brasil). No levantamento realizado em março deste ano, no grupo de alimentos e bebidas, 17% dos entrevistados disseram ter sido a primeira vez que compraram este tipo de produto on-line. A mudança foi gerada pela confiança do consumidor no sistema de compras nesse formato, com entregas em sua residência. Os comerciantes, por sua vez, identificaram uma necessidade de adotar um serviço que, até então, era considerado caro e desconfortável.

Essa nova rotina virtual passou a ser vivenciada por produtores de todos os portes que, dessa forma, puderam encurtar a cadeia e se aproximar mais de seus consumidores. As adaptações aconteceram e a questão do isolamento social caminha agora para um novo formato, com escolas e eventos ainda fechados, e restaurantes que aos poucos devem retomar as atividades, seguindo regras para receber os frequentadores, como a intensificação dos cuidados de limpeza e higiene. E esse é apenas um exemplo. Novos modelos no pós-pandemia ainda vão chegar e novas adaptações vão acontecer.

Além disso, no segundo semestre, o mercado interno ainda será impactado pela queda do poder aquisitivo em função do aumento do desemprego e ajustes na economia. Mais uma vez iremos mudar a forma de consumir e alguns alimentos mais caros podem ser temporariamente substituídos na lista de compras.

Mesmo nesse cenário, não tenho dúvidas de que o produtor vai se reinventar para continuar a vender seus produtos, enquanto na outra ponta, o consumidor encontrará saídas para comprar produtos de qualidade, priorizando sua saúde e bem-estar. O importante é que todos estejam atentos às oportunidades e aos diferentes agentes dessa cadeia de valor, para superarmos juntos os desafios que estão por vir, como a saída que todos encontraram para continuar vendendo e consumindo durante o período mais crítico dos últimos 100 anos.

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Fonte:
Lucied Marques

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