Eficiência hídrica no agronegócio, por Ana Paiva
Precisamos falar sobre água. Um recurso que sempre foi tido como inacabável, mas que há alguns anos sabemos que a realidade é outra. As mudanças climáticas somadas a séculos de indústrias fabris e o uso excessivo de recursos naturais tornaram a água um bem escasso. Em relatório divulgado em março de 2019, a ONU informa que mais de dois bilhões de pessoas não têm acesso à água potável e mais de quatro bilhões não tem acesso à esgoto sanitário.
Dado este cenário, é com grande urgência que o agronegócio, atividade que demanda grande quantidade de recursos hídricos, precisa se mover. Conhecer, desenvolver e aplicar tecnologias e inovações são essenciais neste momento, tanto para garantir a perenidade do próprio negócio, como para proteger o planeta das mudanças climáticas. Exemplos positivos existem mundo afora. Em alguns países que a água nunca foi abundante, como Israel, a irrigação por gotejamento, por exemplo, vem sendo utilizada há décadas com muito sucesso.
Originado nos anos 40, na Inglaterra, este sistema se desenvolveu e passou a ser comercializado mais amplamente na década de 60, nos Estados Unidos e principalmente em Israel, junto com o lançamento do plástico polietileno. Hoje é utilizado no cultivo de cereais, flores, algodão, hortaliças, frutas, cana-de-açúcar, vinhedos, grãos, entre outros. As soluções de plástico estão extremamente alinhadas com os objetivos do agronegócio que busca produzir mais, com menos recursos. O sistema de irrigação por gotejo é um bom exemplo disto, uma vez que promove aumento de produtividade minimizando o consumo de fertilizantes e água por tonelada produzida, algo essencial para preservação do meio ambiente.
A principal característica da irrigação por gotejamento é a economia dos recursos hídricos, pois oferece total controle da água utilizada, garantindo que será colocado no solo exatamente a quantidade de água que a planta precisa. Neste sistema utiliza-se gotejadores com tecnologia autocompensante (que controlam a vazão) e anti-sifão (que impedem a entrada de partículas do solo). Os gotejadores são inseridos em tubos de polietileno que podem ser produzidos com resinas de origem fóssil ou renovável (à base de cana-de-açúcar). Estes tubos de polietileno podem ser colocados na superfície do solo ou enterrados, dependendo da forma de manejo da cultura que será irrigada.
Irrigação da cana-de-açúcar com tubos gotejadores enterrados já é uma realidade. Na Índia, por exemplo, há canaviais que a cada dez milímetros que se irriga por gotejamento, ganha-se uma tonelada de cana e a possibilidade de plantar em todo ano aumenta o rendimento dos equipamentos de plantio. Algo impensável para o país sul-asiático antes desta tecnologia surgir. Essa tecnologia já está em operação nos canaviais brasileiros, uma usina goiana registrou um aumento de 70% em sua produção no primeiro ano de irrigação, na comparação com a produtividade obtida em área de sequeiro (área não irrigada).
Ou seja, este é apenas um dos vários exemplos que mostram que, com uso de tecnologia, o agronegócio pode aumentar de forma significativa sua produção com consumo muito otimizado de recursos naturais.
Ana Paiva é especialista em Desenvolvimento de Mercado da Plataforma Agro da Braskem
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