Saída da crise no Brasil passa pela área de infraestrutura, por Luís Artur Nogueira
A área de infraestrutura terá um papel fundamental para minimizar os impactos da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Para isso é preciso fortalecer os investimentos públicos na área para estimular novos recursos privados nacionais e internacionais, fomentar a geração empregos e renda e movimentar a economia.
Essa ponderação é do economista Luis Artur Nogueira, durante o webinar “Impactos e Perspectivas Pós Coronavírus no Setor da Construção e no Segmento de Locação de Equipamentos”, promovido ontem, quinta-feira, 16 de março, pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e a Associação Nacional dos Sindicatos e Representantes de Locadores de Máquinas, Equipamentos e Ferramentas (Analoc). O evento, transmitido pelas redes sociais, está disponível no facebook da Analoc e no facebook e Youtube da Sobratema.
Nesse sentido, o Governo tem um pacote de obras pós-crise, que engloba 70 projetos no modal de transporte – rodovias, aeroportos, ferrovias e portos -, com montante estimado de R$ 30 bilhões. Além disso, está mantido o cronograma de concessões para o segundo semestre, que inclui 44 projetos e R$ 101 bilhões em recursos.
Contudo, segundo o economista, existem desafios que precisam ser vencidos, como por exemplo, a oscilação cambial, que gera incerteza tanto para os investimentos estrangeiros como para a cadeia produtiva, que depende, em algumas situações, de importações de matéria-prima, produtos e equipamentos. “É necessário garantir a proteção cambial para que os investidores tenham maior segurança”.
Outros pontos apontados referem-se à participação do BNDES e a mudança de premissas para realizar as concessões. “Em um ambiente recessivo, não é possível prever quantos carros passarão em um pedágio”, disse Nogueira, que avaliou ainda que haverá um aumento da dívida pública em decorrência das ações que estão sendo feitas para superar o atual cenário. Porém, é imprescindível que o gasto seja feito de forma inteligente. “E o investimento em infraestrutura é uma dessas saídas porque já há uma percepção do governo que se não houver o aporte público, não terá o privado”.
Em termos de oportunidades, o destaque de Nogueira é a área de saneamento, que é parte da infraestrutura, mas também beneficia a área da saúde. “É preciso investir nessa área porque o governo, certamente, vai economizar em saúde nos anos seguintes”, ressaltou.
Setor imobiliário
De acordo com o economista, no segmento imobiliário, a crise deve ser mais curta com um impacto menor, uma vez que a construção civil está entre os setores que estão em funcionamento, em diversos estados no país. Além disso, o segmento vinha em franca recuperação nos últimos meses, em especial na área residencial, com lançamentos expressivos em 2019 que fomentaram os lançamentos neste ano.
“De fato, a incerteza paralisa novos investimentos e atrasa as obras e há uma reavaliação por parte das construtoras e incorporadoras sobre novos lançamentos. Contudo, houve o barateamento do crédito imobiliário, que pode ser vantajoso para os compradores de imóveis, bem como a expectativa de um relançamento do programa Minha Casa Minha Vida”, afirmou Nogueira.
Para Reynaldo Fraiha, presidente da Analoc, a curva da retomada tende ser mais rápida do que a crise pelo qual o Brasil acabou de passar. “Superamos um momento desafiador e já entramos em um cenário global de crise. Assim, nesse momento, nossa entidade tem um papel de extrema importância por ser um canal de comunicação com outras entidades para trazer democratizar a informação e ter maior interatividade com todas as empresas e profissionais”.
Já Afonso Mamede, presidente da Sobratema, ressaltou o papel da associação ao longo dos anos em compartilhar informações e conhecimento como forma de auxiliar no desenvolvimento do mercado, das empresas, da sociedade e das pessoas. “Vivemos na era do Big Data, com números nos auxiliando no planejamento e no controle de nossas atividades. Porém, a pandemia nos colocou em uma verdadeira montanha russa. Desse modo, como devemos agir agora, no médio ou longo prazos? Certamente, os indicadores, a informação qualificada e a avaliação de especialistas podem apontar cenários e colaborar com nossas decisões”.
Economia
Durante o webinar mediado pelo vice-presidente da Sobratema e secretário da Analoc, Eurimilson Daniel, o economista Luís Artur Nogueira também analisou os impactos no curto prazo para toda a sociedade, que inclui a disparada do dólar, a queda abrupta da bolsa de valores, o fechamento temporário de fábricas e do comércio em geral, a mudança para o home office, a redução de salários, os anúncios de demissões e o engavetamento da agenda de reformas. “Em um prazo maior, esse movimento vai afetar a arrecadação do Governo, o que implica que, em algum momento, haverá um aumento de carga tributária que será paga pela sociedade, pelos empresários e pelos consumidores”, ponderou.
Quanto às medidas do governo para o combate da crise, ele elogiou ações como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, a antecipação do 13º aos aposentados e a inclusão de novas pessoas no Bolsa Família. Contudo, criticou que socorro do governo pode não ter chegado a tempo para uma parte das pequenas e médias empresas.
O economista ainda sugeriu outras ações como o aceleramento da transmissão das verbas até a ponta final, ou seja, a pessoa física e o fornecimento de crédito sem garantias para as pequenas empresas.
Nogueira também trouxe suas estimativas para a economia brasileira neste ano. A previsão é de um encolhimento entre 2% e 6% no Produto Interno Bruto (PIB), uma inflação de 2,5% e taxa básica de juros na ordem de 3% ao ano. O desemprego saltaria dos atuais 11% para 15%. Já a balança comercial ficaria positiva, com um superávit entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões.
Para essas estimativas, o economista atribuiu quatro premissas ante ao distanciamento social vivenciando em todo o país. A primeira é que o isolamento social definido até o momento iria até o final de abril. Ao longo de maio, cada vez mais estados seguirão o exemplo de Santa Catarina, que começou a fazer de maneira seletiva e gradual a retomada das atividades. Na sequência, em junho, o retorno às aulas para evitar a perda do ano letivo dos alunos. E, por fim, em agosto, as atividades voltando a funcionar normalmente, com algum distanciamento ainda.
De acordo com o economista, de todo modo a velocidade de recuperação dependerá da capacidade do governo em salvar empresas e trabalhos. “Não haverá recuperação econômica se quebrar o setor produtivo ou os consumidores”, asseverou.
Cenário global
O cenário global também foi tema do webinar da Sobratema e Analoc, uma vez que a pandemia afetou todos os continentes. Segundo Nogueira, neste ano, o mundo vivenciaria um crescimento fraco, com média global de 2% de alta. O principal motivo seria guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Entretanto, agora o cenário tornou-se de recessão e sua intensidade vai depender de dois fatores: a capacidade de recuperação da China e o tamanho da queda dos Estados Unidos.
O consultor da Sobratema, Mario Miranda, fez sua avaliação no cenário norte-americano, destacando que a aceleração do contágio naquele país teve um efeito devastador no emprego. Em apenas trê semanas, 16 milhões de estadunidenses entraram com pedido de seguro desemprego. Ele ainda asseverou que grande parte do planeta deve trabalhar futuramente a questão de depender de uma única nação para o fornecimento de alguns tipos de produtos e/ou matérias-primas. “Nesse sentido, podem surgir oportunidades para o Brasil já em 2021, por meio de parceiras com os Estados Unidos e outros países, trazendo, dessa forma, investimentos para nós”.
No caso da Europa, Juan Manuel Altstad, vice-presidente da Sobratema, trouxe números do mercado de equipamentos, que soma 1200 fabricantes, 300 mil empregos diretos e faturamento de cerca de €40 bilhões. “Atualmente, 62% das empresas estão fechadas ou com a produção significativamente afetada, 35% com a produção pouco afetada e 3% das empresas não sofreram alterações”.
Ao se falar na retomada de atividade, Altstadt mostrou que 11% das empresas poderão perder até 10% da produção; 40% das fabricantes perderão entre 10% e 30%; 32% das companhias, mais de 30% e apenas 3% passarão a crise sem impacto. Nessa pesquisa, 15% não souberam responder.
O evento contou ainda com as participações e comentários de membros da Analoc: Paulo Melo Alves de Carvalho, diretor de Equipamentos Leves da Analoc; José Antônio Souza de Miranda Carvalho presidente do Sindileq-MG; Sebastião Rentes, Presidente do Sindileq-RJ; Alexandre Pandolfo, presidente da Abrasfe; Alexandre Forjaz, presidente da Alec; Flavio Figueiredo, presidente da Apelmat; e Flavio Cavalcanti, presidente do Sindileq-CE.
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