Educação, renda e êxodo rural, por José Zeferino Pedrozo

Publicado em 27/02/2020 17:10

O êxodo rural é um fenômeno provocado por causas múltiplas que, associadas, produzem um efeito sociológico medido pela migração das pessoas do meio rural para as zonas urbanas. Entre as causas mais recorrentes situam-se a falta de renda e a descapitalização do produtor rural que levam a um empobrecimento da família rural; o isolamento e a falta de assistência médica e hospitalar no campo; a ausência de opções de lazer, recreação e estudo; a dificuldade de acesso à educação profissionalizante, ao ensino superior e aos produtos da indústria cultural e de entretenimento.

Essa era a leitura que se fazia há algumas décadas desse quadro que, na época, refletia em certa medida o fracasso das políticas para o campo e a desatenção da sociedade brasileira para com a realidade rural.

Hodiernamente, muita coisa mudou. A migração da população rural para as cidades ainda existe, porém, em ritmo mais lento. O exemplo do grande oeste catarinense é emblemático. Pesquisa da Unoesc mostrou que os pequenos municípios perdem, anualmente, fatias de sua população que se transferem para as cidades que exercem o papel de micropolos regionais.  Além dessa migração intrarregional ocorre outra – a litoralização – ou seja, pequenos e médios municípios oestinos perdem população para as cidades litorâneas. A concentração na orla marítima não é positiva, pois cria distorções na ocupação territorial, na distribuição da força de trabalho e na agudização dos problemas de cidades turísticas.

Nos últimos 20 anos, os maciços investimentos em formação e aperfeiçoamento profissional dos produtores rurais mudaram o perfil dos agentes econômicos que atuam no setor primário da economia. Produtores se transformaram em empresários rurais; trabalhadores rurais tornaram-se recursos humanos qualificados; famílias rurais passaram a ser multifuncionais e capacitadas para multitarefas. O Sistema S – Senar, Sescoop, Sebrae – teve um papel fundamental nesse processo ao lado dos Sindicatos Rurais, das Cooperativas e das agroindústrias.

Em decorrência, as principais cadeias produtivas modernizaram-se com o emprego de dois fatores: talento e tecnologia. Os recursos humanos capacitados pelos inúmeros programas do Sistema S passaram a empregar técnicas de gestão adequadas que levaram a plena otimização dos recursos disponíveis. Incorporaram-se as tecnologias em forma de máquinas, equipamentos, instalações, edificações agrícolas, genética, manejo, nutrição etc. Importantes cadeias produtivas como as da avicultura, suinocultura, bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, grãos etc. elevaram seus níveis de produção, produtividade e rentabilidade.

O resultado de toda essa equação chama-se renda. Com renda maior, as famílias obtêm, no campo, conforto e comodidades, acessam bens de consumo duráveis e conquistam bem-estar semelhante ou superior ao das famílias urbanas.

A opção por permanecer ou retornar ao campo está muito presente nos participantes de duas importantes linhas de ação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar): no curso de formação de técnicos em agronegócio e na assistência técnica e gerencial (ATeG). A aplicação prática e imediata dos conhecimentos adquiridos melhora os índices de desempenho dos estabelecimentos rurais – e aumenta a renda do empresário, do produtor e da família rural.

Empresários e produtores rurais que operam com eficiência suas propriedades obtêm renda – e com renda podem sustentar uma vida de qualidade. Esses não deixarão o campo. Ao contrário, atrairão novos trabalhadores, empreendedores e investidores, revitalizando o setor primário da economia. Contribuir para o sucesso das cadeias produtivas da agricultura, da pecuária e do agronegócio em geral proporciona resultados que nenhum programa social ou política pública pode oferecer – entre eles a neutralização do êxodo e da migração.

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José Zeferino Pedrozo

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2 comentários

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    O artigo mostra nas entre linhas que:

    A antiga força de trabalho humana tornou-se obsoleta. Hoje essa força é mecânica, e o fator humano é valorizado conforme seu nível de conhecimento. Ou seja, o capital humano é o intelecto.

    Quanto a capacidade em obter os bens de capital, depende de eficiência da aplicação dos conhecimentos na atividade. E, em posse de desses bens de capital, aumenta-se a produtividade e, consequentemente o bem estar.

    Vê-se que o dinheiro não é o objetivo e, sim a aplicação correta dos conhecimentos adquiridos.

    O DINHEIRO É A CONSEQUÊNCIA !!!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Rensi, 30 anos atrás consegui uma lotação de animais de corte de 5 cabeças por ha a pasto no MT, hoje vejo na internet produtores que conseguem 30 cabeças/ha com muito trabalho e auxilio de máquinas. Um desses pequenos produtores disse que consegue alimentar 60 cabeças de gado por seis meses com uma capineira de apenas 1 ha. Evidente que se alguém coloca uma máquina que pica milho, capim (à base de toneladas por hora) a competição fica desigual, mas isso não significa que os pequenos não possam concorrer com os grandes. E isso porque, para o pequeno, é mais fácil e barato inovar por não estar preso a nenhum sistema -- a não ser o rotacionado que sempre pode ser melhorado. Vi um sujeito que lucrou com leite em terras arrendadas até que comprou um sitio de 7 ha e pouco, onde tira 1.400 litros de leite por dia... contra o talento não há verba de BNDES que dê jeito.

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Pois sr José Zeferino, eu tenho uma opinião sobre isso. Primeiro, uma saveiro cabine dupla tá custando 84 mil reais, vamos supor que o caboclo consiga comprar um trem véio prá negociar na cidade...ainda há o custo do combustivel formado por impostos extorsivos dos estados ou governos em geral, tudo uma cambada de vagabundo. Vamos supor que ele consiga esses apetrechos, veiculos e combustivel...vamos para a infraestrutura que custa o olho da cara, insumos, instrumentos, ferramentas...em tudo os estados e municipios cheio de ladrões metem a mão. Agora vamos supor que o caboclo é derramado mesmo e consegue se virar com tudo isso....peraí, ainda tem as prefeituras e suas regulamentações, taxas, exigencias, abusos... Como podemos ver, no Brasil os burocratas fazem de tudo para que os brasileiros não consigam trabalhar, desde que me conheço por gente é assim...principalmente com os mais pobres. Esse é o único e gravissimo problema responsável pela miséria de milhares e porque não dizer, de milhões de brasileiros.

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